4 de outubro de 2025
Politica

Tarcísio diz que não será candidato ao Planalto, mas ele não é mais dono de seu próprio destino

Quantas vezes você já ouviu o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, dizer publicamente que pretende disputar a reeleição ao governo de São Paulo? Foi o que se deu, de novo, no início da semana, ao deixar a casa do ex-presidente Jair Bolsonaro. Também nos bastidores, vários aliados ouvem o mesmo. Ninguém acredita, porém, e as perguntas sobre o assunto continuam pipocando. E a razão é muito simples: Tarcísio não é mais dono de seu próprio destino.

Eis uma lição clássica que políticos mais antigos sempre repetem quando questionados sobre uma decisão sobre candidatura. Chega um momento em que você vai, empurrado ou não, queira ou não, no sacrifício ou não, para qualquer disputa. É exatamente o que pode se passar com Tarcísio. Por bons e maus motivos. Empurrado ou barrado pelo Centrão de um lado e por Bolsonaro de outro.

Tarcísio de Freitas ao lado de Jair Bolsonaro e dos filhos do ex-presidente, Flávio e Jair Renan
Tarcísio de Freitas ao lado de Jair Bolsonaro e dos filhos do ex-presidente, Flávio e Jair Renan

O bom motivo é que ninguém é empurrado à cabeça de chapa de uma eleição ao mais importante do País sem que tenha se tornado uma figura de alta viabilidade. Tarcísio conquistou prestígio político e passa a ideia de alguém que pode vencer, razão pela qual as figuras do centrão que orbitavam o bolsonarismo o querem na campanha. Esses grupos ao centro e na centro-direita, que até chegaram a tolerar a participação em uma gestão petista mas que sempre quiseram mais, veem no governador de São Paulo como o cara capaz de vencer.

Há, porém, a voz forte o suficiente para mexer com os destinos de Tarcísio de Freitas: o ex-presidente Jair Bolsonaro. E é por isso que aliados dizem que, se Bolsonaro pedir, Tarcísio, a contragosto, disputará a Presidência. Está expresso em reportagem de Bianca Gomes e Pedro Augusto Figueiredo publicada neste Estadão, acerca da visita de Tarcísio a Bolsonaro.

Recentemente, um aliado de Tarcísio explicitava com mais detalhes esse raciocínio. Usava como argumento a disciplina militar e o senso de que “missão dada é missão cumprida”. Dizia ele que, uma vez que Bolsonaro passasse uma missão a Tarcísio, o homem que ele inventou para a política, seja por gratidão ou pelo desafio, Tarcísio não poderia dizer não.

Hoje, o governador diz que tem interesse em disputar a reeleição. Nem poderia ser diferente. Não poderia atropelar a palavra de Bolsonaro e seus familiares, que estrilam apenas com um movimento mais dúbio do governador. Ele não está autorizado a dizer nada diferente.

Além do mais, preferir a disputa do Bandeirantes faz sentido. Tarcísio tem uma eleição considerada bastante viável em São Paulo e se manteria como um nome cotadíssimo para 2030, quando a disputa nacional tende a estar mais aberta. Na esquerda, não estará mais o único homem que ganhou três eleições nacionais, elegeu aliados outras duas vezes e que, neste século, só viu seu grupo político perder uma disputa ao Planalto quando estava preso. Por mais que enfrente desgaste e uma popularidade claudicante, Lula, candidato a reeleição, é um nome sempre difícil de ser batido.

Há também os dissabores que Tarcísio terá que enfrentar se aceitar a empreitada. Se hoje ele já enfrenta as pressões do bolsonarismo, incluindo uma parcela ainda mais radical comandada por Eduardo Bolsonaro, imagine quando ele não tiver mais o controle do Estado, em abril do ano que vem, quando terá que se desincompatibilizar. Será obrigado a rezar a cartilha da família sem qualquer questionamento, sob o risco de ser abandonado ou traído, sem nada, com o lançamento de uma candidatura com o sobrenome de Jair. Significa dizer que terá que defender a pauta radical que o bolsonarismo exige, gastando imagem e capital político, mesmo sob o risco de se tornar o cabra marcado para perder.

Mesmo sabendo de tudo isso, Tarcísio muito provavelmente precisará dizer sim se essa for a vontade de Bolsonaro. E cada vez mais parece não haver alternativa para o ex-presidente. O plano A da família, decantada a inelegibilidade de Jair, seria Eduardo. A campanha americana do deputado federal tornou essa possibilidade remota. Ele não poderá voltar ao Brasil. Será condenado e tornado inelegível. É carta fora do baralho da urna.

As ações no exterior em conspiração com Trump para salvar o pai afetaram também qualquer um com o mesmo sobrenome. De Jair a Michelle, passando por Flávio. As pesquisas mostram que a rejeição à família aumentou. Razão pela qual escolher um nome do núcleo se tornou mais difícil. A não ser que a vitória não esteja mais no horizonte.

Se Lula melhorar a ponto de se tornar um favorito mais claro, a família Bolsonaro pode escolher perder com um dos seus para tentar manter o controle da direita. Como fez Lula em 2018, ao se recusar a apoiar um nome viável de outro partido.

Se a disputa estiver aberta, como está hoje ainda, contudo, com qualquer alternativa a anistia ou ruptura por pressão externa fracassando, Bolsonaro terá que escolher quem tem mais chance de seu grupo. Apostando em um indulto, por mais polêmico e difícil que seja. Este nome é Tarcísio. E seu destino será concorrer.

 

 

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