24 de outubro de 2025
Politica

Lula da campanha de 2026 vai ter mais cara do de 1989 do que daquele de 2022

O Lula que concorrerá pela sétima vez à Presidência da República não é nem de longe aquele que, em 1989, buscou pela primeira vez ao cargo. A bagagem acumulada nas derrotas de 1994 e 1998 e nas vitórias de 2002, 2006 e 2022 naturalmente tornam a figura de hoje muito mais competitiva, hábil e credenciada politicamente. Mas no aspecto do ponto central que o petista quer apresentar ao eleitor, o Lula que será oferecido ao público se aproxima mais dos ideais daquele do século passado do que do responsável por derrotar Bolsonaro há pouco mais de três anos.

A entrada de Guilherme Boulos (PSOL) no governo faz parte desse pacote. A de Gleisi Hoffmann (PT) na articulação política no início do ano também. As duas mudanças têm a missão de reforçar a presença do governo mais à esquerda do que na última campanha, um pouco mais aguerrido, cheio de inimigos, e pronto a fazer um enfrentamento nas ruas não pelo eleitor de centro, aquele tido como fundamental historicamente para definir uma eleição, mas o antissistema. Aquele que é “contra tudo o que está aí”.

Não é tarefa fácil para quem está no governo e que comandou o País, diretamente ou por meio de aliados, por 17 anos nos últimos 23. Mas as pesquisas e o resultado da mobilização pela isenção do imposto de renda e a defesa da soberania, com um discurso antiamericano à esquerda, mostram que o caminho neste espectro pode sim ter apelo popular, tal qual alguns abertos à direita.

Lula tem se voltado mais a uma postura que remete a 1989, com uma pauta mais à esquerda
Lula tem se voltado mais a uma postura que remete a 1989, com uma pauta mais à esquerda

É que o eleitor ‘antissistema’ não tem ideologia. Ele só precisa de um inimigo comum. Que pode ser narrado tanto como um governo há tanto tempo no poder, como usará a oposição, como uma “elite” ou “forças estrangeiras” que impedem que as coisas mudem mesmo a despeito da vontade daquele que está no Palácio do Planalto.

É nessa toada que vai Lula. Oferecendo pautas à esquerda bastante populares, ainda que inviáveis ou difíceis de implementar, como a tarifa zero, o fim da escala 6 x 1 ou as taxações dos mais ricos. Algumas ideias que podem até não prosperar mas que, para efeito de campanha, basta que sejam apresentadas, vinculadas ao governo e com o adendo de que, se não saírem, é por conta de figuras ‘do outro lado’ que não deixam o País ‘avançar’.

Tão importante quanto entregar resultados em pautas populares/populistas é conseguir colher os louros das iniciativas e vencer uma batalha de narrativas que vai se dar nas redes e nas ruas. É aí que entra uma figura como Guilherme Boulos, um reconhecido ‘antissistema’, que mobiliza grupos muitas vezes até ultrapassando limites de uma atuação institucional, como em sua trajetória junto ao MTST.

Alguns podem questionar as razões para Lula se aproximar da pauta da “justiça social a todo custo” (ou a da soberania), de 1989, ano em que perdeu a eleição, abandonando a que garantiu a vitória em 2022. Tem-se, porém, o reconhecimento de que na última disputa não houve exatamente uma vitória de Lula, mas uma derrota de Jair Bolsonaro. A proposta de defesa da democracia não dá conta mais sozinha de empurrar à vitória o petista, figura que hoje, pelo desgaste de seus governos ou pelas acusações de corrupção que enfrentou, é menos popular do que em seus melhores tempos.

Paralelamente, o sentimento antissistema está em alta pelo mundo. E muita gente tem perdido reeleições nacionais, enquanto candidatos mais radicais têm vencido. À direita e à esquerda, impulsionados por um pessimismo e insatisfação crescentes nos tempos das redes. E a frente ampla, que servia para conseguir não apenas vencer, mas governar no início do mandato, não tem mais sentido para Lula. Pelo menos até a eleição. Ele não tem e não conseguirá mais ter base no Congresso. E os partidos de centro não estarão com ele na chapa de 2026, a não ser que se torne imbatível até lá.

Restou o caminho da esquerda, que foi turbinado por uma atuação errática da oposição, devolvendo a Lula apoio levemente maior do tinha até poucos meses atrás. Se vai ser suficiente é outra história. Em 1989, o antissistema Lula viu pela frente um adversário que se exibiu ainda mais como alguém “contra tudo o que está aí”. Foi Collor, que surpreendeu e venceu. Agora, porém, Lula tem a máquina em sua última ida às urnas para tentar ganhar do jeito que primeiro quis e que demorou mais três eleições para conseguir.

 

 

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