7 de novembro de 2025
Politica

Estado desaparece antes mesmo de recolher corpos, enquanto esquerda e direita fazem guerra eleitoral

Bastaram poucas horas após o fim da operação policial que deixou centenas de mortos e dezenas de presos no Rio de Janeiro para ficar claro que pela inépcia do Estado e pelos interesses eleitorais dos políticos brasileiros, o resultado tende o mesmo de ofensivas anteriores, com efeito limitado no combate a organizações criminosas.

Um dos pontos essenciais para é perceber o fato de o Estado ter desaparecido do local imediatamente após a ação. Após os confrontos mortais, a polícia se retirou e não havia nem perícia, nem bombeiros ou defesa civil por lá para recolher os corpos em região de mata. Isso coube aos próprios moradores que se mobilizaram para colocá-los em uma praça onde foram exibidos à imprensa para, só depois, horas depois, aparecerem representantes do Estado para levá-los dali ao Instituto Médico Legal.

Corpos de mortos da megaoperacao de ontem dia 28, recolhidos pelos próprios moradores e colocados em uma praça na Penha
Corpos de mortos da megaoperacao de ontem dia 28, recolhidos pelos próprios moradores e colocados em uma praça na Penha

Não houve investigação no local, nem assistência às comunidades. Nem psicológica, nem segurança contra possíveis represálias a moradores. Nada. Aos residentes da comunidade, principais vítimas da tragédia do tráfico, restou a companhia não os agentes da institucionalidade mas, muito possivelmente, de representantes da mesma organização criminosa que no dia anterior combatia contra a polícia. São aqueles que não foram presos, nem mortos e que seguirão convivendo com a comunidade e recrutando, entre jovens pobres, os que vão fazer parte do próximo Exército que vai matar e ser morto.

Se nem para recollher corpos de mortos pela polícia o Estado contribui, como imaginar que a comunidade efetivamente está protegida da criminalidade?

A segunda mensagem de que a ação é mais pirotecnia do que de fato combate ao crime organizado é a politização do tema. Por todas as partes. O governador do Rio criou até uma frase de efeito para fingir que de fato, agora, na reta final de seu mandato, combate, sozinho, a crimilidade: “ou soma ou suma”. Enquanto ele dava coletiva, o governo federal fazia sua própria reunião, apartada das autoridades estaduais, e com a presença até do ministro da Comunicação (!) para discutir a reação (eleitoral?) à operação no Rio.

Antes, os governadores de oposição já recheavam as redes com críticas ao governo federal e organizavam uma visita ao Rio para exibirem-se eleitoralmente. Como se tivessem descoberto nesta semana a gravidade do problema da criminalidade. O de Goiás, Ronaldo Caiado, chegou a oferecer tropas. Imagine só um policial de Goiás que não conhece uma viela sequer no Rio subindo a favela para combater o CV, o que nem os mais especializados policiais do Rio conseguem hoje sem efeitos colaterais trágicos.

No Congresso, Hugo Motta prometeu que, enfim, vai agilizar a PEC da Segurança Pública. E Davi Alcolumbre anunciou a instalação da CPI do Crime Organizado, na qual engravatados de olho na disputa de outubro de 2026 vão trocar acusações sobre de quem é a culpa para o problema.

Os debates estão contaminados. Sobre a PEC, governadores travam as discussões por não quererem perder o poder e o controle sobre a atuação das forças de segurança que, muitas vezes, sofrem com a infiltração do próprio crime e que enxugam gelo a cada ação pontual e estanque como a que foi vista nesta semana. A direita também não aceita discutir o libera geral para os CACs promovido na gestão Bolsonaro, de quem os bandidos têm comprado armas de grosso calibre e munição, como mostram as investigações. E a esquerda resiste em endurecer mais as regras em presídios ou as penas, enquanto o presidente Lula discursa chamando traficantes de vítimas dos usuários.

O debate que importa a todos eles é eminentemente eleitoral. Não há qualquer arremedo de união ou de projeto de combate ao crime no Brasil. Em vez de combatê-lo com inteligência e ação coordenada, o esforço é para imputá-lo ao adversário ou exibir-se mostrando alguma ação de pouco fôlego quando a sociedade olha para isso com mais afinco. O que há escancarado é a mensagem de que, no dia seguinte, o Estado desaparece da cena do crime ou da guerra e sobram apenas os candidatos, cada um falando para seu eleitor.

 

 

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