2 de novembro de 2025
Politica

Organizações criminosas pela Europa

Se o Brasil, através das suas Instituições Policiais e judiciais, pretende realizar um eficiente combate às organizações criminosas que agora se instalam aqui, precisa voltar a sua atenção para as Organizações Criminosas que já existem há mais tempo, e entender o seu funcionamento no âmbito do estudo da criminologia, para depois analisar quais e quantas medidas legais e judiciais podem e devem ser aplicadas de forma a viabilizar um mínimo de eficiência no seu combate.

Não é possível agir de forma aleatória ou desordenada nessa área de atuação porque cada erro pode custar anos ou décadas de sofrimento à população, que necessita de um Estado forte e atuante. Segurança pública é critério essencial à qualidade de vida do cidadão, e não é mais possível permitir a instalação de um Estado Paralelo que pode chegar a mandar mais do que as Autoridades constituídas através da escolha popular.

Vamos então referir brevemente, apenas a título exemplificativo, algumas das Organizações Criminosas do âmbito do continente Europeu:

ITÁLIA. Começando com as mais conhecidas. As máfias italianas começaram a emergir principalmente no sul da Itália por volta do século XIX, coincidindo com a unificação do país pelo Rei Vittorio Emmanuele e pelo seu general Guiseppe Garibaldi.

Esse termo: “máfia” usado nos dias de hoje para definir organizações criminosas hierarquizadas, segundo o historiador inglês John Dickie, teve provável origem no dialeto siciliano e pode ser traduzido para algo como arrogante, atrevido, audaz, dentre outras coisas. Dentre as organizações italianas mais famosas estão:

Cosa Nostra: Esta é de longe a máfia mais conhecida e retratada em filmes, livros e séries, com notáveis mafiosos famosos como Matteo Messina Denaro, Tomaso Buscetta (que fugiu para o Brasil) e Salvatore (Totò) Riina. Suas principais fontes de receita incluem: a extorsão, tráfico de armas, venda de drogas e também a lavagem de dinheiro.

Os membros da Cosa Nostra valorizam muito a discrição e evitam ao máximo ostentar a riqueza de forma desnecessária. É importante salientar que eles não fazem isso por conta de humildade, já que eles não têm nenhuma, é simplesmente para não atrair a atenção das autoridades policiais

Agora, sobre a a estrutura hierárquica. Ela é bastante rigorosa, sendo seguida de forma quase que militar, sendo composta por:

  1. Capo ou Boss (comandante supremo)
  2. Vice Capo (o segundona na hierarquia de poder)
  3. Consigliere (o conselheiro, alguém muito próximo)
  4.  Capodecina (o comandante de dez soldados)
  5.  Soldato (soldado)
  6. Os associados (não são membros oficiais)

Todos eles, com exceção dos associados que ainda não são considerados membros oficiais, devem precisam prestar um juramento de fidelidade, que envolve um ritual de derramar sangue em uma santa em chamas, prometendo nunca trair a organização: “Que a minha carne arda como essa santa se eu falhar no meu juramento”

Ndrangheta: Chamada de “A Santa”, esta máfia tem origem na Calábria, no extremo sul da Itália, e seu nome significa “valente” ou “feroz”. Atualmente, é a mais poderosa e disseminada, sendo também a mais enigmática, composta por várias famílias chamadas “Ndrinas”, que seguem um código de honra semelhante ao da Cosa Nostra. Entre suas regras estão a proibição de colaborar com a polícia, cobiçar a mulher de outro e roubar de uma família. Seus membros mantêm sempre uma munição na arma para o caso de falhas. A Ndrangheta é atualmente aliada do PCC no Brasil e controla um dos principais pontos de tráfico de drogas da Europa, e o Estreito de Gibraltar.

Camorra: Originária de Nápoles, a Camorra é considerada uma continuação de uma organização secreta que remonta à Idade Média. Não possui um único líder, mas sim vários clãs que gerenciam suas operações em territórios distintos. Suas atividades incluem jogos de azar, lavagem de dinheiro, tráfico de armas, prostituição, extorsão, fraude e, como as demais, tráfico de drogas, com membros espalhados pelo mundo e alianças com outras máfias italianas. Ao contrário da Cosa Nostra, suas operações são delimitadas por território, e não por Famiglias.

Sacra Corona Unita: Essa máfia é a menos conhecida e a mais fraca das quatro principias da Itália. Mas mesmo assim ela é forte e poderosa. A Sacra Corona Unita começou a atuar na região da Puglia, sendo ela formada principalmente por presidiários de outra máfia já mencionada antes, a Camorra. Atualmente, os integrantes priorizam o comércio com os Balcãs pela proximidade geográfica, traficando principalmente drogas, armas e o tabaco.

RÚSSIA. Na Rússia, a máfia é conhecida como “братва” (Bratva), que significa “irmandade”. Esses grupos, originários de grandes cidades como Moscou e São Petersburgo, exercem um controle significativo sobre a economia russa e utilizam táticas mais agressivas do que as máfias italianas. A Bratva se destaca não apenas pela sua brutalidade, mas também pela sua capacidade de infiltração nas estruturas de poder, uma vez que muitos de seus líderes têm histórico em organizações estatais, como a KGB. Essa conexão facilita a corrupção e a manipulação política, permitindo que a máfia opere com relativa impunidade.

Um aspecto da cultura das “Bratvas” são as diferentes tatuagens, que funcionam como uma linguagem cifrada, permitindo a identificação de membros dentro da organização e nas prisões. Essas tatuagens servem como ritos de passagem e punições, refletindo a hierarquia e os valores do grupo. Exemplos de tatuagens incluem: Mulher (no caso uma Madona) segurando um filho, que simboliza lealdade; a rosa dos ventos, que pode indicar um cargo elevado ou que o criminoso não se ajoelha perante ninguém, nem mesmo Deus; o farol, que representa liberdade; a sereia, associada à pedofilia; e os olhos, que indicam homossexualidade.

Além disso, os grupos russos são notoriamente habilidosos em crimes cibernéticos, realizando fraudes bancárias, sequestros, contrabando de armas, exploração sexual e tráfico de drogas pesadas para a Europa, com uma parte significativa das drogas proveniente da América do Sul. A receita anual desses grupos é estimada em bilhões de dólares, evidenciando a magnitude e a complexidade de suas operações. Misha Glenny enfatizou que a interconexão entre crime e economia, juntamente com a corrupção política, cria um ambiente propício para a expansão do crime organizado, destacando a necessidade de uma reflexão crítica sobre o papel da sociedade na perpetuação dessas redes criminosas.

ALBÂNIA. A máfia albanesa teve o seu início como um grupo de criminosos bem pequeno que se envolvia na venda de heroína e maconha localmente. Com o tempo, eles expandiram-se e passaram a controlar uma porção substancial do tráfico de maconha pela Europa.

Atualmente composta por cerca de quinze famílias principais (como o clã Kamila, um dos maiores do mundo) faturando milhões de euros por ano.

Assim como os russos, os albaneses também possuem tatuagens com significados que identificam os membros da organização, como por exemplo: Duas serpentes em forma de pistolas (referência à bandeira da Albânia) e a cabeça de uma mulher com coroa e lenço com a bandeira albanesa.

Suas receitas provêm principalmente do tráfico de drogas (em grande parte da América Central e do Sul), além do tráfico de armas e exploração humana. Hoje, muitos acreditam que a Albânia seja o único narcoestado da Europa, uma vez que o país é amplamente controlado por facções criminosas.

A luta contra o crime organizado não é uma mera questão de ordem pública ou de administração normal da justiça. Requer categorias cognitivas inovadoras e flexibilidade operacional”. Aldo Musci

 

 

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