3 de outubro de 2025
Politica

Contrato de R$ 1,8 trilhão com belga previa comissão de R$ 72 bilhões para mãe ‘laranja’ de fiscal

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) teve acesso a novos documentos que levam à suspeita de que o esquema de corrupção instalado na Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado, revelado na Operação Ícaro, é muito mais amplo do que os próprios promotores haviam imaginado.

Quando a operação foi deflagrada, em 12 de agosto, as propinas foram estimadas em R$ 1 bilhão. Documentos apreendidos durante as buscas da Operação Ícaro sugerem que essa é apenas uma fração do dinheiro movimentado e que a rede de propinas pode ter alcançado patamares sem paralelo e em outras esferas da administração pública.

Um único contrato de “consultoria financeira, assessoria, representação e intermediação”, encontrado na casa do empresário e lobista Celso Éder Gonzaga de Araújo, que está preso preventivamente, alcança a cifra de R$ 1,8 trilhão.

A advogada Suzana Camargo, que representa Celso Éder, nega que ele tenha envolvimento em esquemas criminosos. A defesa de Artur Gomes não se manifestou.

O contrato em questão, assinado em março de 2022, tem como objeto a “regularização e liberação de direitos creditícios, financeiros e correções” em favor do empresário belga Tristan Jacques Jean Daniel Gillot junto ao Banco Central do Brasil, “que estejam com restrição administrativa, bloqueados”. O Estadão busca contato com o empresário.

Com a promessa de conseguir o desbloqueio do dinheiro, o lobista cobrava um percentual do valor que viesse a ser liberado, segundo a investigação, dividido com “parceiros” – “profissionais de sua confiança e relacionamento, necessários a sua consecução”.

Na lista de “parceiros” consta a professora aposentada Kimio Mizukami da Silva, mãe do ex-auditor Artur Gomes da Silva Neto, um dos fiscais da Fazenda estadual na mira da Operação Ícaro. Ela receberia uma “comissão” de R$ 72 bilhões do contrato com o empresário belga. Para um advogado, o repasse seria de 180 bilhões. Para uma holding, também R$ 180 bilhões. Outros seis parceiros receberiam entre 144 bilhões e 18 bilhões cada.

Contrato foi apreendido na casa de Celso Éder Gonzaga de Araújo na Operação Ícaro.
Contrato foi apreendido na casa de Celso Éder Gonzaga de Araújo na Operação Ícaro.

Pelo menos outros sete contratos semelhantes foram apreendidos com o lobista, mas sem valores definidos. Há apenas referências a percentuais sobre montantes ainda desconhecidos que poderiam vir a ser liberados junto ao BC.

Em um documento está escrito: “O contratante reconhece todos os trabalhos feitos por todos, dedicação de todos supra mencionados neste contrato. Estendendo este contrato e percentuais com mesmo teor e proporcionalmente aos próximos valores a serem desbloqueados pelo Banco Central do Brasil, os mesmos terão os mesmos direitos.”

O Ministério Público requisitou à Polícia Federal compartilhamento de todas as informações que tiver sobre o empresário belga.

Os promotores também apuram se há funcionários do Banco Central envolvidos no esquema. Prints que seriam do sistema interno do BC foram apreendidos com Celso Éder.

O Banco Central foi notificado para informar se as capturas de tela correspondem, de fato, a buscas nos sistemas do BC e identificar os funcionários que eventualmente acessaram as informações.

 

 

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