29 de outubro de 2025
Politica

Fortalecimento de Milei passa por plano econômico concreto, que direita brasileira não construiu

O êxito de Javier Milei nas eleições de meio de mandato na Argentina foi celebrado pela direita brasileira como se fosse uma extensão de sua própria agenda. Mas o que aconteceu em Buenos Aires segue uma lógica distinta, que os conservadores parecem não ter compreendido.

Milei consolidou apoio não por ter inflamado o discurso conservador, nem por repetir slogans de revolta, mas sim por oferecer um projeto econômico reconhecível, com metas e direção.

O presidente da Argentina Javier Milei saiu vencedor nas eleições para o Parlamento
O presidente da Argentina Javier Milei saiu vencedor nas eleições para o Parlamento

No Brasil, a oposição ainda não apresentou algo equivalente, capaz de traduzir seu discurso em um plano econômico concreto, que convença o eleitor que busca resultados.

As urnas argentinas confirmaram a eficácia da estratégia de ter um caminho definido, mesmo que seja turbulento, polêmico e passível de muitas críticas.

O La Libertad Avanza obteve cerca de 41% dos votos e ampliou de forma expressiva sua presença no Congresso. O partido do presidente passou a ocupar posição suficiente para negociar vetos e dar sustentação ao plano de ajuste. O dado relevante não está apenas no placar, mas na forma como Milei conseguiu transformar um programa impopular em narrativa de reconstrução nacional.

Ele manteve uma presença digital intensa, com publicações frequentes em que reafirmava o compromisso com o ajuste fiscal e a redução do Estado. Perfis ligados ao governo e a influenciadores libertários reproduziram esse discurso, reforçando a ideia de que a eleição legislativa funcionava como um voto de confiança na continuidade das reformas.

A comunicação foi direta, centrada em resultados e na defesa da coerência entre o que havia sido prometido e o que estava sendo executado. Esse uso disciplinado das redes ajudou a transformar o plano econômico em símbolo de estabilidade e direção, em um cenário em que a inflação ainda passa dos 200% ao ano e o desgaste é elevado.

Entre os críticos, prevaleceu o debate sobre os custos sociais das medidas de ajuste e sobre a abstenção elevada, a mais alta desde o retorno da democracia. A oposição destacou ainda o impacto dos cortes sobre serviços públicos e o aumento da pobreza, mas não conseguiu deslocar o centro da discussão.

O debate eleitoral permaneceu concentrado na continuidade ou não do programa econômico, e o tema das reformas dominou a agenda pública. Mesmo com altos índices de rejeição, Milei saiu fortalecido por manter a narrativa de que o país está em um processo de correção, que não deve ser interrompido.

No Brasil, a direita continua a depender de palavras de ordem genéricas, da defesa da anistia e da crítica ao “sistema”, com foco principal no Judiciário. Fala em cortar gastos e reduzir impostos, mas precisa explicar como faria isso.

Critica o populismo do governo, sem oferecer claramente uma política econômica que enfrente as mesmas questões com outra lógica. A força digital e a capacidade de mobilização continuam altas, porém falta consistência técnica e clareza sobre prioridades.

Enquanto isso, o governo Lula ocupa o centro do debate com propostas tangíveis, como as bolsas sociais, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, a criação de novas linhas de crédito habitacional para a classe média. Fala até em estudos sobre passe livre no transporte público.

Mesmo com questionamentos fiscais, essas medidas passam a impressão de ação coordenada e mantêm o Planalto no papel de quem propõe enquanto a oposição reage.

A lição que vem das urnas argentinas é simples. Milei não alcançou excelentes resultados políticos porque falou mais alto, mas sim porque falou de método. Transformou um programa impopular em um roteiro compreensível, sustentado por narrativa, números e constância, objetivando um futuro e vendendo uma esperança.

A direita brasileira que comemora o resultado deve entender o recado. O eleitor aceita medidas duras, mas suspeita do vazio e do incongruente.

Atualmente, quem oferece direção, mesmo que custosa, tende a dominar o debate. Quem apenas critica, sem propor caminho, fica à mercê dos erros do adversário e, neste momento, quem mais tem errado politicamente no Brasil é a ala conservadora.

 

 

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