26 de outubro de 2025
Politica

‘First date’ entre Trump e Lula não é romance, mas pacto de conveniência

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“First date” é o primeiro encontro entre duas pessoas que buscam entender se há afinidade e disposição para algo mais duradouro. No caso dos presidentes Trump e Lula, o flerte começou discretamente — um aceno na ONU, em 23 de setembro, seguido de uma conversa telefônica em 11 de outubro — e culminou no primeiro encontro presencial neste domingo, 26, em Kuala Lumpur. Em pouco mais de um mês, os dois mandatários construíram uma aproximação tão veloz quanto calculada.

O pano de fundo não poderia ser mais tenso. O tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros e a decisão de aplicar a Lei Magnitsky a ministros do STF criaram o pior cenário diplomático entre os dois países desde a Guerra Fria. Paradoxalmente, essa crise parece ter acelerado a reaproximação. Lula entendeu que confrontar Washington seria suicídio econômico; Trump, por sua vez, percebeu que isolar o Brasil abriria espaço para a China consolidar sua influência na América do Sul.

Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro com Donald Trump em Kuala Lampur, Malásia.
Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro com Donald Trump em Kuala Lampur, Malásia.

A conversa na Malásia teve caráter estratégico: mais do que resolver pendências, serviu para medir intenções. Trump queria testar se Lula adotaria uma postura mais previsível em relação ao comércio e ao investimento americano. Lula buscava entender se poderia confiar num interlocutor que, em seu primeiro mandato, impôs sanções unilaterais ao Brasil e desafiou abertamente o multilateralismo.

O encontro revelou uma ironia: os dois líderes que representam polos opostos falam a mesma língua quando o assunto é pragmatismo econômico. Ambos enxergam na diplomacia comercial um instrumento de poder doméstico — capaz de gerar empregos, atrair capital e fortalecer suas bases políticas nas eleições que se aproximam.

Essa aproximação não significa afinidade pessoal ou ideológica, mas cálculo. Ao contrário do bolsonarismo, que tentou usar a relação com os Estados Unidos como instrumento de chantagem política, Lula parece disposto a reconstruí-la como uma parceria estratégica. Trump, por sua vez, percebeu que manter o Brasil como aliado comercial é mais rentável do que transformá-lo em inimigo ideológico.

Se, por um lado, um eventual acordo tende a arrefecer o discurso de defesa da soberania que impulsiona Lula, por outro pode render dividendos econômicos e políticos. No fim das contas, o “first date” entre Trump e Lula não é um romance, mas um pacto de conveniência. O sucesso desse relacionamento dependerá menos da química e mais da capacidade de ambos de manter a racionalidade num mundo em que paixão ideológica costuma custar caro.

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