29 de outubro de 2025
Politica

Boulos no governo provoca alas do PT que o veem como nome forte para furar a fila no pós-Lula

A entrada de Guilherme Boulos na “cozinha” do Palácio do Planalto é uma aposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com muitos desdobramentos políticos. É cedo para dizer que Lula quer Boulos como seu sucessor, mas esta é uma hipótese no tabuleiro, apesar das resistências no PT.

Escolhido para comandar a Secretaria-Geral da Presidência, Boulos toma posse nesta quarta-feira, 29, com a tarefa de retomar a conexão perdida entre o governo e os movimentos sociais. Terá duas grandes missões: 1) ser uma espécie de “mascate” digital, anunciando as boas novas do governo nas redes sociais e fazendo a disputa política e 2) investir nos territórios populares, com um olhar mais atento para a juventude e o novo mundo do “empreendedorismo”.

Apesar de ser recebido agora com tapete vermelho no Planalto, uma ala do PT o vê com desconfiança. Os “senões” ao novo ministro, hoje deputado licenciado do PSOL, refletem não apenas ciúme da sua proximidade com Lula, mas também o receio de que ele fure a fila petista e seja o herdeiro do espólio do presidente, em 2030.

Lula chegou a convidar Boulos para se filiar ao PT
Lula chegou a convidar Boulos para se filiar ao PT

A fila é encabeçada pelo titular da Fazenda, Fernando Haddad, mas conta, ainda, com outros personagens, como os ministros da Educação, Camilo Santana, e da Casa Civil, Rui Costa, além do prefeito do Recife, João Campos, que é presidente do PSB.

Poucos sabem, mas, depois das eleições de 2018, quando ainda estava preso em Curitiba, Lula convidou Boulos – que havia perdido a disputa presidencial – para se filiar ao PT. Queria que o ex-coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) fosse candidato a prefeito de São Paulo pelo partido, dois anos depois.

Boulos, no entanto, preferiu ficar no PSOL. Percebeu a grande resistência a seu nome nas fileiras do PT. A contragosto de Lula, Jilmar Tatto foi candidato do partido à Prefeitura, em 2020, e amargou a sexta posição.

Os episódios que se seguiram são conhecidos: Boulos desistiu de concorrer ao governo paulista, em 2022, e pediu votos para Fernando Haddad naquela campanha ao Bandeirantes. Em troca, o PT se comprometeu a apoiá-lo no ano passado para a Prefeitura. O partido cumpriu o acordo e refiliou Marta Suplicy para ser sua vice, mas não sem ouvir protestos de petistas que ainda defendiam uma chapa “puro-sangue”, liderada pelo PT.

Agora, prestes a lançar sua candidatura ao quarto mandato, Lula monta o jogo para 2026 com vários cenários, que dependem de quem será o seu desafiante na direita. Com a retomada da popularidade do presidente, porém, o PT já começa a subir no salto alto.

A Boulos caberá dar um “chacoalhão” no governo pela esquerda, mas também tentando atrair setores que hoje se veem mais representados pelo discurso bolsonarista, como o dos entregadores e motoristas de aplicativos.

Nesse capítulo, a briga com alas do próprio PT, que não admitem a nova realidade do mundo do trabalho, também é bastante acirrada.

“A questão é o que oferecemos como horizonte: se a defesa desses trabalhadores é feita apenas a partir do que a esquerda acha importante pra eles ou se colocamos na equação também aquilo que eles consideram importantes”, diz Boulos no livro de sua autoria, intitulado “Pra onde vai a esquerda?”.

Noves fora, com tantas divergências internas, ninguém arrisca dizer se Boulos será ou não o sucessor de Lula. Mas uma coisa é certa: se for, com certeza terá de se filiar ao PT.

 

 

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