16 de outubro de 2025
Politica

Lula não conseguirá reorganizar base do governo a essa altura e com o atual discurso. Mas ele quer?

A despeito do discurso oficial de que a demissão de aliados de deputados que votaram contra a MP do IOF tem o objetivo de reorganizar a base no Congresso, é bastante improvável que o governo consiga êxito razoável na tarefa. Além de a iniciativa vir tarde demais, ela não combina com o discurso do presidente da República que, em busca de justificar o que eventualmente não tenha conseguido fazer após mais três anos no poder, escolheu o Parlamento como grande adversário. Talvez nem faça sentido mesmo que Lula tenha uma base capaz de lhe garantir maioria, sendo razoável pensar apenas em um grupo capaz de evitar derrotas tão duras como a da última semana.

Exemplo da inadequação do discurso e da prática se deu no Rio de Janeiro nesta quarta-feira. Foi quando Lula, direcionando-se a Hugo Motta, disse que o Congresso “nunca teve a qualidade de baixo nível como tem agora”. Um impassível Motta ainda viu o presidente elogiar a população do Rio em razão das manifestações que tinham como objetivo criticar a decisão da Câmara de aprovar a PEC da Blindagem e as iniciativas pela anistia. Motta ainda foi vaiado pelos professores presentes ao ato quando chamado a discursar.

Lula ao lado de Hugo Motta, da ministra Esther Dweck e do prefeito do Rio, Eduardo Paes, em evento com professores
Lula ao lado de Hugo Motta, da ministra Esther Dweck e do prefeito do Rio, Eduardo Paes, em evento com professores

Vendo o efeito do discurso na popularidade, se pudesse escolher, Lula talvez até preferisse mesmo ter o Congresso como inimigo de suas pautas mais populares. Por outro lado, perder R$ 30 bilhões em arrecadação em ano eleitoral, como na MP do IOF, passou muito do ponto. A tentativa de punir quem votou contra e oferecer cargos a quem se comprometeu busca pelo menos manter uma coesão suficiente para tentar minimizar derrotas do tipo, ainda que não seja suficiente para formar uma base de fato que possa garantir grandes vitórias daqui até o final do governo.

Para isso serve muito mais manter a boa relação com Davi Alcolumbre e manter Arthur Lira razoavelmente por perto, pois qualquer parlamentar de baixo clero sabe que são esses os verdadeiros controladores da pauta e dos rumos do parlamento atualmente. A aliança com ambos, azeitada com um acordo sobre emendas parlamentares, seria o caminho natural para neutralizar a ofensiva de partido do Centrão para enfraquecer Lula às vésperas da eleição.

As bases para a campanha de reeleição de Lula, porém, estão dadas e o maior desafio é justamente o fato de parte expressiva da população estar insatisfeita com o Brasil que foi construído após 17 nos de PT − com 11 anos de Lula e seis Dilma –, intercalados por apenas seis de Temer e Bolsonaro. Diante de tudo o que prometeu em 2002, e da incapacidade de, na situação atual, entregar grande parte − como a volta da picanha ao cardápio do trabalhador − ter a quem culpar serve bastante. Neste caso, é o Congresso. E Lula percebeu que certas derrotas valem a pena se não tiverem impacto no orçamento. Não foi por outra razão que ele resolveu que agora vai encampar promessas difíceis de tirar do papel, como a tarifa zero no transporte e o fim da escala 6×1. Mais importante que cumprir o que promete, é narrar que foram os inimigos que impediram, reforçando uma campanha para tirá-los de lá na próxima eleição. Se o governo tivesse base, essa estratégia estaria inviabilizada.

 

 

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