6 de outubro de 2025
Politica

Um artista rabisca o plenário do Superior Tribunal Militar

De terno e gravata, o artista plástico Manu Militão observava atento a cena que se formava atrás de seu cavalete com o papel cartão em branco. O Hino Nacional havia terminado, sem aplausos, e ele só teria três minutos. A advogada Verônica Sterman ficou de pé e se aproximou devagar da mesa em que estavam o presidente Lula (PT), a presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Maria Elizabeth Rocha, e o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, igualmente atentos. Militão começou a rabiscar.

Poucos centímetros atrás das cadeiras imponentes dos ministros do STM, Militão pintou, em branco e preto com carvão, o que viu: a imagem mais importante no canto esquerdo, sua protagonista de costas e um fotógrafo em campo. Nada a ver com as pinturas clássicas das cortes, em que ao centro das atenções era reservado o meio da tela. E o centro da cerimônia era Verônica Sterman, que na última terça-feira, 30, tomou posse como a segunda magistrada na Corte em 217 anos.

O artista plástico Manu Militão, no plenário do STM, durante a posse da ministra Verônica Sterman
O artista plástico Manu Militão, no plenário do STM, durante a posse da ministra Verônica Sterman

“Minhas obras não obedecem regras da arte acadêmica porque nós somos dinâmicos. Vamos desenhar, mas entendendo o que a arte faz. Nem a espiral de Fibonacci é perfeita”, disse o artista plástico à Coluna do Estadão no plenário do STM, após a cerimônia.

Detalhe da pintura de Manu Militão, da esquerda para a direita: a ministra Verônica Sterman; o procurador-geral da Justiça Militar, Clauro de Bortolli; o presidente Lula; e a presidente do STM, Maria Elizabeth Rocha
Detalhe da pintura de Manu Militão, da esquerda para a direita: a ministra Verônica Sterman; o procurador-geral da Justiça Militar, Clauro de Bortolli; o presidente Lula; e a presidente do STM, Maria Elizabeth Rocha

Assessor da presidência do STM acumula oito obras na gestão

Militão é assessor da presidência do tribunal em que fardados batendo continência e citando patentes em discursos são a regra. Ele avalia criar um centro cultural no local. Ao fim da gestão da ministra Maria Elizabeth Rocha — a primeira ministra da história do STM —, fará uma exposição na Corte com suas obras. Até o momento, pintou oito. Outras foram presenteadas, como ao ministro da Defesa, José Múcio, após uma reunião no tribunal.

Pedagogo de formação e no meio do curso de história (que admite, aos risos, não ter tempo de retomar), Militão nasceu em Mossoró (RN), onde começou a rabiscar e vender quadros aos 13 anos, incentivado pela professora de artes Marilda Rodrigues. Quando era adolescente, abandonou os estudos na Universidade de Brasília por falta de dinheiro e foi trabalhar com desenhos animados.

O artista em ação no plenário do Superior Tribunal Militar
O artista em ação no plenário do Superior Tribunal Militar

Diário artístico de uma motocicleta

Aos 59, o artista que bate ponto no STM já produziu para teatro, televisão, expôs nos Estados Unidos, morou na Europa e percorreu, de moto, 25 mil quilômetros entre Brasília e o Alasca em cem dias. Nesse percurso de 14 países, pintava o que lhe chamava a atenção, sempre centrado nas pessoas de cada região, o que depois se tornou uma exposição no Museu da República, na capital federal.

“Em tempos de mentira, de inteligência artificial, temos a possibilidade de ter uma visão de uma pessoa. E se é uma pessoa, que seja com a vertente artística”, disse Militão, satisfeito ao lado do desenho.

Obra de carvão sobre cartão do artista Manu Militão, que retratou posse no plenário do STM
Obra de carvão sobre cartão do artista Manu Militão, que retratou posse no plenário do STM

 

 

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