‘First date’ entre Trump e Lula não é romance, mas pacto de conveniência
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“First date” é o primeiro encontro entre duas pessoas que buscam entender se há afinidade e disposição para algo mais duradouro. No caso dos presidentes Trump e Lula, o flerte começou discretamente — um aceno na ONU, em 23 de setembro, seguido de uma conversa telefônica em 11 de outubro — e culminou no primeiro encontro presencial neste domingo, 26, em Kuala Lumpur. Em pouco mais de um mês, os dois mandatários construíram uma aproximação tão veloz quanto calculada.
O pano de fundo não poderia ser mais tenso. O tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros e a decisão de aplicar a Lei Magnitsky a ministros do STF criaram o pior cenário diplomático entre os dois países desde a Guerra Fria. Paradoxalmente, essa crise parece ter acelerado a reaproximação. Lula entendeu que confrontar Washington seria suicídio econômico; Trump, por sua vez, percebeu que isolar o Brasil abriria espaço para a China consolidar sua influência na América do Sul.

A conversa na Malásia teve caráter estratégico: mais do que resolver pendências, serviu para medir intenções. Trump queria testar se Lula adotaria uma postura mais previsível em relação ao comércio e ao investimento americano. Lula buscava entender se poderia confiar num interlocutor que, em seu primeiro mandato, impôs sanções unilaterais ao Brasil e desafiou abertamente o multilateralismo.
O encontro revelou uma ironia: os dois líderes que representam polos opostos falam a mesma língua quando o assunto é pragmatismo econômico. Ambos enxergam na diplomacia comercial um instrumento de poder doméstico — capaz de gerar empregos, atrair capital e fortalecer suas bases políticas nas eleições que se aproximam.
Essa aproximação não significa afinidade pessoal ou ideológica, mas cálculo. Ao contrário do bolsonarismo, que tentou usar a relação com os Estados Unidos como instrumento de chantagem política, Lula parece disposto a reconstruí-la como uma parceria estratégica. Trump, por sua vez, percebeu que manter o Brasil como aliado comercial é mais rentável do que transformá-lo em inimigo ideológico.
Se, por um lado, um eventual acordo tende a arrefecer o discurso de defesa da soberania que impulsiona Lula, por outro pode render dividendos econômicos e políticos. No fim das contas, o “first date” entre Trump e Lula não é um romance, mas um pacto de conveniência. O sucesso desse relacionamento dependerá menos da química e mais da capacidade de ambos de manter a racionalidade num mundo em que paixão ideológica costuma custar caro.
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