12 de outubro de 2025
Politica

Progressistas são mais ricos, menos religiosos e se isolam em temas políticos, diz estudo

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BRASÍLIA — Mais ricos, mais escolarizados e menos religiosos, os progressistas são o grupo ideológico que mais se descola dos demais em questões políticas. E esse isolamento tem ajudado a alimentar o populismo preponderante na ala mais à direita da sociedade.

É o que sugere o estudo “Populismo e progressismo no Brasil polarizado”, produzido pelo think tank More in Common em parceria com a Quaest. Os pesquisadores fizeram mais de 150 perguntas a dez mil brasileiros de todas as regiões do País para esmiuçar a opinião pública sobre temas políticos.

Apoiadores de Lula e de Bolsonaro durante as eleições de 2022
Apoiadores de Lula e de Bolsonaro durante as eleições de 2022

A pesquisa identificou seis grupos com coerência de opinião e de identidade política — que vai de encontro ao senso comum de um Brasil repartido em dois polos de apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Os dois segmentos mais numerosos, chamados de “desengajados” e “cautelosos”, representariam 54% da população brasileira e passam ao largo da polarização e não costumam se engajar tanto em questões políticas.

A divisão dos grupos segundo seu tamanho em relação à população do País é a seguinte:

  • Progressistas Militantes: 5%
  • Esquerda Tradicional: 14%
  • Desengajados: 27%
  • Cautelosos: 27%
  • Conservadores Tradicionais: 21%
  • Patriotas Indignados: 6%

Progressistas Militantes isolados

Os Progressistas Militantes aparecem como o segmento mais destoante do restante da população. Eles são definidos por serem mais escolarizados (53% com ensino superior), mais ricos (37% com renda maior que 10 mil reais), menos religiosos (41%) e mais brancos (57%).

Também é o único segmento que se define majoritariamente como progressista (78%), e a maioria tem simpatia pelos partidos de esquerda, PT (39%) e PSOL (16%).

Seu nível de engajamento é alto (71% consideram importante participar em manifestações políticas, e 69% conversam com amigos e familiares sobre política). E sua preocupação se volta sobretudo à luta contra as desigualdades e as opressões de raça e de gênero. Enquanto que para os demais segmentos valores como família e fé são preponderantes, para os Progressistas Militantes o valor primordial é a justiça social.

Os progressistas militantes não apenas destoam dos demais grupos em razão de seu perfil, mas também de sua visão de mundo. Suas respostas em geral estão bem mais à esquerda do que o grupo da esquerda tradicional, que pensa de modo similar aos grupos da “maioria invisível”. Em alguns casos, a distância da taxa de concordância da esquerda com os conservadores e patriotas é até menor do que com os progressistas.

Enquanto o nível de concordância dos outros cinco grupos com, por exemplo, a afirmação de que “menores de idade que cometem crimes devem ir para a cadeia” varia entre 70% e quase 100% — inclusive entre a esquerda tradicional —, a proporção entre os progressistas não chega a 30%.

Questionados se “os direitos humanos atrapalham o combate ao crime”, menos de 5% dos progressistas dizem concordar com a afirmação, enquanto a taxa varia entre 35% e 95% nos demais grupos.

A opinião dos progressistas sobre “escolas militares promoverem disciplina e valores morais necessários para uma educação de qualidade” também se isola, com algo próximo de 20%, enquanto a taxa varia entre mais de 50% a aproximadamente 90% nos outros.

Enquanto menos de 10% dos progressistas dizem concordar com a frase “a entrada na universidade deve ser exclusivamente por mérito e não por cotas”, a taxa de concordância dos outros grupos varia entre mais de 40% a cerca de 90%.

A confiança dos progressistas na Igreja (menos de 20% contra algo em torno de 50% para os demais) e nas Forças Armadas (menos de 20% contra cerca de 35%) também é bem menor.

Nuances na esquerda e na direita

Os pesquisadores colocam Progressistas Militantes e Esquerda Tradicional dentro de um espectro progressista, e os Conservadores Tradicionais e os Patriotas Indignados no guarda-chuva do conservadorismo. Mas há particularidades nos sub-grupos.

Pablo Ortellado, diretor da More in Common, diz que, enquanto a diferença entre os Conservadores Tradicionais e os Patriotas Indignados é de intensidade, no progressismo a pauta dita a personalidade de cada um.

“Conservadores e Patriotas são bem parecidos nas opiniões. Nos grupos focais que fizemos, eles têm discursos muito semelhantes. A diferença é que os Patriotas Indignados têm identidade mais forte, participam mais da política e se definem mais como bolsonaristas. Na esquerda tem uma diferença principal: os Progressistas Militantes são mais preocupados com questões de opressão de gênero e de raça do que a Esquerda Tradicional, que é mais preocupada com desigualdade social”, explica Ortellado.

Isolamento vira munição para o populismo na direita

Para os pesquisadores, a combinação de uma disposição populista da sociedade brasileira com um progressismo que é mais elitista (mais rico e mais escolarizado) fornece base social ao populismo cultural dos segmentos conservadores.

“Esse discurso argumenta que as elites intelectuais nas universidades, nas escolas e na cultura estão tentando impor valores progressistas a um povo que é essencialmente conservador”, diz o relatório.

O estudo define três tipos de populismo — termo que, segundo uma linha da ciência política, descreve o movimento ou a ideologia que emprega o antagonismo entre o povo puro e uma elite corrupta, de maneira geral:

  • Populismo político: antagonismo do povo com as elites políticas; aparece de maneira transversal em toda a sociedade brasileira;
  • Populismo econômico: antagonismo do povo com as elites econômicas; é mais presente nos setores de esquerda;
  • Populismo cultural: antagonismo do povo com as elites culturais e intelectuais; muito forte nos grupos de direita.

“Chama a atenção, quando a gente analisa essa estrutura, que o Progressismo Militante está isolado socialmente. Algumas de suas opiniões são muito distantes do resto da população. Eu acho que esse isolamento social, combinado com uma disposição populista no Brasil, cria um apoio social para o discurso populista cultural da direita. A direita é muito populista cultural, está se construindo politicamente com base nisso, e o populismo cultural pega (na sociedade) porque o progressismo é isolado”, diz Ortellado.

“O bolsonarismo está muito amparado na denúncia da esquerda enquanto elite. O fato de essa esquerda ter muitos traços de elite ancora, cria uma base social para esse discurso da direita e explica o sucesso do populismo cultural”, acrescentou.

Veja o perfil dos demais grupos identificados pelos pesquisadores

Esquerda tradicional: “É um segmento escolarizado (33% tem ensino superior), católico (47,5%) e mais presente no Sudeste (44%) e no interior do Nordeste (21%). Embora nós o tenhamos chamado de ‘Esquerda Tradicional’, na falta de nome melhor, esse segmento não tem identidades políticas fortes — apesar disso, metade se identifica em algum grau como petista (50%). São pouco engajados (apenas 21% conversam sobre política e 23% votou branco, nulo ou não foi votar nas eleições de 2022) e muito preocupados com as questões sociais. Diante da polarização e de um confronto político moralizado, a Esquerda Tradicional dá sinais de fadiga e risco de desmobilização”.

Desengajados: “É o segmento menos escolarizado (apenas 6% com curso superior), o mais pobre (65% têm renda menor do 5 mil reais) e o mais preto (13%). Um décimo do segmento viveu insegurança alimentar (12% não teve o que comer). É católico (47%) e evangélico (27%). É o segmento mais desengajado politicamente (30% votou branco, nulo ou não votou nas eleições de 2022 e apenas 15% consideram manifestações políticas importantes). É o segmento que tem menos identidade partidária (65% simpatiza com partido nenhum — embora 21,5% simpatizam com o PT), tem menos identidade no espectro esquerda-direita (45% não se definem como esquerda, direita ou centro) e menos identidade bolsonarista-petista (46% não se definem nem como petista, nem como bolsonarista). Apesar disso, 72% se identificam como conservadores. Preocupam-se com segurança econômica e serviços públicos de saúde e combate à pobreza. A sua desmobilização não é uma despolitização, mas um afastamento da política atual”.

Cautelosos: “Depois dos Desengajados, é o segmento menos escolarizado (apenas 11% com ensino superior) e mais pobre (55% tem renda menor do que 5 mil reais). É também o segmento mais nordestino (31%) e rural (17%) e o mais católico (49%). Assim como os Desengajados, 12% não teve o que comer. Tem um nível de engajamento intermediário (26% considera importante participar de manifestações políticas). Apresenta identidade marcada como conservador (81%) e identidades desalinhadas, de petista (45%) e de direita (40%). É o segmento que tem maior desconfiança das elites, sobretudo das elites intelectuais”.

Conservadores tradicionais: “São religiosos (apenas 17% não têm religião) e pouco mobilizados (apenas 27% conversam sobre política). Têm identidades políticas como conservadores (88%), bolsonaristas (73%) e de direita (63%), mas consideravelmente menos intensas do que as dos Patriotas. Têm muitas opiniões semelhantes às dos Patriotas no tocante à família e aos valores morais, mas são menos engajados”.

Patriotas indignados: “É um segmento escolarizado (23% com ensino superior) e religioso (é o segmento mais religioso e com maior proporção de evangélicos, 38% – apesar de 41% serem católicos). São mobilizados (49% considera importante participar de manifestações políticas) e tem identidades políticas muito fortes como conservadores (93%), de direita (81%) e bolsonaristas (70%). Entre os partidos políticos, têm mais simpatia pelo PL (37%). Se informam sobre política predominantemente pelo WhatsApp (58%) e pelo Youtube (59%). São descrentes das instituições políticas (61% não confia no Congresso e 71% não confia no STF). Como os Conservadores Tradicionais, defendem a ordem e os valores morais tradicionais”.

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