Governo Lula não tem o que oferecer ao RJ no curto prazo, diz ex-secretário nacional de Segurança
O ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho afirmou nesta quarta-feira, 29, que o governo Lula não tem o que oferecer à segurança do Rio de Janeiro que dê resultado no curto prazo. Para ele, nem uma intervenção federal na segurança do Rio nem uma decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) teriam eficácia para resolver o problema no Estado.
Em entrevista à Coluna do Estadão, o coronel da reserva da Polícia Militar paulista também disse que a aprovação da PEC da Segurança no Congresso, uma das principais bandeiras da gestão petista, não teria evitado a operação mais letal da história do Rio de Janeiro nessa terça-feira, 28.
“No governo Temer houve uma intervenção federal na segurança do Rio. Colocaram mais de R$ 1 bilhão e o problema continuou. Então não é uma medida adequada”, observou.
Na avaliação do coronel, os remédios que o governo federal tem são de “emergência, internação e cirurgia”, enquanto o Rio “precisa de tratamento profundo”.
“O governo precisaria pensar num planejamento para o Rio de Janeiro de médio e longo prazo, cinco a dez anos, o que extrapola esse ano eleitoral. Porque a curto prazo só o Estado vai conseguir fazer mesmo. O governo federal não tem muito o que oferecer nessa hora difícil, a não ser apoio moral”, afirmou Silva Filho.
Segundo a Defensoria Pública fluminense, pelo menos 132 pessoas morreram na megaoperação policial contra o Comando Vermelho, que incluiu lançamento de bombas por drones controlados por integrantes da facção. Na manhã desta quarta-feira, 29, moradores do Complexo da Penha levaram ao menos 60 corpos para uma praça. Moradores disseram ao Estadão que havia cadáveres amarrados, decapitados e com ferimentos de facadas.
‘Se tivessem aprovado PEC da Segurança, estaria do mesmo jeito’
Questionado sobre a PEC da Segurança, defendida por integrantes do governo Lula após a operação policial no Rio de Janeiro, o ex-secretário nacional de Segurança Pública afirmou que a aprovação da proposta não trará consequências efetivas no combate ao crime organizado. “Se tivessem aprovado a PEC da Segurança um ano atrás, estaria do mesmo jeito”, disse.
“A PEC da Segurança não vai obrigar as polícias, inclusive a Polícia Federal, a ser mais eficientes na prevenção dos crimes, na redução da violência das facções. Dar mais poder às guardas municipais também não resolve esse tipo de problemas mais graves da segurança”, continuou Silva Filho.
‘Operação foi mal executada, mal comandada e mal controlada’
A megaoperação policial no Rio de Janeiro nessa terça-feira, 28, foi classificada pelo ex-secretário como “trágica”. “Uma quantidade de mortos desse tipo indica uma operação mal executada, mal comandada, mal controlada”.
O coronel da reserva da PM de São Paulo destacou o enorme impacto da retaliação de criminosos contra a operação na rotina do Rio. Ele citou bloqueios em 200 linhas de ônibus e 30 vias públicas, incluindo a Avenida Brasil.
“Em um jogo de futebol entre Corinthians e Palmeiras, por exemplo, o planejamento de segurança da PM prevê consequências em estações de metrô que ficam a 20 quilômetros do campo de futebol”, comparou.
