A estratégia dos Bolsonaros fracassou
A conversa telefônica entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, na segunda-feira, 06, encerra de vez a estratégia da família Bolsonaro de usar a tensão diplomática com os Estados Unidos como ativo político. A tentativa de condicionar o restabelecimento das relações comerciais a uma espécie de “anistia branca” — ou à redução de penas a Bolsonaro e aos demais condenados pela trama golpista e pelos atos de 8 de janeiro — naufragou de vez.
O pragmatismo comercial — que há décadas orienta as relações entre Brasil e EUA — voltou a prevalecer sobre a ideologia. O cálculo de Trump, centrado em resultados econômicos e em sua própria reeleição, não comporta mais o risco de se associar a uma liderança tóxica e juridicamente enredada como Bolsonaro. A essa altura, o presidente americano já percebeu que comprou “gato por lebre”: a narrativa de perseguição política vendida pelo bolsonarismo não convenceu o establishment americano, tampouco justificou as barreiras comerciais e as sanções impostas ao Brasil.

A retórica de confronto — incluindo o apoio de aliados de Trump à aplicação da Lei Magnitsky contra autoridades brasileiras — revelou-se um tiro no pé. Ao tentar usar o ressentimento ideológico como moeda de negociação, o bolsonarismo apenas reforçou a imagem de um país instável e com instituições frágeis, o que não condiz com a realidade. Os EUA entenderam que é mais racional retomar o caminho do ganha-ganha, com investimentos recíprocos, equilíbrio tarifário e previsibilidade diplomática.
Na reaproximação entre Trump e Lula, o que prevaleceu foi justamente o cálculo estratégico que sempre sustentou a diplomacia americana. Até Trump parece ter percebido que não tem interesse em continuar apadrinhando um condenado por atentar contra as instituições democráticas do Brasil. Para ele, Bolsonaro pode ter virado um ativo tóxico — inútil para a política externa e arriscado para a política e a economia doméstica.
A ironia é que apenas a direita não bolsonarista brasileira ainda não percebeu o tamanho desse isolamento. Ao continuar orbitando Bolsonaro, esses setores se condenam a repetir o erro da esquerda em 2018: submeter um projeto político amplo à figura de um líder politicamente inviável. Enquanto isso, EUA e Brasil retomam lentamente um caminho de normalização, em que prevalece o interesse mútuo — não o delírio conspiratório.
Ao continuar concedendo espaço ao bolsonarismo, a centro-direita terminará fortalecendo o projeto de reeleição de Lula. A única forma de se tornar competitiva e reconquistar legitimidade entre os eleitores de centro e da direita não bolsonarista em 2026 é se diferenciar claramente de Bolsonaro e de sua lógica antidemocrática e retrógrada.
A estratégia dos Bolsonaros fracassou porque partiu de uma ilusão: a de que chantagem e vitimização poderiam substituir diplomacia e racionalidade econômica. O resultado é o oposto — isolamento externo, descrédito interno e a constatação de que, até para Donald Trump, Bolsonaro já parece ser carta fora do baralho.