Apesar das advertências dos ambientalistas, seguiremos a extrair Petróleo
Em certo sentido, é possível apontar a hipocrisia. A autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) para a Petrobras perfurar um poço na região da foz do rio Amazonas não foi recebida com grandes comoções. Se a mesma resolução, às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas (COP 30), a ser realizada em Belém, fosse tomada no governo Bolsonaro, seria um Deus nos acuda. Aquela história de que certas decisões de “direita” apenas a esquerda pode tomar sem provocar tumulto.
Fora um protesto tímido aqui ou ali, não vimos, por exemplo, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, indignada, como já ocorreu durante os primeiros mandatos do Partido dos Trabalhadores no governo federal, quando saiu atirando. Agora, pelo menos da boca para fora, afirmou que a decisão foi “técnica” e se deu por satisfeita com as condicionantes exigidas pelo Ibama.

Mas de fato não houve nada de vulto contra a medida. Nenhum vídeo de artistas engajados a protestar contra o governo. Nenhuma manifestação de celebridades internacionais, como o ator Leonardo DiCaprio, geralmente atento a este tipo de questão. Ninguém de relevância para dizer que a perfuração do poço seria abrir a porteira para passar a boiada, numa reminiscência das falas do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, do governo Bolsonaro.
Especulou-se até que a decisão do Ibama foi uma moeda de troca para que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, facilitasse a aprovação do nome do indicado pelo presidente Lula ao Supremo Tribunal Federal. Lula, aliás, nunca escondeu o desejo pelo início da exploração.
A verdade é que o mundo não é como o seriado dinamarquês Borgen, no qual a população decidiu não explorar uma bacia de petróleo encontrada na Groenlândia. O ouro negro ainda anima sonhos de prosperidade e discursos políticos em todo lugar. Vide, por exemplo, o “bilhete premiado do pré-sal”, segundo a campanha conduzida pelo Partido dos Trabalhadores no começo do século. O discurso de Trump nas Nações Unidas, em setembro, foi outro exemplo de como a ideologia “verde” enfrenta a oposição de tantos poderosos.
Não sabemos ainda as consequências ecológicas do processo, mas é fato que, a partir do momento em que começou a explorar o petróleo da mesma bacia da foz do Amazonas, a Guiana se tornou um dos países com maior índice de crescimento econômico do mundo. Sim, o petróleo é ainda visto como salvação para a saída da pobreza.
O Brasil, por suas características naturais, acaba por se tornar o centro desse debate mundial. Com florestas equatoriais ainda intocadas; biomas tão diversos como Amazônia, cerrado, mata atlântica, pantanal, pampas, caatinga; maiores reservas de água doce do mundo; matriz energética relativamente limpa, teríamos de ser um exemplo para o mundo de uma economia verde, viável e funcional. É o que tantos políticos, autoridades e ecologistas, sobretudo dos Estados Unidos e da Europa, exigem de nós.

Para fecharmos acordos econômicos, para podermos vender nossos produtos com menos taxações, precisamos respeitar ainda mais nossa natureza, querem os representantes de organizações internacionais e outros países, principalmente europeus. Porém, no Brasil, há uma ponderação para essas exigências. Por que países ricos que já devastaram suas vegetações e faunas naturais exigem que não façamos o mesmo, sendo que ainda contamos com uma população pobre, que precisa se desenvolver? As exigências que fazem para que o Brasil se torne cada vez mais verde não esconderiam outros interesses, como prejudicar a venda de nossos produtos mais competitivos, como os oriundos do agronegócio, no mercado internacional? O discurso ecológico teria sido manipulado pelos homens e mulheres de negócios dos países mais ricos?
Essas questões se traduzem em decisões de Estado a serem tomadas urgentemente. Construiremos mais hidrelétricas? Exploraremos mais petróleo nas proximidades do Amazonas? Continuaremos nosso programa nuclear? Em um país com tanta escassez de recursos financeiros, podemos renunciar a receitas em nome das causas da ecologia? Qual é o meio-termo aceitável ou razoável?
Não sabemos ainda as respostas. Mas essa é uma questão mundial na qual o Brasil talvez seja o principal protagonista. A solução que conseguirmos oferecer para os impasses ecológicos pode se tornar o novo paradigma para o mundo. Esse big deal está em nossas mãos.
