Nana Caymmi, María Corina e o STF: defesa das mulheres por Lula é só quando convém
Nana Caymmi está no panteão das maiores cantoras da música brasileira de todos os tempos. Rivaliza com Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, entre outras grandes. Porém, não tinha a posição política, digamos, “adequada”. Tratava-se de uma bolsonarista! Meio alienada, porque, segundo amigos e parentes, nem redes sociais tinha ou seguia. Seu mundo era o da arte. Toda canção que interpretou levou para a dimensão do sublime. Sua morte não foi comentada pelo presidente Lula.
Fora os mais fanáticos admiradores do presidente Nicolás Maduro, há um certo consenso de que a Venezuela se tornou uma ditadura. Nem mesmo o conselheiro de assuntos internacionais da presidência, Celso Amorim, com seu hábito de ver as coisas apenas pelo viés da esquerda e do antiamericanismo, conseguiu atenuar a situação do país vizinho. Um regime repressivo, com seus milhões de refugiados, fraudou a eleição para se manter no poder.

A principal líder opositora, María Corina Machado, nem mesmo conseguiu concorrer às eleições. Teve os mandatos políticos cassados por 15 anos, acusada, numa história meio obscura, de ser cúmplice de um governo que nem existiu e nem participou. Vive escondida em território venezuelano.
Ela também não tem a posição política “adequada”. É de direita e, pasmem, admiradora do presidente americano Donald Trump. Talvez, por isso, o silêncio do governo brasileiro quando foi laureada com o prêmio Nobel da Paz este ano. Governo, aliás, rápido em congratular quando o prêmio vai para quem tem as posições “corretas”.
Como ocorre toda vez que é preciso escolher um novo ministro do Supremo Tribunal Federal, começam as especulações. Se o nome vai ser fiel ao presidente, ao Partido dos Trabalhadores, se vai atender ao Congresso. Como apontou a colunista Dora Kramer, da Folha de S. Paulo, parecem até ter se esquecido do principal: o tal notório saber político.
Começam também as pressões denominadas identitárias, que incluem, por óbvio, a sugestão de colocar alguma mulher na Corte. Pode até ser que aconteça, quem sabe? Mas para que o pleito seja atendido, é preciso que ela cumpra os requisitos da missão – que infelizmente passam longe do notório saber jurídico.
Porque, como comprovam os casos de María Corina e Nana Caymmi, mulheres são ignoradas, e até mesmo desprezadas, se não tiverem as posições ideológicas “adequadas” da turma que hoje comanda o Palácio do Planalto.
Ps.: Lula esteve na apresentação de Maria Bethânia, uma simpatizante política dele, dia desses.