O fantasma de Dilma e a armadilha de Lula na Indonésia
Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “se empolga”, o resultado é sempre o mesmo: ele faz declarações que revelam o ranço de algumas pautas da esquerda rejeitadas pela maioria da população, e o jeito é acionar o marqueteiro para tentar conter os danos político-eleitorais.
Foi o que ocorreu nesta sexta-feira, 24. Claramente animado com as pesquisas mais recentes – apontando que ele venceria todos da direita em 2026, Lula esticou a corda do embate com o presidente dos Estados Unidos,Donald Trump. Mas, ao criticar a política americana de combater com Forças Armadas cartéis do narcotráfico na América Latina, o petista afirmou que “traficantes são vítimas dos usuários”.
Com uma só declaração Lula conseguiu: munir a oposição que foi às redes afirmar que o presidente e o PT protegem bandidos; desagradar parte da base aliada mais próxima do centro; e gerar risco de um mal estar internacional.
Não haveria cenário pior para Lula fazer tal afirmação. Há exatos dez anos, aquele país e o Brasil, à época sob a batuta da então presidente Dilma Rousseff, passaram por uma crise diplomática que durou nove meses. O motivo estava justamente ligado ao combate ao narcotráfico.
Sem entrar na discussão sobre ser contra ou a favor da pena de morte, fato é que Dilma se recusou a aceitar a soberania da Indonésia, onde a legislação prevê a execução para traficantes.
Na ocasião, dois brasileiros foram condenados por tráfico de drogas no país. Marco Archer foi morto em janeiro e Ricardo Gularte, em abril.
Dilma pedira clemência. Como o governo indonésio rejeitou os apelos, ela chamou o embaixador brasileiro e ainda se recusou a receber as credenciais do embaixador daquele país, Toto Riyanto.
Nesta sexta-feira, 24, não houve crise diplomática. Logo, não coube ao Itamaraty frear os danos da declaração de Lula. A missão ficou novamente com o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira, que precisou correr para contornar a repercussão da fala.
O marqueteiro tratou a declaração de Lula como uma frase mal colocada e defendeu as ações do governo em combate ao tráfico de drogas. “Quero dizer que meu posicionamento é muito claro contra os traficantes e o crime organizado. Mais importante do que as palavras são as ações que o meu governo vem realizando”, diz trecho da mensagem publicada imediatamente no perfil oficial do presidente Lula.
Fiz uma frase mal colocada nesta quinta e quero dizer que meu posicionamento é muito claro contra os traficantes e o crime organizado. Mais importante do que as palavras são as ações que o meu governo vem realizando, como é o caso da maior operação da história contra o crime…
— Lula (@LulaOficial) October 24, 2025

