26 de outubro de 2025
Politica

Ala pró-Lula do MDB enfrenta problemas com PT no Nordeste e pode perder quatro vices em 2026

A ala do MDB do Nordeste que defende o apoio do partido à reeleição de Lula (PT) tem enfrentado problemas nas alianças locais com o PT. Os emedebistas têm a vice-governadoria em quatro Estados da região governados pelos petistas, mas devem perder a vaga na eleição de 2026.

A segunda posição na chapa eleitoral ganha ainda mais relevância na Bahia, no Piauí e no Ceará. Se os governadores do PT conseguirem a reeleição nesses locais, a tendência é que os vices assumam o governo em 2030 e possam disputar a eleição para o Executivo controlando a máquina estadual. No Rio Grande do Norte, o candidato será do PT, mesmo com o vice do MDB governando o Estado durante a eleição.

Um dirigente do MDB avalia, sob reserva, que a postura do PT nesses estados enfraquece a ala pró-Lula no partido. Assim como em outros pleitos, há uma divisão regional entre os emedebistas. Enquanto o Nordeste e parte do Norte defendem apoio ao presidente e sonham emplacar o vice de Lula – o ministro Renan Filho (MDB-AL) ou o governador Helder Barbalho (MDB-PA) –, os diretórios do Sudeste, Sul e Centro-Oeste querem apoiar uma candidatura de oposição.

A decisão será tomada na convenção nacional do MDB. Uma alternativa é não fechar apoio a uma única candidatura e liberar cada Estado para apoiar quem preferir.

No Piauí, o governador Rafael Fonteles (à esquerda) já informou ao MDB que Themístocles Filho (à direita) não será seu vice na eleição de 2026
No Piauí, o governador Rafael Fonteles (à esquerda) já informou ao MDB que Themístocles Filho (à direita) não será seu vice na eleição de 2026

Do outro lado, integrantes do PT estão otimistas com o desempenho de Lula e dos governadores no Nordeste no próximo pleito. A leitura é que mesmo que a relação com o MDB seja boa, a dinâmica política de cada Estado impera na formação das chapas, principalmente no contexto de que o partido não deve fechar apoio a Lula nacionalmente.

O caso mais emblemático é o do Piauí, onde o governador Rafael Fonteles (PT) comunicou oficialmente ao MDB que seu vice na eleição do ano que vem será um petista. Atualmente, o posto é ocupado por Themístocles Filho (MDB).

O senador Marcelo Castro (MDB) disse ao Estadão que o MDB é um aliado de primeira hora do PT no Piauí e que o rompimento nunca foi cogitado. Em agosto, ele expressou descontentamento com a situação durante uma entrevista à TV Cidade Verde.

“Evidentemente que o MDB não bateu palmas para isso, não podemos dizer que gostamos, mas aceitamos a realidade. A política é assim”, disse, acrescentando que é preciso haver uma compensação. “Na hipótese de em 2030 o governador renunciar, quem assumiria o governo seria o MDB. Você sabe o quanto é importante para o partido ter o governador em exercício no período eleitoral. A perda do MDB é muito grande”, finalizou.

Ex-presidente do Senado, o deputado federal Eunício Oliveira (MDB-CE) pontua que os diretórios nordestinos do MDB são mais próximos do próprio Lula do que do PT enquanto partido. Ele argumenta que não há atritos na aliança, pois os emedebistas devem continuar nas chapas governistas mesmo se houver mudanças na vice.

“No Piauí, o Marcelo será candidato a senador com o apoio do PT. Em qualquer cenário, é natural que o MDB prefira o Senado do que vice. O que dá destaque ao partido é governador, senador e deputado”, afirmou Eunício. De acordo com ele, o MDB do Ceará optou por ceder a vaga de vice, hoje ocupada por Jade Romero (MDB), para ter uma vaga de senador na chapa. “A menina vai ser deputada federal e eu sou pré-candidato ao Senado. Onde é que tem qualquer desgaste na aliança com o PT?”, questiona Eunício.

A costura, contudo, não é tão simples pois há mais nomes do que vagas na chapa. Além de Eunício, o deputado federal José Guimarães (PT) já declarou publicamente a pretensão de ser candidato à Casa Alta e o senador Cid Gomes (PSB) deve disputar a reeleição ou indicar um aliado para substituí-lo. O ex-senador Chiquinho Feitosa (Republicanos) também já manifestou interesse em concorrer.

Na Bahia, o imbróglio também passa pelo Senado e o MDB pode ficar de fora da chapa governista. Há três candidatos para duas vagas: os senadores Jaques Wagner (PT) e Ângelo Coronel (PSD) e o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). Uma das soluções cogitadas é dar a vaga de vice do governador Jerônimo Rodrigues (PT) para o PSD em vez de repetir a chapa com Geraldo Júnior (MDB).

O ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) disse ao Estadão que o partido está “tranquilo com relação” e que nenhum aliado tocou na possibilidade do MDB ceder a vaga. “A disputa que está havendo é na vaga do Senado, a disputa do Rui com Ângelo Coronel. O partido reivindica a manutenção da vice por um princípio elementar: o MDB tem sido leal ao governo? Tem. O vice tem sido leal ao governador? Tem. Por que mudar se nós fomos absolutamente fundamentais na vitória em 2022?”, afirmou ele.

Geddel avalia que a tendência, hoje, é que o MDB libere os Estados na eleição presidencial. “Na medida em que não tem uma candidatura própria, que unifique, prevalecerão os interesses regionais“, disse um dos principais caciques do MDB baiano.

No Rio Grande do Norte, o MDB não terá candidato a governador mesmo administrando o Estado durante o período eleitoral, algo raro na política brasileira.

O vice-governador Walter Alves (MDB) assume o governo no próximo mês de abril, mas já anunciou que não tentará a reeleição. No fim de seu segundo mandato, a governadora Fátima Bezerra (PT) deixará o cargo em busca de se eleger senadora.

A justificativa de Alves é que ele optou por fortalecer as chapas de deputados federais e estaduais. Por meio da assessoria de imprensa, ele não respondeu diretamente a uma pergunta se a candidatura do governador não ajudaria a impulsionar os candidatos do partido ao Legislativo.

“Não sou candidato ao governo. Essa não foi uma decisão fácil, mas é o melhor caminho. E não foi uma escolha pessoal. Chegamos a essa conclusão: de que a melhor opção é assumir e terminar o mandato de governador em dezembro de 2026. E trabalhar para fortalecer o MDB aqui no Estado”, disse ele, em nota enviada ao Estadão.

O candidato à sucessão de Fátima será o secretário da Fazenda potiguar, Carlos Eduardo Xavier (PT). O PT traça um paralelo entre Cadu e o governador do Piauí, Rafael Fonteles, que também foi secretário de Fazenda antes de se candidatar ao Executivo estadual.

 

 

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