1 de novembro de 2025
Politica

Lula, Paes, governadores: como os políticos reagiram à crise no Rio, a menos de um ano das eleições

BRASÍLIA – A megaoperação policial contra o Comando Vermelho (CV) que deixou 121 mortos, deflagrada no Rio de Janeiro na terça-feira, 28, colocou o Palácio do Planalto cauteloso, reuniu governadores de direita, mobilizou discussões na Câmara dos Deputados e motivou abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado. Tudo isso a menos de um ano para as eleições que renovarão o Congresso Nacional e os comandos dos Executivos estaduais e federal.

A pauta da segurança pública continua sendo uma das principais armas de pressão da oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deixou figuras próximas ao petista receosas em saber qual seria a melhor mensagem que poderia ser dita ao público.

Corpos de mortos da megaoperacao na zona norte do Rio de Janeiro
Corpos de mortos da megaoperacao na zona norte do Rio de Janeiro

O presidente fez o seu primeiro posicionamento sobre em uma publicação nas redes sociais na noite da quarta-feira, 29. “Não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades. Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”, disse.

Lula também pediu que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal auxiliassem nas ações no Rio de Janeiro. “Determinei ao ministro da Justiça e ao diretor-geral da Polícia Federal que fossem ao Rio para encontro com o governador. Não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades. Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”, afirmou o presidente.

No Palácio do Planalto, assessores encomendaram uma pesquisa com foco em duas perguntas: se a operação no Rio de Janeiro foi certa ou errada e sobre quem são os responsáveis. Os dados serão recebidos e analisados na próxima semana. Até lá, a ordem é ainda de mais cautela nas declarações de Lula.

A AtlasIntel foi o primeiro instituto a divulgar a opinião dos brasileiros sobre o episódio. O levantamento divulgado nesta sexta-feira, 31, mostra que a maioria dos brasileiros (55,2%) aprova a ação. Desaprovam 42,3%.

Na cidade do Rio, o apoio é ainda maior: 62,2% aprovam a megaoperação, e 62,3% dizem que a força policial agiu de forma adequada. Entre moradores de favelas, o respaldo chega a 80%, contra 51% entre os que vivem fora dessas áreas.

Antes mesmo de Lula falar, governadores de direita se mobilizaram. O governador do Rio, Cláudio Castro (PL) anunciou a criação de um consórcio de segurança pública para que Estados se apoiem no enfrentamento ao crime organizado. A iniciativa recebeu o nome de “Consórcio da Paz”.

Participaram do encontro presencialmente no Rio de Janeiro, no dia seguinte à operação, os governadores de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Goiás e Mato Grosso do Sul, além da vice-governadora do Distrito Federal. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), participou de forma remota.

Na quarta-feira, Tarcísio também foi às redes sociais comentar a operação do Rio e levantar a pauta da segurança pública. O governador de São Paulo, que é um dos possíveis nomes a disputar a Presidência da República com Lula, manifestou solidariedade a Castro. “Não se pode imaginar que esses criminosos não sabem o que fazem ou que são vítimas da sociedade. Eles impõem o terror, atacam agentes de segurança do Estado, escravizam pessoas e levam dor e sofrimento a inúmeras famílias”, afirmou. “Clausewitz dizia que uma guerra só é vencida quando o território é conquistado, o poder militar é destruído e a vontade é subjugada.”

Tarcísio indicou que é preciso encarar o crime organizado com vigilância de fronteiras, avanço no combate à lavagem de dinheiro e no financiamento do crime, com cooperação e compartilhamento de informações.

No evento de anúncio da criação do consórcio, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), fez ataques a Lula. Ele disse que as pessoas terão que decidir se querem ficar “ao lado de Lula e de Maduro” ou dos governadores que ali estavam. Caiado já se anunciou como pré-candidato à disputa presidencial de 2026.

Em suas primeiras declarações, o governador do Rio fez ataques ao governo federal ao afirmar que pediu ajuda ao Planalto e não teve respostas. Na manhã de quarta-feira, Castro disse que o governo do Estado “não vai ficar chorando por ajuda do governo federal no combate ao crime”. “Quem quiser somar com o Rio de Janeiro nesse momento no combate a criminalidade é bem-vindo. Os outros que querem fazer confusão, que querem fazer politicagem, a nosso único recado é: suma. Ou soma ou suma”, afirmou.

Mias tarde no mesmo dia, ao lado do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, Castro anunciou a parceria firmada com o governo federal. “Tivemos um diálogo importante. Se o problema é nacional, o Rio de Janeiro é um dos principais focos. Daqui saiu uma proposta concreta: a criação de um Escritório Emergencial de Enfrentamento ao Crime Organizado”, disse Castro.

Mirando o cargo de Castro em 2026, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), também comentou a operação. “O Rio de Janeiro não pode, e não vai, ficar refém de grupos criminosos que buscam espalhar medo pelas ruas da nossa cidade. Eu determinei a todos os órgãos municipais que mantivessem o funcionamento normal de suas atividades e auxiliassem a população em caso de necessidade”, disse ainda na tarde da terça-feira.

Como mostrou o Estadão, Paes, que já tem Lula como aliado, vive um dilema, já que nas últimas semanas ele intensificou gestos ao PL para trazê-los ao palanque em 2026. Foi o PL quem travou a disputa com o atual prefeito na eleição de 2020, que acabou indo ao segundo turno. Paes tem ao seu favor o fato de que Castro não conseguiu emplacar um sucessor direto para o seu cargo.

Sem poder tentar a reeleição, o governador vai para 2026 desejando uma das duas vagas ao Senado. Ele tem o favoritismo para ser um dos dois indicados do PL para a vaga. O outro será o já senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Flávio, que é presidente da Comissão de Segurança Pública do Senado, foi um dos principais parlamentares da oposição que aproveitou a operação para criticar Lula. “Enquanto um fala que é vítima (referência a pronunciamento de Lula, que disse que traficantes são ‘vítimas dos usuários de drogas’), Jair Bolsonaro sempre está do lado certo”, escreveu Flávio em publicação, compartilhando um vídeo em que o ex-presidente defende policiais que matam pessoas durante operações de combate.

No Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), presidente da Casa, agiu rapidamente e determinou a instalação da CPI do Crime Organizado. “A comissão irá apurar a estruturação, a expansão e o funcionamento do crime organizado, com foco na atuação de milícias e facções”, disse Alcolumbre, em comunicado. “É hora de enfrentar esses grupos criminosos com a união de todas as instituições do Estado brasileiro, assegurando a proteção da população diante da violência que ameaça o País.”

Do outro lado do Congresso, a tribuna da Câmara moveu discussões intensas. Deputados da oposição reforçaram críticas a Lula. Na quarta-feira, o deputado André Fernandes (PL-CE) disse que a operação “só não foi perfeita por causa das mortes dos nossos guerreiros policiais” e pediu um minuto de aplausos por mortes na operação. “Como já foi dado um minuto de silêncio aos quatro policiais militares e civis do Rio de Janeiro, eu gostaria de pedir que esta Casa fizesse, neste momento, um minuto de aplausos para os mais de cem bandidos assassinados no Rio de Janeiro”, disse. “Pode chegar a 200, 300, o quanto seja necessário.”

Já a bancada de deputados de esquerda do Estado fez críticas a Castro, chamou a operação de “chacina” e pediu ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), para instalar uma comissão externa para fazer oitivas e diligências.

“A atitude desse governador é criminosa e ele mentiu do começo ao fim”, disse Lindbergh Farias (RJ), líder do PT na Câmara, que defendeu a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, apresentada pelo governo Lula. Lindbergh também foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedir o afastamento de Castro.

Dois ministros da Corte também comentaram a operação. Flávio Dino chamou a operação de “circunstância terrível, trágica”. O ministro também afirmou que o STF não pode “legitimar o vale-tudo com corpos estendidos e jogados no meio da mata”. “Isso não é Estado de Direito”, criticou.

O ministro Gilmar Mendes, decano do STF, classificou a operação no Rio como “lamentável episódio”. “A toda hora vivemos situações de graves ações policiais que causam danos às pessoas ou mesmo a morte de várias pessoas, como acabamos de ver nesse lamentável episódio do Rio de Janeiro”, disse.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *