‘Hoje vou meter o louco’; como Buzeira enganava seguidores por venda de rifas, segundo MP
O influenciador Buzeira, suspeito de bancar jogos de azar nas redes sociais há pelo menos cinco anos, ludibriava seus seguidores para pressioná-los a comprar mais cotas de rifas ilícitas de veículos e outros bens de luxo, diz denúncia do Ministério Público de São Paulo. A investigação atesta que Bruno Alexssander, o Buzeira, mantinha diálogos com outros rifadores nos quais admitia manipular o momento dos sorteios para vender mais cotas.

O Estadão pediu manifestação da defesa. O espaço está aberto.
Nesta segunda, 20, Buzeira foi alvo de um novo mandado de prisão, acusado de promover jogos de azar nas redes sociais e também por lavagem de dinheiro. O influenciador já está preso, desde a semana passada, alvo da Operação Narco Bet – investigação da Polícia Federal sobre lavagem de dinheiro do tráfico de drogas do PCC para a Europa.
No caso das rifas, pontua a Promotoria, em mensagens trocadas em 16 de março de 2022, Buzeira afirmou que faria seguidores acreditarem que o sorteio ocorreria naquele dia, influenciando-os, de forma fraudulenta, a adquirir mais números, que variavam de R$ 40 a R$ 90.
Além de manipular prazos, aponta a Promotoria, Buzeira simulou, dentro de uma concessionária de veículos de luxo, a compra de um Porsche 911 azul, ano 2020. A encenação tinha o objetivo de fazer seu público acreditar que o carro rifado seria novinho em folha. Mas investigações do Ministério Público constataram que o veículo estava registrado em nome de um vizinho do influenciador, e que se tratava, na verdade, de um automóvel usado.
Os promotores destacam um outro diálogo, datado de março de 2022, no qual o influenciador calcula o lucro obtido em uma das rifas. Ele detalha valores e porcentuais de desconto, chegando à conclusão de que cada participante da operação embolsaria R$ 23,2 mil. Ao influenciador ‘Menor Kabrinha’, ele reforça, segundo a denúncia, o caráter comercial e recorrente das apostas ilegais supostamente promovidas por Buzeira.
‘Rifas do Bu’
Os promotores afirmam ainda que Bruno Alexssander e outro influenciador, Rudny Alan Damasceno, o ‘Rudny da Hornet’, além de enganarem o público, atuavam em nome próprio como pessoas físicas, mas também possuíam empresas para branquear o lucro das atividades ilícitas.
Frequentemente, segundo o inquérito, os influenciadores criavam sites próprios para realizar as loterias ilegais e permitiam que o vencedor escolhesse entre receber o produto ou o equivalente em dinheiro.
Em alguns casos, promoviam pacotes extras – as chamadas ‘rifinhas’ – dentro do sorteio principal, criando competição entre os apostadores e ampliando o lucro das ações.
A defesa de ‘Rudny da Hornet’ afirma que ele ‘não possui qualquer ligação com jogos de azar nem mantém relação direta ou indireta com os demais investigados’ (leia a íntegra da manifestação abaixo).
O influenciador é suspeito de lavar dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) e de ter se tornado milionário por meio de bets e rifas ilegais. A Polícia Federal aponta que os pagamentos das licenças das bets de Buzeira foram articulados pelo empresário Rodrigo Morgado, principal alvo da Operação Narco Bet, sob suspeita de agir como “contador do PCC”.
Na casa de Buzeira, a PF apreendeu duas pedras identificadas como esmeraldas de grande valor – um certificado também achado na Operação Bet indica que as pedras valem US$ 323 milhões. Mas, agentes federais, embora ‘surpresos’, avaliam preliminarmente que o valor pode ter sido turbinado pelo influencer para fins de lavagem de dinheiro.
O material foi enviado para perícia a fim de determinar a origem e valor real. Os federais também apreenderam com Buzeira uma McLaren 765L, avaliada em R$ 5,2 milhões.
Na denúncia sobre rifas ilegais, o Ministério Público destaca que o influenciador, entre outubro de 2020 e junho de 2023, em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo), “promoveu loteria sem autorização legal e explorou jogos de azar em local acessível ao público, notadamente por meio de redes sociais”.
“Vale destacar que, à época, em entrevistas divulgadas na plataforma Youtube, Buzeira chegou a confessar que, em um período de um ano e meio, arrecadou R$ 700.000,00” com rifas ilegais, sublinha o Ministério Público na denúncia.
Nesse período, Buzeira “ocultou e dissimulou a origem, a movimentação e a propriedade de valores provenientes de infrações penais antecedentes, bem como converteu mencionados valores em ativos lícitos”, assinalam os promotores.
A investigação identificou movimentações milionárias, com créditos de R$ 14,6 milhões e débitos de R$ 14,3 milhões entre janeiro de 2020 e junho de 2023, em diversas contas bancárias do influenciador. Parte desses valores, cerca de R$ 2,4 milhões, foi recebida por meio de plataformas de pagamento ligadas às rifas.
Entre os primeiros sorteios promovidos, Buzeira ofereceu uma motocicleta Hornet e uma Honda CB 1000, com cotas de R$ 40 e R$ 50, respectivamente. Em seguida, rifou uma BMW R1200 por R$ 90 a cota, totalizando mil participações. “Extasiado pelo lucro fácil, Buzeira seguiu nas atividades ilícitas”, afirmam os promotores.
No ano seguinte, o influenciador passou a divulgar postagens que anunciavam a rifa de um Chevrolet Camaro conversível amarelo, placa PEF0A94, ano 2011. No mesmo pacote, também oferecia um jet ski, uma motocicleta Honda CBR, uma Titan 160 e R$ 5 mil em dinheiro. Cada cota custava R$ 60, com um total de 10 mil cotas disponíveis, e o sorteio estava previsto para ocorrer em abril de 2022.
A denúncia, protocolada na 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores, sustenta que os réus se aproveitaram de sua influência nas redes sociais, onde acumulam milhões de seguidores, para praticar e promover atividades ilícitas, configurando um “ato negativamente exemplar que merece uma resposta”.
O Ministério Público acrescenta que a promoção de jogos de azar “estimula o vício, causa danos à saúde mental, leva ao superendividamento e provoca inúmeros prejuízos às relações familiares e profissionais”.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE RUDNY DA HORNET
Na qualidade de advogado do sr. Rudny, venho, por meio desta, prestar esclarecimentos diante das notícias veiculadas recentemente, que, de forma equivocada e precipitada, associaram o nome de meu cliente a supostas práticas relacionadas a jogos de azar e a investigações em andamento.
O sr. Rudny é uma pessoa honesta, de vida limpa e dedicada ao trabalho, sem qualquer histórico de envolvimento em atividades ilícitas. Reafirmo, de forma categórica, que ele não possui qualquer ligação com jogos de azar nem mantém relação direta ou indireta com os demais investigados.
A simples menção ao seu nome, sem embasamento fático ou jurídico, é infundada e causa danos irreparáveis à sua imagem e à sua honra.
Não há, até o momento, qualquer elemento concreto nos autos que indique a participação de Rudny em atos ilícitos. A ausência de provas, vínculos ou envolvimento direto em qualquer conduta investigada deixa clara sua total inocência, e assim será demonstrado ao longo do devido processo legal, que respeitamos e acompanhamos com confiança nas instituições.
Nosso compromisso é com a verdade. Por isso, esta defesa seguirá atuando com firmeza, transparência e serenidade para que os fatos sejam devidamente esclarecidos, e para que o nome de Rudny seja definitivamente dissociado de qualquer injusta suspeita.
Confiamos que a Justiça restabelecerá, em tempo oportuno, a verdade dos fatos, reconhecendo publicamente a lisura de conduta de meu cliente, com a consequente preservação de sua dignidade.
Daniel Onezio
COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS
A reportagem busca contato com as defesas. O espaço está aberto para manifestação (marcelo.godoy@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com; felipe.paula@estadao.com)