Mais um passo, e o bolsonarismo terá de abandonar Trump
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Por um momento, a estratégia algo leviana do deputado Eduardo Bolsonaro de instigar os Estados Unidos a punir o Brasil como retaliação à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por golpe de Estado parecia que iria prosperar.
O presidente americano Donald Trump se pronunciou de maneira incisiva contra as decisões das instituições brasileiras, além de ter sobretaxado nossos produtos de forma colossal. Nas franjas do bolsonarismo, sonhava-se até com uma espécie de intervenção para Bolsonaro voltar ao poder.
O governo brasileiro foi pego de “calças curtas”, como se fala no interior de Minas Gerais. Estava sem interlocução com a maior potência mundial. Eduardo Bolsonaro e o empresário Paulo Figueiredo, sócios dessa aventura de punir o Brasil “em nome da liberdade”, se vangloriavam dia sim e dia também sim de suas articulações por Washington, com direito a vídeos na frente da Casa Branca, juntamente com os demais turistas.

Fotos: Ricardo Stuckert / PR
Mas desde o encontro casual entre Trump e o presidente Lula na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, os resultados têm sido trágicos para o bolsonarismo, apesar de Eduardo seguir a contar vitória (vai seguir pela vida toda). Algo impressionante no caso é como tentam adaptar o discurso a fatos que definitivamente não têm sido favoráveis a eles.
O encontro de Trump com Lula em Nova Iorque, por exemplo, foi interpretado apenas como uma armadilha do americano. Lula seria humilhado em breve no Salão Oval, assim como fizeram com o presidente ucraniano Volodmir Zelenski, e tentaram fazer com o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.
Mas o que ocorreu na verdade, dias depois, foi uma conferência telefônica amistosa entre Trump, Lula, suas equipes, a pedido americano. O discurso bolsonarista precisou mudar. O governo brasileiro seguia na arapuca. Ao nomear como negociador das diferenças entre os países o secretário de Estado, Marco Rubio, a estratégia de humilhação continuaria. Rubio seria um falcão do governo americano – hostil ao esquerdismo brasileiro.
Porém, passam-se alguns dias e Rubio tem um encontro amistoso com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira. Sobra a desculpa de que “os americanos não teriam cedido em nada”. E tome-se vídeos com novas autoexaltações da dupla dinâmica Paulo-Eduardo, tendo como fundo lugares turísticos de Washington. Eduardo seguia, numa espécie de delírio, em que seria candidato à presidência com auxílio de Trump.
O filho de Bolsonaro, no seu boicote aberto, também tem sido o maior responsável individual pelas dificuldades de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se lançar à presidência. Logo, faz sentido ser chamado de “o camisa 10” de Lula.
Finalmente, hoje, o encontro pessoal de Trump e Lula, na Malásia. Novamente, o clima é amistoso. As portas entre os dois países estão abertas. O que resta ao bolsonarismo é alegar que nada foi conseguido (é sempre possível inventar uma desculpa, não importam as circunstâncias). Mas se a gente pensa nas pretensões iniciais de punição, intervenção e apoio sólido à volta de um Bolsonaro no poder, foi um vexame. Eduardo ainda pode ser cassado por faltas na Câmara, aliás.
Enquanto isso, Lula, que até há uns três meses era líder de um governo sem bandeiras detectáveis, jogou em todos os erros do adversário. Pegou para si uma série de bandeiras caras ao bolsonarismo, como o patriotismo. Colheu aumento na popularidade e se tornou novamente favorito à reeleição. Se existir a figura de um bolsonarista reflexivo, ele deveria colocar a mão na consciência e começar a pensar de que valeu todo esse barulho de Eduardo e companhia; e se vale contar com Trump nas estratégias futuras. Provavelmente não.
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