8 de outubro de 2025
Politica

Depois de ‘Quem matou Odete Roitman’, a pergunta é: ‘Quem do Centrão vai sair do governo Lula?’

Quem do Centrão vai sair do governo Lula? A resposta para essa pergunta é bem mais fácil do que a dúvida que atormenta o Brasil nesta temporada: “Quem matou Odete Roitman?”

No vale-tudo da política, tanto o União Brasil quanto o PP deram um ultimato para que seus filiados deixassem os cargos ocupados no primeiro escalão até o fim de setembro.

Logo depois, no entanto, o União – já conhecido nos corredores do Congresso como “Desunião Brasil” – resolveu antecipar as coisas e estabeleceu um prazo de 24 horas para o desembarque, sob pena de expulsão.

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Mas ninguém viu nenhum ministro ou diretor de empresa e banco público arrumando as malas. O titular do Turismo, Celso Sabino, até chegou a pedir demissão ao presidente Lula, mas recuou uma semana depois.

Na lista dos apadrinhados pelos dois partidos não estão apenas Sabino e o titular do Esporte, André Fufuca (PP). A joia da coroa é a Caixa Econômica Federal, presidida por Carlos Vieira, que foi indicado pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), expoente do Centrão.

Em um malabarismo retórico para contornar esse imbróglio, dirigentes da federação União Progressista – formada por União Brasil e PP – mudaram o tom do ultimato. De olho nos orçamentos de cargos federais, resolveram que só os detentores de mandato parlamentar devem deixar suas cadeiras no governo.

Logo de cara, a determinação excluiu os ministros Frederico de Siqueira Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), que foram apadrinhados pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), mas não têm mandato.

Salvam-se, ainda, indicados por Alcolumbre e por outros políticos na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), nos Correios, na Telebras e nas agências reguladoras, entre outras repartições.

Celso Sabino: elogios a Lula e plano de ser candidato ao Senado pelo Pará
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Na prática, todas as ameaças não passam de um jogo de cena, que reflete com todas as letras o que é o Centrão. Não se trata de um bloco monolítico, que fala uma só língua. Tanto é assim que a decisão – não cumprida – de entregar os cargos foi criticada, nos bastidores, por dirigentes do PSD de Gilberto Kassab e do Republicanos de Hugo Motta, o presidente da Câmara.

De qualquer forma, sempre com um pé em cada canoa, o Centrão vai dando as cartas do poder, seja qual for o governo, de direita ou de esquerda, e cobrando cada vez mais a fatura do apoio.

O racha no grupo não é de hoje, mas agora expõe a falta de acordo sobre quem será o desafiante de Lula, em 2026. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é o candidato preferido pelo Centrão, que corre atrás do aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a empreitada.

Só que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), único pré-candidato da federação ao Palácio do Planalto, tenta emplacar seu nome de qualquer jeito.

Ronaldo Caiado e Ciro Nogueira: troca de farpas por causa de Tarcísio
Ronaldo Caiado e Ciro Nogueira: troca de farpas por causa de Tarcísio

Sem papas na língua, Caiado chamou o presidente do PP, Ciro Nogueira, para a briga ao dizer que o senador, interessado em ser vice de Tarcísio, provoca uma “fissura” na federação. A turma do “deixa disso” entrou em cena: afinal, um casamento de conveniência como esse terá a maior bancada no Congresso e uma soma de fundos – eleitorais e partidários – que ultrapassa R$ 1 bilhão.

Ciro anda irritado com perguntas sobre os ataques de Caiado e a permanência de André Fufuca no governo. “De novo essa história?”, devolve ele, quando questionado sobre o assunto.

Na teoria, a reunião desta quarta-feira da cúpula do União Brasil – que vai decidir o destino de Celso Sabino no partido – pode aprovar qualquer resolução.

Na prática, porém, o Centrão não vai, de fato, sair do governo. A não ser no fim de março ou início de abril de 2026, quando aqueles que forem candidatos precisarão entregar os cargos, como exige a Lei Eleitoral.

Sabino e Fufuca querem concorrer a vagas no Senado por seus Estados – Pará e Maranhão, respectivamente. Com essa meta, fazem tudo para obter o apoio de Lula – que saiu das cordas –, mesmo sendo ameaçados de intervenção partidária nos diretórios regionais que comandam.

Até agora, tudo não passa de uma novela cheia de intrigas, desentendimentos e indefinições. Mas, ao menos nos próximos capítulos do vale-tudo televisivo, saberemos quem matou Odete Roitman.

 

 

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