Direita avança sem Bolsonaro, ameaça pauta do governo e põe favoritismo de Lula em xeque
Após as 121 mortes na operação policial do Rio, acusada de chacina pela esquerda, aplaudida pela direita e apoiada pela sociedade, segundo as pesquisas, a oposição se realinhou e ganhou novo ânimo e a bandeira da insegurança para superar a dependência de Jair Bolsonaro e enfrentar o favoritismo de Lula para 2026. O ambiente político, já tão instável, sofreu mais um solavanco.
Lula, que vinha deslizando na pista eleitoral praticamente como candidato único, deve se preparar para fortes obstáculos no Congresso, onde não se fala mais de anistia ou dosimetria para Bolsonaro, mas a pauta saiu da economia, prioritária para o governo, e desabou na segurança, solo fértil para a direita.

Tudo caminhava para um fim de ano festivo para Lula, mas pode terminar 2025 com a derrota acachapante da PEC da Segurança no Congresso e entrar o ano eleitoral enfrentando a CPI das organizações criminosas, comandada pela oposição e focada em martelar que a esquerda “defende bandido”, é “contra a polícia” e “conivente com o tráfico”. E esquecendo que foram os Bolsonaro que deram a maior comenda da Alerj para um miliciano preso, sanguinário e depois morto pela polícia.
Qual um Dom Quixote, o ministro Ricardo Lewandowski usa a PEC como sua lança desde o início da sua gestão na Justiça, mas seus moinhos não são de vento, são concretos, ou de concreto, começam na Casa Civil, estendem-se pelos estados e assentam-se no Congresso — contra a PEC.
Segundo o ministro, o ponto central é dar maior cobertura legal para a atuação federal contra o crime organizado e garantir o compartilhamento de informações e o esforço conjunto de União, Estados e municípios. Não é essa, porém, a percepção dos governadores de oposição nem do próprio relator da PEC a Câmara, deputado Mendonça Filho (UB-PE).
Para ele, a proposta concentra o comando da segurança pública em Brasília e precisa de “mudanças profundas”. Com essa posição do relator, uma base precária, o Centrão dando as cartas, a direita e boa parte da sociedade querendo sangue, a PEC tende a virar do avesso. Do outro lado, o governo parece tonto, sem saber o que dizer, como reagir.
Na CPI, que vai correr em paralelo, o que menos interessa é que a escalada espantosa da violência é uma derrota de décadas, da direita e da esquerda e de governos, uns atrás dos outros. Os únicos vitoriosos são o PCC, o CV e seus filhotes. A verdade não importa. CPIs sempre miram no governo de plantão, principalmente se ele está em vantagem para a eleição seguinte.
Presidente do Senado e “amigão” de Lula, Davi Alcolumbre foi rápido no gatilho e deu o start da CPI, que deverá Flávio Bolsonaro, Sérgio Moro, Magno Malta e até Marcos Do Val, o esquisitão que se diz da SWAT, conta histórias mirabolantes e está de licença.
Os governadores que aplaudiram Cláudio Castro e a centena de mortes no Rio criaram um consórcio que pode ser tudo, menos “da paz”, e serão decisivos para os rumos da PEC, da CPI e do tabuleiro de 2026, com a direita se livrando de Bolsonaro e ganhando o próprio rumo.
E o Governo? Está às voltas com um dilema: como compatibilizar o discurso histórico de Lula e do PT com a posição majoritária do eleitorado na prioritária e explosiva área da segurança pública?
