‘Eden’ defende a superioridade dos medíocres frente aos desafios da vida
“Eden”, de Ron Roward, disponível na Prime Vídeo, nem estreou nos cinemas brasileiros. A despeito de um elenco estelar que inclui Sydney Sweeney, Ana de Armas e Jude Law, fracassou nas salas de cinemas americanos. O filme anterior de Ana de Armas, Ballerina, com personagens sem profundidade e uma profusão de tiros, estreou em dezenas de salas no Brasil e no mundo. Algo semelhante costuma ocorrer com os filmes de Sweeney ou Jude Law.
O suposto malogro comercial de “Eden” pode ser por sua virtude. É um filme que trata de filosofia – exige outro nível de atenção. Aborda, especificamente, posturas filosóficas de encarar a vida e quais são as consequências e os preços a pagar por elas.

A história – inspirada em fatos ocorridos no começo dos anos 30 – é sobre um grupo de pessoas que resolve recomeçar a vida, radicalmente, na ilha de Galápagos, no Equador, a partir dos próprios recursos.
O primeiro é o do intelectual Friedrich Ritter (Jude Law), que, com sua esposa Dore Strauch (Vanessa Kirby), vai viver na ilha em busca de escrever sua grande obra filosófica. Abandona a medicina, isola-se de uma sociedade que considera corrompida. O casal busca uma pureza moral que não consegue encontrar na civilização alemã, de onde vêm. Ritter e esposa acham que, com o livro, haverá uma revolução no mundo, que irá adaptar-se ao que há na sua mente.
O segundo grupo é formado pelo casal alemão Heins e Margret (Daniel Brühl e Sydney Sweeney), que chegam ao local com o filho adolescente e tuberculoso do casamento anterior do marido (Jonathan Tittel). Heins aparentemente é um funcionário público que abandona a Europa para viver no meio do nada apenas do fruto de seu trabalho. Sua mulher, submissa, o apoia nessa aventura algo insana. Pessoalmente, não têm a formação ou o charme do intelectual Ritter e sua esposa Dore. Possuem uma ética calvinista de trabalho persistente e superação de dificuldades passo a passo.
Finalmente, o terceiro grupo, formado pela atraente baronesa Eloise Bosquet de Wagner Wehrhorn (vivida por Ana de Armas), seus dois amantes, Robert Phillipson (Toby Wallace) e Rudolph Lorenz (Felix Kammerer), além de um servo, o equatoriano Manuel Borja (Ignacio Gasparini). Frívola, burlesca, a baronesa chega com a intenção delirante de construir um grande resort na ilha. Ana de Armas representa o hedonismo, a vida como sedução, irresponsabilidade, egoísmo e prazer.
O outro personagem é a própria ilha. Que oferece condições extremas para todos os seus habitantes. É preciso lutar por comida, pela água, contra os cachorros selvagens, contra os insetos, contra as doenças. Mostra que, em determinado momento, não haveria saídas para os impasses humanos fora do apelo à violência. A ilha, no caso, é o simbolismo da própria vida e seus desafios imperiosos.
Ocorre que a interação desses grupos, somada com as intempéries do ambiente hostil, será fatal para todos que não tenham uma ética profunda de enfrentamento às adversidades que, em tese, é atribuída aos conservadores. Hedonismo, intelectualismo sucumbem frente ao real. Triunfa a suposta mediocridade do esforço contínuo de uma família, sem maiores reflexões, sem maiores elucubrações, com a consciência implícita de que a busca pelo prazer como forma de vida ou achar que o mundo pode se adaptar a um esquema mental são apenas ilusões vãs.
