Bolsonaro confunde aliados ao sugerir Michelle como vice de Tarcísio e também candidata ao Senado
BRASÍLIA – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sugeriu a aliados políticos que a ex-primeira-dama Michelle seja vice em uma chapa encabeçada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ao Palácio do Planalto, em 2026. Dias depois, no entanto, Bolsonaro afirmou ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que Michelle será candidata ao Senado.
O vaivém do ex-presidente tem deixado seus interlocutores atônitos. De acordo com relatos de parlamentares que estiveram com Bolsonaro, ele chegou a dizer, ainda no mês passado, que nenhum anúncio de candidatura à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ser feito antes de fevereiro do ano que vem.

É com este prazo que o próprio Tarcísio trabalha, sob o argumento de que ainda precisa fazer “entregas” importantes em São Paulo, principalmente na área de segurança pública. Além disso, antes de bater o martelo, Bolsonaro e Tarcísio – que se reuniram na segunda-feira passada, em Brasília – vão observar o cenário eleitoral. Na prática, o governador só deixará uma reeleição considerada praticamente certa em São Paulo se Lula não tiver condições de conquistar o quarto mandato.
Até agora, Bolsonaro está inclinado a apoiar a candidatura do governador à Presidência. Avalia, no entanto, que é fundamental ter alguém com o seu sobrenome ao lado de Tarcísio para que a chapa seja competitiva.
Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão – por tentativa de golpe e outros crimes –, o ex-presidente tem dito que, se o governador for mesmo o desafiante de Lula, terá de trocar o Republicanos pelo PL e percorrer o País acompanhado de “um Bolsonaro”.
Foi nesse contexto que ele citou Michelle, em conversa com amigos. Evangélica, a primeira-dama tem aparecido bem posicionada nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência.
Em entrevista dada ao jornal britânico The Daily Telegraph, Michelle disse que, durante a campanha eleitoral, vai se “levantar como uma leoa para defender os valores conservadores”. A afirmação foi feita em setembro, justamente na mesma época em que Bolsonaro mencionou o nome dela como vice.
Em conversas reservadas, logo depois, o ex-presidente reclamou da interpretação de que Michelle tem perfil para ser sua sucessora na disputa pelo Planalto.
A Valdemar Costa Neto, por exemplo, ele disse que tanto Michelle como seu filho Eduardo Bolsonaro — deputado que hoje mora nos Estados Unidos e é alvo de pedido de cassação – serão candidatos ao Senado. Ela, pelo Distrito Federal e ele, por São Paulo.
Na avaliação de Bolsonaro, é muito importante ter uma bancada forte no Senado porque, se a direita fizer a maioria das cadeiras naquela Casa, em 2026, poderá aprovar o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes. O magistrado é o relator de processos contra Bolsonaro e o próprio Eduardo.
Expoente do Centrão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) faz articulações para ser vice em uma chapa liderada por Tarcísio ao Planalto. Mas Ciro sofre resistências do PL e até de filhos de Bolsonaro, como Eduardo.
Dos EUA, onde mora, o deputado também já fez várias críticas a Tarcísio e avisou que gostaria de ser ele próprio candidato à Presidência. “Sem anistia, não haverá eleições em 2026”, escreveu ele, nesta quinta-feira, 2, nas redes sociais.