26 de outubro de 2025
Politica

Supremo, o terceiro parlamento brasileiro, escancara seus rearranjos políticos

Luiz Fux estava isolado na Primeira Turma. Isolado politicamente. À margem do bloco local de poder. Falamos sobre isso com naturalidade, como se fosse normal o tribunal constitucional se comportar e organizar tal e qual um parlamento, com grupos políticos, partidos mesmo, donde agentes políticos, que se articulam taticamente para responder ou se antecipar aos movimentos de Legislativo e Executivo.

Ministro tributarista, que resolve o IOF de Haddad. Ministro tesoureiro, que gere o fluxo das emendas parlamentares. Juízes de corte constitucional percebidos – não sem razão – como resolvedores dos problemas do governo de turno. E, se há os que resolvem, questão de mercado mesmo, logo haverá os que dificultam.

Isolado, ministro Luiz Fux pediu para ser transferido da Primeira para a Segunda Turma do STF
Isolado, ministro Luiz Fux pediu para ser transferido da Primeira para a Segunda Turma do STF

Fux, esvaziado o plenário físico do STF, até fazia onda na Primeira Turma. Tanto quanto perdia influência e poder. Barulho, na turma sem turma, é nada. O Supremo apatotado constituído em terceira casa legislativa – ou, diria o maledicente, poder moderador da República. A corte constitucional, senadores togados em vez de juízes somente, em que o governo tem bancada. Por que não a oposição? Lula investe no fortalecimento da sua.

Fux, o isolado, então calcula politicamente. Mais um estrategista – tudo de que precisamos no tribunal que controla a constitucionalidade. Menos importante sendo que não tivesse clima entre os que formaram para condenar os golpistas. Dane-se o bom ambiente. Ali só há cascas-grossas, pouco suscetíveis às dores do desprezo. O que importa: aquilo que projeta encontrar e desenvolver na Segunda Turma. Perspectiva de poder. De liderança. De vitória. De num novo centro de força, com capacidade para desafiar.

Lá estão os ministros indicados por Jair Bolsonaro: Nunes Marques e André Mendonça, com os quais Fux não apenas comporia, projetada sobretudo uma maioria regional. Rearranjo político – ou, como diria um líder parlamentar, recomposição da base. Projetada sobretudo uma maioria contra Gilmar Mendes, com quem disputaria Nunes Marques. Assim vai qualificada a Suprema Corte, com Nunes Marques, a incógnita, por fiel da balança.

Haverá disputa, decerto aquele espetáculo de interpretações de ocasião para o que diz o regimento. Com Fux está o recurso de Bolsonaro contra a inelegibilidade que lhe impôs o TSE. À Segunda Turma também cabendo a revisão criminal do julgamento sobre golpe de estado e o que sobrou – os escombros ainda não enterrados pelo anulador-geral Dias Toffoli – da Lava Jato.

Na terça, Edson Fachin, presidente do Supremo, disse que o Judiciário deveria se “voltar para o básico”. Seria o caso de o gênio voltar para a lâmpada. Não vai rolar. Na quinta, declarou que Dias Toffoli “tem contribuído imensamente para o fortalecimento da jurisdição constitucional em nosso país”. O homenageado, talvez surpreso, emocionou-se. Choremos nós. O choro (ainda) é livre.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *