10 de outubro de 2025
Politica

A direita perdeu o passo, mas não a força

A direita vive um impasse que a mantém parada diante de um governo em movimento. As lideranças conservadoras disputam espaço, esperam um posicionamento de Jair Bolsonaro e se equilibram entre projetos que, na prática, fortalecem Lula. O engavetamento da PEC da Blindagem, a promessa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a tarifa zero no transporte público e a adoção da escala 6×1 são medidas de apelo popular que ocupam o noticiário e alimentam a percepção de que o governo recuperou o controle da narrativa. Lula, que passou meses reagindo a crises, voltou a definir a pauta.

Apesar da paralisia, a direita não perdeu sua base de sustentação. As divergências internas existem, mas são administradas com cautela, com as principais lideranças evitando ser autofágicas, buscando preservar entre seus apoiadores a ideia de responsabilidade fiscal e capacidade de gestão.

Romeu Zema, Ratinho Júnior, Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado em evento bolsonarista na Paulista
Romeu Zema, Ratinho Júnior, Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado em evento bolsonarista na Paulista

As críticas entre pares se concentram em pontos menos fulcrais, como a proximidade com o centrão ou o distanciamento de pautas caras ao bolsonarismo mais radical, como a anistia geral e irrestrita. São divergências que soam como discordâncias, mas não como rupturas. Ninguém do grupo parece disposto a destruir a credibilidade dos potenciais candidatos, e isso revela que, uma vez superado o impasse, o campo conservador poderá se unificar e se reorganizar com relativa facilidade.

O governo aproveita o intervalo para se fortalecer. Mais ágil, conseguiu transformar medidas administrativas em gestos políticos. O discurso deixou de ser defensivo e passou a transmitir sensação de entrega. Cada anúncio é feito com simplicidade e direcionado a públicos específicos. Enquanto isso, a oposição se vê presa a cálculos internos e a disputas de protagonismo que desgastam, mas não derrubam.

O problema da direita é o tempo. Sem a decisão de Bolsonaro sobre os rumos que pretende seguir, o bloco segue fragmentado, testando nomes e estratégias sem assumir compromissos claros. A ausência de um comando unificador impede a costura de um projeto capaz de dialogar melhor com o centro e atrair o eleitor moderado.

Lula, por sua vez, aprendeu com o desgaste do início do mandato, simplificou a mensagem e recuperou parte da confiança perdida. Hoje sua imagem nas redes é mais competitiva e, pela primeira vez em meses, o governo disputa o debate público em vantagem.

Já a direita mantém base ampla, lideranças visíveis e influência nas redes, mas está tendo dificuldades de estabelecer um projeto que organize sua energia e de construir uma direção que defina se quer reproduzir o passado ou construir uma alternativa para o futuro.

 

 

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