22 de outubro de 2025
Politica

Justiça decreta nova prisão de Buzeira, agora por jogos de azar nas redes

Preso na Operação Narco Bet, da Polícia Federal, o influencer Buzeira é alvo de um novo mandado de prisão, agora sob suspeita de bancar ‘por inúmeras vezes’ jogos de azar nas redes sociais. A investigação aponta a suposta ligação de Buzeira com esquema de lavagem de dinheiro amealhado via comércio de rifas online, inclusive de carros usados que negociava como se fossem novos.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, a ‘promoção de jogos de azar estimula o vício, acarreta danos à saúde mental, ocasionando superendividamento de pessoas, além de trazer inúmeros prejuízos às relações familiares e laborais’.

Um aliado de Buzeira. Rudny Alan Damasceno, o ‘Rudny da Hornet’, também é acusado.

A reportagem do Estadão busca manifestação das defesas. O espaço está aberto.

A denúncia foi protocolada junto à 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores.

Bruno Alexssander Souza Silva, o Buzeira, foi preso na semana passada por ordem da Justiça Federal em Santos, litoral paulista, no âmbito da Operação Narco Bet – desdobramento da Operação Narco Vela, deflagrada em abril -, investigação sobre tráfico internacional de cocaína para a Europa.

O influencer é suspeito de lavar dinheiro do tráfico e ficar milionário via bets. A Polícia Federal aponta que pagamentos das licenças de bets de Buzeira foram articulados pelo empresário Rodrigo de Paula Morgado, o principal alvo da Operação Narco Bet, sob suspeita de agir como ‘contador do PCC’.

De acordo com os federais, Buzeira é um dos maiores destinatários de recursos ‘provenientes’ do contador. Ao todo, o influencer teria recebido R$ 19.778.343,00.

Na casa de Buzeira, na semana passada, a PF apreendeu duas pedras grandes identificadas por um certificado como esmeraldas milionárias. A polícia enviou as rochas para perícia para determinar origem e valor. Os federais também apreenderam no endereço uma McLaren 765L, avaliada em R$ 5,2 milhões.

Durante o cumprimento do mandado, câmeras de segurança registraram o influenciador pegando uma escopeta calibre 12 no armário e carregando a arma enquanto a casa era cercada pelos federais. No momento da ação, a esposa dele, que está grávida, e a filha do casal, de 4 anos, estavam no quarto e presenciaram toda a movimentação.

‘Loteria’

Na nova denúncia contra Buzeira, três promotores de Justiça destacam que o influencer, desde 21 de outubro de 2020 até junho de 2023, em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo) ‘promoveu loteria, sem autorização legal e explorou jogo de azar em local acessível ao público, notadamente por meio de redes sociais’.

Nesse período, afirma a Promotoria, Buzeira ‘ocultou e dissimulou a origem, a movimentação e a propriedade de valores provenientes de infrações penais antecedentes, notadamente promoção ilegal de loteria e exploração de jogos de azar, bem como converteu mencionados valores em ativos lícitos’.

A investigação mostra que ‘Rudny da Hornet’, o aliado de Buzeira, também promoveu o mesmo tipo de ilícito – ‘loteria de rifas’ nas redes sociais, em São Bernardo do Campo.

Segundo os promotores Flávia Flores Rigolo, Daniel Gruenwald Lepine e Yuri Fisberg, que subscrevem a acusação, Buzeira e seu parceiro ‘ocultaram e dissimularam a origem, a movimentação e a propriedade de valores provenientes de infrações penais antecedentes, notadamente promoção ilegal de loteria e exploração de jogos de azar, bem como converteram mencionados valores em ativos lícitos’.

Os promotores integram o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – braço do Ministério Público em Guarulhos. Eles acentuam que ‘restou demonstrado que diversos influenciadores digitais promovem e realizam ‘rifas’/sorteios, sem autorização dos órgãos competentes, inclusive com premiação em dinheiro.’

“Exploram jogos de azar, de diversas modalidades, em detrimento de grande número de pessoas”, segue a denúncia. “Em síntese, os influenciadores digitais, aproveitando-se do fato de possuírem milhões de seguidores nas redes sociais e, portanto, de potenciais consumidores, promovem rifas, por meio da disponibilização de links, geralmente inseridos em vídeos ou fotos de seus perfis, além de explorarem jogos de azar de elevado potencial lucrativo.”

Ainda de acordo com a acusação – documento de 50 páginas submetido à Justiça -, ‘ao clicar nos links, o usuário é redirecionado a sites especializados em sorteios, onde se inscreve e efetua transferência bancária (depósito/PIX) diretamente nas contas bancárias das pessoas físicas envolvidas, ou de pessoas jurídicas, notadamente dos criadores da rifa’.

“Os sorteios/rifas supostamente utilizam extrações da loteria federal para entrega de prêmios em dinheiro, veículos, imóveis, telefones celulares e outros bens”, afirmam os promotores. “Entretanto, não há qualquer controle ou fiscalização sobre os participantes da rifa, tampouco sobre a efetiva entrega do valor ou objeto ao ganhador.”

A denúncia pontua que ‘com a promoção de rifas, os influenciadores arrecadam somas milionárias em dinheiro, viabilizando, desta forma, a posterior lavagem de capitais’.

“Os ‘influenciadores’ agem em nome próprio (pessoas físicas), contudo também possuem empresas para branquear o dinheiro oriundo das atividades contravencionais”, afirmam os promotores. “Ainda, costumam constituir sites próprios para realização dos jogos (sorteios), e permitem ao ‘ganhador’ a opção pela entrega do produto ou do equivalente em dinheiro. Não satisfeitos, muitas vezes promovem pacotes extras (‘rifinhas’) dentro do próprio sorteio/rifa principal, gerando assim uma disputa dentro do próprio grupo de apostadores, incrementando o lucro do organizador da rifa.”

O Ministério Público sustenta que ‘a fim de alavancar o número de seguidores, é comum que os influenciadores se ‘marquem’ em postagens para aparecerem no perfil de outros influenciadores, e assim reciprocamente’.

O Ministério da Fazenda, por meio da Subsecretaria de Regulação e Concorrência, confirmou a ilegalidade da atuação dos influenciadores, afirmando que pessoas físicas não estão autorizadas a realizar sorteios, mas apenas organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP) com finalidade filantrópica, ‘o que, evidentemente, não é o caso dos autos’.

Buzeira, diz a Promotoria, ‘promoveu por inúmeras vezes rifas por meio de seus perfis públicos no Instagram: @rifasdobuzeira, @buzeira, @buzeira_oficial, dentre outros, todos com centenas de milhares e até milhões de seguidores’.

Consta do inquérito policial que o primeiro lance promovido por Buzeira sorteou uma motocicleta tipo Hornet, estipulando uma cota de R$ 40,00 para participação, com total de 1.000 cotas, e realizou o sorteio por meio do site www.rifasdobu.com.br, usualmente utilizado para tal finalidade.

“Em razão do sucesso obtido, Buzeira promoveu o sorteio de uma motocicleta Honda CB 1000, cor preta”, indica a acusação. “A postagem inicial promovendo o sorteio se deu em 21 de outubro de 2020 e o sorteio, que teve como suposto premiado Ivanil Avelino dos Santos, ocorreu em 25 de dezembro de 2020. As cotas tinham valor de R$ 50,00, com total de 1.000 cotas. Incentivado pelos elevados retornos financeiros e pela ausência de repressão penal, o denunciado seguiu nas atividades ilícitas.”

Segundo o Ministério Público, ‘extasiado pelo lucro fácil, Buzeira promoveu então a rifa de uma motocicleta BMW R1200, cor azul, iniciando as postagens de promoção da rifa no dia 6 de março de 2021, ao valor de R$ 90,00 por cota, com total de 1.000 cotas, culminando no sorteio ocorrido no dia 25 de abril de 2021’.

A Promotoria descobriu que, ao longo do período apurado, Buzeira adquiriu bens de elevado valor ‘a fim de converter valores oriundos de contravenções penais (jogos de azar e rifas) em ativos lícitos, notadamente veículos automotores’.

“(Buzeira) não possuía renda lícita que amparasse tais aquisições. O afastamento dos sigilos fiscal e bancário do denunciado, realizado no período compreendido entre 1 de janeiro de 2020 e 26 de junho de 2023, evidenciou altíssima movimentação de recursos. Os dados bancários são reveladores de intensa movimentação financeira em suas contas bancárias”, segue a acusação.

Naquele período, Buzeira teve movimentação a crédito de R$ 14,6 milhões e a débito de R$ 14,3 milhões ‘por meio de dezenas de contas bancárias diferentes de sua titularidade’

“A imensa maioria dos valores creditados se deu por meio de milhares de transferências interbancárias de pequenos valores (R$ 30, R$ 50, R$ 60 e R$ 100,00), característicos de serem oriundos de rifas ilegais. Destacam-se, ainda, as transferências recebidas por Buzeira através de plataformas de pagamento, as quais repassaram ao denunciado R$ 2,4 milhões.”

 

 

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