7 de novembro de 2025
Politica

PSOL aposta em Erika Hilton e renovação de quadros em SP para suprir ausência de Boulos na eleição

Com a nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência (SGP), o PSOL perde uma de suas principais lideranças para a disputa eleitoral de 2026. Ao aceitar o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado sinaliza que não pretende concorrer no próximo pleito, já que precisaria deixar o cargo até abril do ano que vem, o que limitaria sua permanência no governo a apenas seis meses.

A provável ausência de Boulos na corrida eleitoral preocupa a direção do PSOL. Em 2022, ele foi o segundo deputado mais votado do País, com pouco mais de 1 milhão de votos. O desempenho representou cerca de um quarto dos votos obtidos pelo partido em todo o Brasil e metade dos votos da legenda em São Paulo.

Guilherme Boulos durante a campanha eleitoral de 2024, na qual se candidatou a prefeito de São Paulo
Guilherme Boulos durante a campanha eleitoral de 2024, na qual se candidatou a prefeito de São Paulo

Mesmo sem o principal puxador de votos, dirigentes acreditam que o PSOL pode repetir o desempenho de dois anos atrás, quando somou 3,9 milhões de votos em todo o País (sem contar a federação com a Rede). A meta é preservar — ou até ampliar — o tamanho da bancada federal e superar novamente a cláusula de barreira.

A presidente nacional do PSOL, Paula Coradi, afirma que a estratégia em São Paulo será estruturada em três eixos: a reeleição da bancada paulista, a renovação de nomes e a projeção da deputada Erika Hilton, que deve assumir o papel de principal puxadora de votos.

“Cada eleição é uma eleição. Queremos aproveitar o próximo processo eleitoral para alavancar nossa bancada, especialmente com a figura da Erika Hilton, que tem uma atuação extraordinária”, disse Paula ao Estadão. “A Erika tem condição de chegar a uma votação muito próxima à do Boulos em 2022, talvez até ultrapassar um milhão de votos, porque ela é, de fato, o fenômeno da vez.”

Eleita em 2022 com quase 260 mil votos, Erika Hilton, mulher trans e ativista LGBT+, ganhou projeção com pautas identitárias. No último ano, ampliou sua atuação para temas sociais mais amplos, como a defesa do fim da jornada de trabalho 6×1. No partido, a avaliação é de que ela conseguiu expandir sua base para além do eleitorado tradicional do PSOL.

Paula prevê que outras parlamentares também devem impulsionar o desempenho da sigla no Estado. “Sâmia Bomfim pode ampliar sua votação, a professora Luciane Cavalcanti também deve crescer, e a ministra Sônia Guajajara deixará o governo em abril para tentar a reeleição como deputada.”

Disputa ao Senado segue indefinida

A presidente do PSOL não descarta que Boulos volte à disputa no ano que vem, desta vez para o Senado. Segundo ela, a eleição de 2026 será dura e polarizada, o que exigirá alianças estratégicas nos Estados onde o partido não tiver candidatura competitiva ao Executivo.

“São Paulo é estratégico para nós”, esclarece Paula. “Se o Boulos se tornar o único candidato viável à esquerda, tenho certeza de que o presidente Lula vai entender a importância disso. Precisamos ganhar a eleição para o Senado. Não é um luxo abrir mão de uma candidatura competitiva.”

Ela também cita a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva (Rede) como possível nome para a disputa. O PSOL e a Rede formam uma federação partidária. “Temos o nome da Marina, que seria uma excelente opção. A federação tem peso político para estar na chapa majoritária em São Paulo, e vamos trabalhar para oferecer os melhores nomes – hoje, Boulos e Marina.”

Entre os cotados para renovar a bancada federal estão o deputado estadual Guilherme Cortez e o ex-presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros. Cortez, com base eleitoral em Franca, é visto como um nome capaz de expandir a presença do partido no interior do Estado.

“Não é uma decisão que já tomamos, porque isso exige um debate com o partido e com nossos eleitores. Quero cumprir o papel que me couber melhor, onde eu puder ajudar mais”, disse Cortez à reportagem.

Medeiros, por sua vez, teria o apoio do deputado Ivan Valente, que abriria mão da vaga na chapa em favor do aliado político.

Mesmo fora da disputa, Boulos deve participar ativamente da campanha em São Paulo. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), do qual foi coordenador, deve lançar uma candidatura própria pelo PSOL. Um dos nomes cotados é o da advogada Natália Szermeta Boulos, esposa do novo ministro. Procurado, o casal não se manifestou.

Psolistas apostam em estabilidade eleitoral

Para o deputado estadual Guilherme Cortez, a saída de Boulos da disputa representa um desafio, mas não compromete o espaço do PSOL em São Paulo. “Perder um candidato com esse peso eleitoral é um prejuízo e exige reflexão”, afirmou. “Mas esse espaço tende a se preservar e será compensado por outras candidaturas que vão crescer, surgir e disputar.”

A mesma avaliação é feita por João Zafalão, membro da Executiva Estadual do partido. “A nomeação de Boulos para ministro cria, sim, uma dificuldade eleitoral, mas, ao mesmo tempo, sua presença no governo Lula amplia o espaço político do PSOL, o que deve nos fortalecer na disputa do ano que vem”, disse.

Segundo ambos, a expectativa é manter o desempenho das últimas eleições. “O PSOL precisa refletir e pensar sua tática eleitoral considerando a ausência do Boulos, mas acredito que o partido tem grandes chances de manter — e talvez até ampliar — sua bancada em São Paulo”, afirmou Cortez.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *