2 de novembro de 2025
Politica

Defensoria avalia pedir federalização de investigação sobre operação no RJ, diz chefe do órgão

O defensor público-geral federal, Leonardo Magalhães, afirmou nesta quinta-feira, 30, que avalia pedir a federalização das investigações sobre a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, que deixou pelo menos 121 mortos na terça-feira, 28. Magalhães disse acompanhar o caso com “bastante preocupação” e ressaltou que moradores de favelas são oprimidos pelo Estado, mas também pelo crime organizado.

Em entrevista à Coluna do Estadão, o chefe da Defensoria Pública da União (DPU) disse ainda que o órgão tem a missão de defender qualquer pessoa, e vai acolher familiares de vítimas da megaoperação, tanto parentes de moradores de comunidades quanto de policiais.

“Muito provavelmente vamos reforçar o pedido de federalização das investigações relacionadas à megaoperação. Tudo indica isso. Estamos vigilantes. Agora é o momento de verificar e responsabilizar. Vamos analisar as informações prestadas pelo governo do Rio de Janeiro e decidir com base em provas”, afirmou Magalhães.

Defensor público-geral federal, Leonardo Magalhães
Defensor público-geral federal, Leonardo Magalhães

Nessa quarta-feira, 29, o PSB pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para federalizar o caso. O partido é o autor do processo conhecido como ADPF das Favelas, que busca reduzir a letalidade policial no Rio. Em abril, a Corte definiu uma série de regras para a atuação policial no Estado, o que a sigla alega que foi violado.

O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, convocou uma audiência pública na próxima segunda-feira, 3, com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL) e outras autoridades estaduais.

A Defensoria Pública fluminense diverge da gestão fluminense quanto ao número de mortos na operação. O governo informou 121 pessoas mortas. A Defensoria aponta que 132 foram assassinadas na megaoperação policial contra o Comando Vermelho, que incluiu o lançamento de bombas por drones controlados pela facção.

Na manhã dessa quarta-feira, 29, moradores do Complexo da Penha levaram ao menos 60 corpos para uma praça, o que fez o governo dobrar a contagem oficial de mortos. Moradores disseram ao Estadão que havia cadáveres amarrados, decapitados e com ferimentos de facadas.

‘Criminalidade também oprime as comunidades’

Para o defensor público-geral federal, a crise na segurança pública é resultado de um cenário estrutural de desigualdade social, em que as facções criminosas aproveitaram a omissão do poder público.

“A DPU recebe muitos casos de famílias do Minha Casa Minha Vida que foram obrigadas pelo tráfico a deixar o imóvel. Onde está o Estado? São pessoas que não experimentam direitos básicos. Não é só o Estado, mas a criminalidade também oprime essas pessoas”.

Magalhães avaliou que a solução para superar a escalada da violência não inclui apenas o conflito armado, mas políticas públicas executadas a longo prazo.

“O Estado muitas vezes não está presente na educação, na saúde, e vai aparecer logo na repressão. Enquanto a gente não discutir políticas efetivas de redução de desigualdades estruturais, de desigualdades socioeconômicas, vai continuar esse ciclo de violência, infelizmente”.

Megaoperação policial no Rio de Janeiro, com 121 mortos, foi mais letal do que o Massacre do Carandiru
Megaoperação policial no Rio de Janeiro, com 121 mortos, foi mais letal do que o Massacre do Carandiru

‘Estado pune com prisão, não execução’

Questionado sobre a declaração do governador do Rio de Janeiro de que houve apenas quatro vítimas dentre os mais de cem mortos, em referência aos policiais assassinados, o chefe da DPU discordou. Respondeu que todos os mortos foram vitimados na megaoperação.

“A vida humana não pode ser mensurada. Foram dizimados os policiais e foram dizimadas pessoas da comunidade que podem ou não estar envolvidas com o crime. Ninguém pode ser privado da vida sem o devido processo legal. Todos têm direito a um julgamento. A forma como o Estado pune crimes é com prisão, não com morte ou execução”.

Policial tem direito de legítima defesa, com razoabilidade

O defensor público-geral federal ressaltou que os desafios enfrentados pelos policiais são extremos, e lembrou que integrantes do Comando Vermelho lançaram bombas por drones.

“O agente público que tem sua vida ameaçada exerce um direito de legítima defesa, mas com proporcionalidade e razoabilidade. Nós sabemos a dificuldade, também, das forças policiais no combate à violência. Todos nós somos contra o crime, todos temos direito à segurança, tanto nas áreas ricas quanto nas comunidades periféricas”.

Cenário de guerra durante megaoperação policial no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho
Cenário de guerra durante megaoperação policial no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho

 

 

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