7 de outubro de 2025
Politica

Suspeito de ser laranja movimentou R$ 56 mil com ex-presidentes do INSS, diz Coaf

O auxiliar administrativo José Laudenor da Silva, suspeito de ser laranja no esquema de fraudes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e receber um salário de R$ 1,5 mil, movimentou R$ 56 mil com dois ex-presidentes do órgão e levantou alertas de lavagem de dinheiro por um fluxo total de R$ 1,3 milhão em um ano. Ele também ganhou R$ 4,8 mil de um assessor da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer) que arrecadou R$ 100 milhões do INSS. Os dados, obtidos pela Coluna do Estadão, foram enviados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) à CPI do INSS.

De acordo com o relatório, em 2023 Laudenor recebeu R$ 25,6 mil de José Carlos Oliveira, presidente do INSS em 2021 e 2022 e ministro da Previdência em 2022, durante o governo Bolsonaro. Entre 2021 e 2022, Laudenor repassou R$ 5,4 mil a Oliveira. Os dois são sócios em uma empresa de serviços de escritório.

Entre 2021 e 2022, Laudenor também transferiu R$ 25 mil para Leonardo Gadelha, presidente do INSS em 2016 e 2017, na gestão Temer e ex-deputado federal.

O auxiliar administrativo ainda recebeu R$ 4,8 mil em 2023 de Cícero Marcelino de Souza, apontado como operador financeiro da Conafer e investigado pela PF.

Procurados pela Coluna, Laudenor, Oliveira, Gadelha e Souza não responderam. O espaço segue aberto a eventuais manifestações.

Agência do INSS
Agência do INSS

Os períodos analisados pelo Coaf

O Coaf analisou uma conta bancária de Laudenor em dois períodos. O primeiro foi por um ano, de outubro de 2021 a outubro de 2022, com movimentações de R$ 1,2 milhão. O segundo foi no mês de janeiro de 2023, quando Laudenor movimentou R$ 161 mil. Ao todo, portanto, foram R$ 1,3 milhão entre entradas e saídas da conta, ao longo de um ano e um mês.

Os dois ex-presidentes do INSS são considerados por lei pessoas expostas politicamente (PEP), o que alertou o Coaf. O órgão ainda afirmou que as movimentações de Laudenor são incompatíveis com seu patrimônio, frisando indícios de lavagem de dinheiro.

“Movimentação elevada, de maneira habitual e bem acima de sua capacidade econômico-financeira, o que sugere utilização de conta pessoa para trânsito de recursos de terceiros e/ou de atividade não declarada”, afirmou o relatório, acrescentando: “Comunicamos pela possibilidade de configurar indícios do crime de lavagem de dinheiro ou com ele relacionar-se”.

PF: Laudenor tem salário de R$ 1,5 mil e é suspeito de ser laranja

Como mostrou o Estadão, a PF apontou que José Laudenor é um auxiliar administrativo, com salário de R$ 1,5 mil, e suspeita que ele seja um laranja no esquema criminoso. “Foram trafegados recursos com terceiros sem vínculo aparente; também, não foi verificada justificativa para a elevada movimentação, sugerindo o uso da conta para operar recursos de terceiros ou atividades não declaradas”, afirmou a corporação. As suspeitas foram citadas na CPI.

‘Laranja’ foi ‘operador indispensável à engrenagem da fraude’, diz senador

O senador Izalci Lucas (PL-DF) afirmou que Laudenor aparece nas investigações da PF como “operador indispensável à engrenagem da fraude: o laranja”. “Trata-se de um auxiliar administrativo, com renda declarada de aproximadamente R$ 1,5 mil, cuja biografia financeira se revela grotescamente incompatível com as operações que protagoniza”, completou o parlamentar nos pedidos para quebrar o sigilo bancário de Laudenor, aprovados pelo colegiado.

Na CPI, ex-presidente do INSS citou venda de álbum de figurinhas

No mês passado, o ex-presidente do INSS José Carlos Oliveira, que mudou o nome para Ahmed Mohamad Oliveira, disse que Laudenor é um apoiador político antigo que “às vezes” paga contas para ele. “São as transações domésticas. Não tem nada demais”, disse em depoimento. “Laudenor é uma pessoa que me apoia politicamente desde o início dos anos 2000”, seguiu.

“Ele (Laudenor) tem um telefone para te vender, tem um álbum de figurinha fechado para te vender, sempre tem alguma coisa para vender”, continuou Oliveira à CPI. Questionado nessa ocasião por que Laudenor havia recebido R$ 4,8 mil do assessor da Conafer, o ex-presidente do INSS respondeu: “Segundo o Laudenor, o Marcelino comprou dele um álbum de figurinhas da Copa de 2022. Um álbum completo”.

 

 

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