‘Lava Jato do PCC’: ex-PM é apontado como doleiro e dono de fintech usada em lavagem de dinheiro
Preso nesta quinta-feira, 16, na segunda fase da Operação Mafiusi, o ex-policial militar Maicon Adriano Vieira Maia, de São Paulo, é apontado como doleiro e operador financeiro do Primeiro Comando da Capital (PCC).
O Estadão busca contato com a defesa.
Maicon pediu exoneração da corporação em novembro de 2023. Segundo a investigação, ele começou a operar transações de dólar-cabo quando ainda estava na PM.
O ex-policial é apontado como dono da RMD Instituição de Pagamento Ltda, registrada em Indianópolis, na Zona Sul de São Paulo.
A Polícia Federal afirma que a empresa “não só está inserida dentro do esquema de lavagem de dinheiro do tráfico internacional que está sendo investigado na Operação Mafiusi, como também vem sendo utilizada para operacionalizar a movimentação de dinheiro ilícito em larga escala”.
“Tudo indica que a RMD Instituição de Pagamento Ltda seja uma das fintechs atualmente à serviço do crime organizado”, destacou a Polícia Federal ao pedir a prisão dele.

Oficialmente, a RMD está registrada em nome de Ricardo de Moraes Daffre, mas o ex-policial seria o “gestor de fato” da empresa, embora não conste no quadro societário.
A RMD depositou R$ 225 mil na conta da Burj Motors, empresa de Willian Barile Agati, o “Concierge do PCC”, denunciado como chefe do esquema de tráfico de drogas investigado na Operação Mafiusi.
A Polícia Federal também apontou transações suspeitas da RMD com empresas ligadas a Patrícia Soriano, ex-mulher de Edmilson de Meneses, o “Grilo”, e irmã de Roberto Soriano, ambos associados ao PCC.

Os investigadores chegaram ao ex-policial a partir de mensagens encontradas no celular de Klaus Cristhian Volker, alvo de buscas na primeira fase da Operação Mafiusi. Ele também foi preso nesta quinta, 16.
Nos diálogos, os dois acertam transações, comissões, empresas de fachada e emissão de boletos e notas fiscais falsas.
A PF diz que foi montado um esquema estruturado de movimentação de dinheiro em espécie, transações de câmbio paralelo (dólar-cabo), uso sistemático de fintechs e empresas de fachada para movimentar recursos do crime.

Ao decretar as prisões da segunda fase da Mafiusi, a juíza Gabriela Hardt, da 23.ª Vara Federal de Curitiba, justificou que não havia alternativa para “interromper a atuação da organização criminosa”.
“Os indícios analisados apontam no sentido de que Maicon Adriano Vieira Maia desenvolve relevante função como doleiro e operador financeiro em esquemas de lavagem desenvolvidos por Klaus Cristhian Volker, responsável pela movimentação de grande quantidade de dinheiro em espécie proveniente do tráfico internacional de drogas”, escreveu a juíza.

A Operação Mafiusi investiga o uso do porto de Paranaguá, no Paraná, pelo PCC para escoar cocaína à Europa. Os denunciados teriam ligação com a máfia italiana ‘Ndrangheta.
A primeira denúncia do caso foi oferecida em março, mas as investigações continuam para identificar todos os envolvidos.
A segunda fase da operação, deflagrada nesta quinta, mira o núcleo financeiro do esquema.
COM A PALAVRA, OS CITADOS
A reportagem busca contato com as defesas. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).