Narcoativismo: quando o discurso vira arma e a ideologia protege o crime
O que vimos nessa terça-feira (28) no Rio de Janeiro, nas operações realizadas nos complexos da Penha e do Alemão, vai muito além de mais um confronto armado. É o retrato fiel e amargo de um fenômeno que cresce diante dos nossos olhos: o narcoativismo, uma tentativa do crime organizado de vestir-se de discurso político e ideológico para justificar a barbárie e constranger o Estado.
Quatro policiais perderam a vida em serviço: Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho (Máskara), Rodrigo Velloso Cabral, Cleiton Serafim Gonçalves e Herbert. Dois eram do Bope; os outros, da Polícia Civil. Homens que carregavam a farda e o peso de enfrentar o terror imposto por facções que controlam territórios e ditam suas próprias leis.
Muitas vezes, afirmam que tais mortes são “efeitos colaterais”. Não são. Trata-se, pura e simplesmente, do preço da omissão, da inversão de valores e do enfraquecimento proposital das forças de segurança.
O narcoativismo se tornou uma estratégia perversa, em que o tráfico se alia ao discurso ideológico para minar a legitimidade da ação policial. Palavras e expressões como “genocídio”, “Estado opressor” e “polícia que mata” são manipuladas para construir uma narrativa em que o criminoso surge como vítima e o agente da lei, como agressor.
Essa inversão corrói o próprio coração do Estado Democrático de Direito. Ela nega à autoridade o poder legítimo de fazer cumprir a lei, substituindo o debate jurídico por manipulação emocional e política.
E qual resultado catastrófico disso? Observemos as ruas: a criminalidade se fortalece dia após dia, as comunidades seguem reféns e os policiais continuam enterrando seus colegas.
É simplesmente inaceitável que o combate ao crime precise ser justificado.
Inaceitável que um policial, ao reagir a uma emboscada, tenha de se explicar mais nas redes sociais do que nas ruas.
Inaceitável que a defesa da vida — princípio básico da Constituição — seja relativizada só porque a vítima vestia uma farda.
Cada policial morto nas operações cariocas não representa apenas uma estatística. São símbolos da falência moral de um país que romantiza o bandido e condena o herói. A omissão do Estado, disfarçada de discurso “humanitário”, torna-se cúmplice do sangue derramado.
Enquanto as câmeras distorcem e os discursos inflamam, a polícia segue nas ruas — em luto, mas de pé. Quem jurou servir e proteger não tem espaço para covardia, nem tempo para retórica. Há apenas a missão.
Que o Brasil acorde antes de o narcoativismo transformar o dever em culpa, o policial em vilão e o criminoso em mártir. Ou será tarde demais para despertar?
