Mijão do PCC usa ‘método Queiroz’ para lavar dinheiro do crime organizado
Uma anotação sobre 324 comprovantes de depósito bancários levou os promotores do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em Campinas (SP) a descobrir que o grupo ligado ao traficante de drogas Sérgio Luiz de Freitas Filho, o Mijão, do Primeiro Comando da Capital (PCC), estava usando o chamado ‘método Queiroz’ para movimentar recursos sem chamar a atenção dos órgãos de fiscalização e de Inteligência financeira, como o Conselho de Controle de Atividades Econômicas (Coaf).

Os depósitos fracionados e em dinheiro feitos em caixas eletrônicos eram o método usado pelo policial aposentado Fabrício Queiroz para movimentar dinheiro, segundo o que foi apurado durante a investigação do esquema da rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio. O mesmo método foi detectado pelo Gaeco em documentos encontrados com José Ricardo Ramos, preso em 29 de agosto, durante a Operação Pronta Resposta, que revelou planos de Mijão para matar o promotor Amaury Silveira Filho, do Gaeco de Campinas.
Na casa de Ramos, foram apreendidos 324 comprovantes de depósitos bancários em nome de terceiros, “os quais estavam organizados em montes com clips”, conforme relato dos promotores. Além destes comprovantes, o Gaeco localizou e apreendeu um “caderno espiral contendo anotações relativas a transações bancárias dessa natureza, apontando que teriam sido depositados um total de R$ 675.050,00″.
Ramos foi apontado como o braço operacional do plano para matar o promotor. Dono da JR Ramos Transportes, que teria recebido a promessa de “incrementar sua aliança” com líderes do PCC. Ramos tem passagens por homicídio qualificado, receptação e roubo. O caderno apreendido com ele indica que os depósitos teriam sido feitos em um único dia. Mas os comprovantes mostravam um valor um pouco menor: R$ 669.050.
“A materialidade revela um modus operandi típico de fracionamento intensivo de numerário (smurfing), com centenas de aportes em espécie, de pequeno valor unitário, executados de forma concentrada no tempo e dispersa em terminais de autoatendimento, para dificultar detecção e rastreabilidade”, escreveram os promotores do Gaeco.

Ao todo, foram depositadas 13.379 cédulas de R$ 50,00 e uma cédula de R$ 100,00, todas no dia 8 de julho de 2025, uma terça-feira, no intervalo das 12h31 às 17h30, em três agências distintas do Banco Itaú, em Campinas. Os depósitos foram distribuídas por diversos terminais das três agências – R$294.350 em uma, R$250.150 em outro e R$124.550 na terceira.
De acordo com os promotores, 81% dos valores (R$ 554.500) foram lançados em agências próximas ao bairro São Fernando e 19% restantes (R$ 124.550) no Shopping Dom Pedro, nas imediações da casa de Ramos. Os promotores obtiveram as imagens das câmeras de segurança das agências bancárias, mostrando que Ramos e outros dois investigados – Bárbara Batista Borges e Maurício Conti – foram os responsáveis pelos depósitos.
Os promotores destacaram em representação à Justiça que Conti já foi processado por tráfico de drogas e uso de documento falso. Parte dos recursos detectados pelo Gaeco foi transferida para a conta de uma transportadora do empresário Renan Castelhano. Os promotores verificaram que a conta Itaú da empresa que recebeu o dinheiro havia sido aberta em 3 de julho, ‘apenas cinco dias antes do derrame de valores’. Antes, ela abriu uma conta entre março e agosto em outro banco. E, depois, abriu contas em outros três.
“Além de utilizar a estrutura de suas pessoas jurídicas para permitir robusta lavagem de dinheiro, (Renan) também abria e fechava contas rapidamente, para cada ato de lavagem, a fim de impedir as apurações por parte dos órgãos de investigação”, afirmam os promotores. Bárbara, Renan e Conti tiveram as prisões preventivas decretadas pelo juiz Caio Ventosa Chaves, da 4.ª Vara Criminal de Campinas, a pedido do Gaeco, e estavam entre os alvos da operação desencadeada nesta quinta-feira, dia 30, contra o grupo de Mijão.
