21 de outubro de 2025
Politica

Uma nova chance para o combate à corrupção

É provável que, durante a sua vida, em algum momento, você tenha entrado no impasse a respeito de se manter honesto ou não. Em uma perspectiva um tanto relacionada ao custo e ao benefício que essa ou aquela opção traria, muitos tendem a adotar o discurso de que sempre foi assim, então, um desonesto a mais não faria tanta diferença.

Porém, a realidade brasileira no século XXI apresentou aos brasileiros uma nova perspectiva sobre honestidade e transparência, levando uma grande parcela da população às ruas, com o intuito de melhorar a situação do país no que diz respeito à integridade nos Poderes da República.

É bem verdade que o auge do movimento popular de ir às ruas remete ao ano de 2014. Ali, naquele ano de Copa do Mundo, pessoas protestavam não apenas contra o aumento da tarifa no transporte público, indo além, com pautas que exigiam da classe política uma atuação pautada pela ética, pela verdade, pela honestidade no trato com o patrimônio público.

A partir daquele momento, uma onda de esperança tomou conta dos brasileiros, gerando uma comoção geral no sentido de que, pela primeira vez, corruptos seriam presos e pagariam pelos seus crimes.

Nesse ponto do texto, pare por alguns minutos e tente lembrar onde você estava no ano de 2014, quais eram as notícias que tomavam conta dos jornais, quem tinha acabado de ser preso ou qual o esquema de corrupção da vez que acabara de ser desvendado.

Após 10 anos, algo mudou?

Bem, de lá até o momento, além dos grandes líderes políticos que foram presos, condenados com farto arsenal probatório, chegando a cumprir penas privativas de liberdade no regime fechado, novos escândalos foram descobertos, alguns métodos de lavar dinheiro foram aperfeiçoados e a classe política se blindou ou, ao menos, tentou se blindar.

Recentemente, o Brasil se chocou com mais um gigantesco esquema de corrupção, agora envolvendo uma fraude com estimativas na casa dos bilhões, no âmbito do INSS. Nem mesmo os idosos têm paz no Brasil.

Não satisfeita, a classe política, aprova um projeto de emenda à Constituição com o intuito de blindar-se diante de possíveis investigações, as quais apenas ocorreriam se os seus pares aprovassem. Algo inédito no período da redemocratização, gerando uma classe social completamente imune à lei.

Ainda houve uma tentativa de mudança na Lei da Ficha Limpa, que mesmo tendo aplicações erradas, como quando foi utilizada para cassar o mandato de um Deputado Federal baseando-se em sindicância e não em processo administrativo, ainda tem sua serventia, impedindo que políticos corruptos retornem à vida pública tão rapidamente após serem condenados.

E o que falar do generoso fundão eleitoral, que a cada ano eleitoral, apesar da revolta da sociedade se posicionando claramente contra tamanho desperdício de dinheiro público, continua a crescer e alimentar ainda mais a centralização do poder nas mãos, imaginem só, de condenados por corrupção.

Apesar de todo essa tentativa de trazer pontos marcantes na história da evolução da indignação da sociedade brasileira com a corrupção, ainda há uma longa jornada pela frente, a qual parece animar mais e mais pessoas a aderirem uma pauta voltada a uma vida de integridade.

O maior exemplo recente de como a integridade passou a fazer parte dos ambientes sociais vem do próprio futebol. Diante de fraudes verificadas no contexto das partidas, manipulando os resultados para favorecimento de apostadores, a Confederação Brasileira de Futebol lançou um departamento voltado para a promoção de ideias relacionadas à integridade no meio futebolístico.

Afinal, falar de ética e respeito pelo jogo limpo nunca é demais. Ao contrário do que dizem por aí, nesse caso, o demais não é veneno. Pelo contrário, quanto mais integridade e quanto mais reforçada for a ideia de um jogo justo, melhor será para o esporte e, como consequência, para a sociedade, tendo em vista o papel fundamental do esporte na formação do caráter dos adultos do amanhã.

Um outro exemplo nesse sentido vem do tênis, cada vez mais acompanhado diante da boa representação de brasileiros no esporte. Afinal, em vários momentos da partida, até mesmo quando uma bola bate na rede sem querer e cai na quadra do adversário, ao invés de celebrar o ponto conquistado, o jogo limpo exige que o oponente peça desculpas pela ação mesmo conquistando o ponto.

Talvez aí esteja a chave para uma sociedade brasileira pautada pela integridade: investir no esporte.

Quem sabe, em um futuro próximo, assim como foi no ano de 1988, os brasileiros voltem a celebrar a punição de corruptos nas novelas e deixem de torcer, como no momento atual, pelo sucesso do vilão corrupto.

A história tem dado uma nova chance ao Brasil, uma chance de não precisar de heróis no combate à corrupção, mas sim, de cada membro da sociedade fazer parte da construção de um país no qual não há quem oferece suborno porque simplesmente não há quem aceite.

Em breve, em um futuro próximo, o Brasil poderá decidir se vai seguir o caminho italiano da década de 1990, perseguindo quem ousou combater a corrupção ou se vai escrever uma nova história, punindo, com a lei e a ordem, os corruptos, aplicando penas longas e tão importante quanto a privação da liberdade, deixar todos eles assentados sobre seu dinheiro, sem poder dele fazer uso, até que venha o Estado e retire o assento.

Por fim, corruptos, como todo criminoso, merecem a chance de ressocialização, mas, se eu pudesse dar um conselho, não colocaria um corrupto de volta para cuidar do patrimônio público.

Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica.

 

 

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