Seja palestino ou israelense, empatia por quem sofre não deveria ser opção ideológica
Hoje foi o dia de assistirmos aos últimos reféns israelenses libertados pelo grupo terrorista Hamas. Por meses, temos visto imagens da destruição de Gaza. Se há algo que a humanidade não conseguiu superar em sua longa trajetória é a existência de grupos étnicos condenados ao martírio. Seja por guerra, fome, condições naturais, a morte violenta e injusta segue presente na nossa história. A solidariedade a esses grupos deveria ser incondicional. Mas, infelizmente, persiste um hábito perverso de minimizarmos sofrimentos que não condizem com as nossas ideologias, o que revelaria que a política atravessa até mesmo a nossa opinião sobre o suplício alheio.
Militantes pró-palestina, com razão, apontavam para os crimes cometidos contra a população de Gaza. A destruição de um local com todo seu rastro de mortes, inclusive crianças. Mas, a partir do momento em que a preocupação omitia (muitas vezes de maneira até inconsciente) os prisioneiros israelenses, havia algo de desequilibrado nas balanças de empatia.

Isso vale também para quem se preocupou de verdade com o sofrimento dos reféns israelenses, mas defende tratamento duro para imigrantes ilegais ao redor do mundo. Na maioria absoluta das vezes, não são “traficantes ou estupradores” como já disse o presidente americano Donald Trump. Mas pessoas que largaram tudo o que tinham devido a conflitos como no Sudão, na Etiópia ou na Síria, em busca de uma vida menos penosa em local de cultura desconhecida. Ir embora de casa nunca é uma decisão fácil de se tomar.
No Brasil, figuras públicas que apontaram, com razão, o extermínio ocorrido em Gaza, fecharam os olhos para a nossa vizinhança. Foram milhões que deixaram a Venezuela, às vezes fugindo da fome, enquanto o ditador tinha até tratamento preferencial nos nossos palácios. Também ocorreu no caso da Ucrânia, em que um povo que sofreu uma agressão militar foi acusado de ter provocado a própria guerra, por gente que diz se indignar com a violência contra os palestinos ou mesmo a truculência direcionada aos imigrantes.
Se você é uma dessas pessoas que categoriza o sofrimento humano a partir de sua opção política, na verdade, não se preocupa para valer com ninguém. É apenas refém de uma disputa de poder que deixa um rastro de mortos e angústia em gente de todas as idades, sexos, gêneros, etnias e opções políticas.