12 de outubro de 2025
Politica

O evangelizador da República

Dia 12 de abril de 2026, fará 110 anos que falecia no Rio de Janeiro, em modesta pensão da rua das Laranjeiras, aquele que é considerado talvez o maior e mais eficiente evangelizador da República: Francisco Glicério. No dia 13 de abril de 2026, seu corpo foi sepultado no Cemitério da Saudade de Campinas, onde nasceu.

Quem o conheceu prodigaliza elogios. Pelágio Lobo assinala: “Devolvia-se à terra campineira o corpo de um dos maiores e mais ilustres dos seus filhos, que era ali singularmente querido, pelo devotamento com que a serviu nos seus períodos angustiosos de lutas e crises, e do flagelo da febre amarela e, principalmente, pela inalterável bonomia e simplicidade com que sempre acolheu os conhecidos, ricos ou pobres, que lhe batessem à porta ou invocassem a sua ajuda. A memória do grande morto, – é um consolo constatá-lo – não ficou sepultada no olvido e, com os anos decorridos, parece que se agiganta e se eleva sobre todo o nosso País, como uma das suas boas figuras tutelares”.

O tempo, ah! O tempo. Faz desaparecer da memória aqueles que não poderiam desaparecer dela. Restam depoimentos esparsos, em livros pouco lidos, pois a volúpia do excesso de informações obnubila as mentes, cada vez mais requisitadas para o superficial e transitório, enquanto despreza o essencial e permanente.

Resgata-se no livro “Velhas Figuras de São Paulo”, de Pelágio Lobo, algo que teve significado à época e que mereceria significar ainda hoje, na lembrança brasileira, marco inolvidável sobre esse gigante da História do Brasil.

É o que ficou chamado de “Os Cinco Mosqueteiros do Partido”, que passaram a ser chamados, com o tempo, “Os Cinco Mosqueteiros de Glicério”. Eram jovens republicanos, estudantes ou recém-formados em Direito, designados pelos chefes do Partido para trabalhos de propaganda ou de cabala. Eram encarregados de tarefas urgentes ou até arriscadas, das quais os chefes não poderiam se desincumbir. Seus nomes: Alberto Sarmento, Alfredo Pujol, Carlos de Campos, Herculano de Freitas e Júlio Mesquita. Atuaram intensa e eficazmente entre 1884 e 1889.

Eram tão sedutores em suas missões, que assustavam as hostes monárquicas e conservadoras. João Egídio, jornalista severo e jurista acatado, os chamava de “a cachorrada”, esclarecendo que os cinco e outros que os acompanhavam, só serviam para fazer barulho e espantar a caça do mato.

Glicério se divertia com esses qualificativos. E colecionava casos em que a investida dos “Mosqueteiros” foi fundamental para a vitória da República. Um desses casos envolvia um fazendeiro que dispunha de vários votos. Onde o chefe ia, a turma inteira ia atrás. Por isso era essencial convencê-lo a votar no Partido Republicano, pois viriam juntos os demais votos.

Só que o chefe do bloco obedecia cegamente à sua mulher, voluntariosa e forte, de físico avantajado e muito enérgica. Glicério convocou os mosqueteiros para a conquista do bloco. Usassem de todos os recursos. Cooptação, persuasão, convencimento, carinho ou qualquer outra forma de sedução.

Quando o grupo soube da missão, tentou escapar. A fama da mulher era conhecida em todo o Estado. Glicério insistiu e fez um sorteio. A este incumbia convencer a mulher de que sua grei deveria votar no PRP – Partido Republicano Paulista.

O resultado do assédio favoreceu Glicério. Todos os votos daquele distrito foram sufragados no candidato dele. Os adversários se surpreenderam e logo concluíram que “Glicério havia soltado a cachorrada dele…”. Quando um dos monarquistas o questionou, ele disse: “Não foi preciso soltar a cachorrada. Bastou um perdigueiro para fazer a ninhada mudar de moita…”

Não se sabe o que esse “perdigueiro” fez, para convencer a virago a alterar sua predisposição a eleger os conservadores. Mas os Mosqueteiros do Glicério funcionavam. Não falhavam. A causa do Partido estava sempre à frente de qualquer outro interesse.

Eram republicanos crédulos, confiavam na extinção do Império, acreditavam que a República sanaria qualquer espécie de problema tupiniquim. O que diriam hoje, ao verificarem como anda e como claudica a República Federativa do Brasil?

Já não há “Mosqueteiros”, inspiração saudável na literatura mundial. Há outros personagens, não tão ingênuos, perspicazes e capazes de tudo fazer em benefício da Pátria.

 

 

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