Resistência no eleitorado feminino é desafio de Tarcísio em busca de reeleição ou Planalto em 2026
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Cotado para disputar a Presidência da República em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), enfrenta um desafio em um segmento decisivo do eleitorado: as mulheres. Pesquisas de intenção de voto e de avaliação de governo indicam que, assim como o seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador tem maior apelo entre os homens.
Em nota, a gestão estadual disse que “atua de forma firme e transparente, desde o primeiro dia de trabalho, na promoção de políticas públicas voltadas à proteção, acolhimento e autonomia feminina”. Acrescentou ainda que, sob o governo Tarcísio, foi criada uma secretaria dedicada exclusivamente às demandas das mulheres, além de um movimento, chamado “SP Mulher”, voltado a ampliar a visibilidade das políticas públicas.
“Dessas novas práticas nasceram programas importantes em áreas como Desenvolvimento Social, Saúde, Educação e Segurança. Na área da segurança, por exemplo, foram criados o protocolo Não se Cale, o app Mulher Segura, as Cabines Lilás, o Ônibus SP Por Todas, o Programa Abrigo Amigo e um programa de ampliação das DDMs 24h”, disse a gestão.
Um levantamento da Paraná Pesquisas, divulgado em 14 de outubro, deixa evidente a disparidade de Tarcísio entre os gêneros. Num cenário em que disputa a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes contra Geraldo Alckmin (PSB), Erika Hilton (PSOL), Paulo Serra (PSDB) e Luiz Felipe d’Ávila (Novo), o governador soma 48,3% das intenções de voto. O índice, no entanto, chega a 55,8% entre os homens e passa para 41,7% entre as mulheres.
Outras pesquisas apontam na mesma direção. Com três meses de mandato, pesquisa Datafolha mostrou que 44% dos paulistas avaliavam o governo Tarcísio como ótimo ou bom — 46% dos homens e 43% das mulheres. Dois anos e quatro meses depois, o quadro mudou: a aprovação geral oscilou para 41%, com o apoio masculino se mantendo no mesmo patamar e o feminino indo para 37%.
A diferença de desempenho entre os gêneros destoa do observado em gestões tucanas no Estado. Alckmin, por exemplo, tinha 52% de aprovação entre as mulheres e 51% entre os homens no Datafolha feito dois anos e cinco meses após o início de seu terceiro mandato em São Paulo. José Serra, com o mesmo tempo de gestão, aparecia com 56% de ótimo e bom entre as eleitoras e 55% entre os homens.
Analistas elencam uma série de razões para explicar essa diferença. Para Renato Dorgan, especialista em pesquisa eleitoral e CEO do Instituto Travessia, o eleitorado feminino tende a ser mais preocupado com a gestão e com o desempenho do governo em áreas como educação, transporte e segurança, justamente setores em que levantamentos qualitativos indicam maior desgaste para a administração Tarcísio.
“A imagem do Tarcísio, em geral, é maior do que a do próprio governo. Mas, no caso das mulheres, elas estão mais preocupadas com a gestão. E as pesquisas qualitativas indicam que o governo de São Paulo não tem sido bem avaliado em áreas sensíveis, como educação e transporte. As mulheres são as que mais sofrem com a superlotação dos trens e metrôs, por exemplo. Também há problemas na segurança pública, principalmente na capital paulista e na Região Metropolitana”, explica o especialista.
Para ele, o próprio perfil do governador também tende a agradar mais aos homens. “O voto feminino está cada vez mais diferente do masculino, principalmente nas classes B e C, que são a maioria do eleitorado de São Paulo. O discurso em prol de uma polícia mais incisiva e episódios como aquele da martelada na B3 ajudam a afastar o público feminino.”
O consultor político Felipe Soutello destaca que as pesquisas apontam Tarcísio como o primeiro governador paulista deste século com rejeição maior entre as mulheres – os demais tinham equilíbrio em relação aos homens ou uma aprovação maior no eleitorado feminino.
“A conexão com Bolsonaro é a explicação mais evidente do problema”, avaliou o especialista, responsável pelas campanhas de Simone Tebet (MDB) a presidente em 2022 e de José Luiz Datena à Prefeitura de São Paulo.
O ex-presidente também sofreu com uma rejeição maior das mulheres na última eleição presidencial, fenômeno que foi atribuído ao estilo mais agressivo de comunicação. Às vésperas do segundo turno, de acordo com o Datafolha, ele tinha 46% das intenções de voto no eleitorado masculino e 40% no feminino. Lula, que saiu vitorioso, tinha perfil mais equilibrado: 47% entre os homens e 48% entre as mulheres.
“As mulheres foram fator fundamental para a eleição de Lula em 2022. Há esforços do governador na área social para tentar reverter esse quadro, mas as manifestações públicas de fidelidade ao ex-presidente dificultam essa trajetória”, explicou ele.
Um aliado do governador ouvido reservadamente reconhece que há uma tendência de governos de centro-direita receberem avaliações mais favoráveis da audiência masculina, e Tarcísio não fugiu à regra. Ele pondera, no entanto, que a gestão tem iniciativas positivas em prol do público feminino que ainda não ganharam visibilidade, como o monitoramento por tornozeleira eletrônica de agressores de mulheres, programa da Secretaria da Segurança Pública em parceria com o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
A avaliação no Palácio dos Bandeirantes é que o histórico de maior rejeição do bolsonarismo entre as mulheres representa um desafio para Tarcísio. A aposta é que o SuperAção, programa social de combate à pobreza lançado pelo governo neste ano, pode ajudar a melhorar o desempenho do governador nessa fatia do eleitorado.
Alta de feminicídios e dificuldades orçamentárias
Quando o assunto é mulher, a gestão Tarcísio acumula uma série de entraves. A começar pela Secretaria de Políticas para a Mulher, comandada pela deputada estadual licenciada Valéria Bolsonaro (PL). Como mostrou o Estadão no início do ano, Tarcísio cobrou a secretária por mais resultados e eficiência na gestão da pasta. Valéria também foi alvo de críticas de outros integrantes do governo e de deputados da base na Assembleia Legislativa.
A secretaria sofre com contingenciamento de recursos. O orçamento inicial em 2024 era de R$ 24 milhões, mas o ano terminou com apenas 31% desse valor (R$ 7,6 milhões) empenhado – quando o dinheiro de fato é reservado para bancar uma despesa específica.
Neste ano, foram empenhados R$ 15 milhões até o momento. O montante representa 42% dos R$ 36 milhões orçados inicialmente. Para 2026, o governo projeta gastar 16 milhões com a secretaria, 0,004% do orçamento total do Estado, estimado em R$ 382 bilhões.
Além disso, os oito primeiros meses de 2025 registraram recorde no número de feminicídios no Estado de São Paulo, segundo dados da própria Secretaria de Segurança Pública (SSP), que monitora os números desde 2015 quando a lei para este tipo de crime foi criada.
De janeiro a agosto, 168 mulheres foram vítimas de feminicídio em território paulista, aumento de 10,5% na comparação com 2024. No ano passado, foram registrados 152 casos no mesmo período.
“A tentativa de associar narrativas políticas a temas sensíveis a toda a população brasileira, como a violência contra a mulher, desvirtua o debate e induz a população a interpretações equivocadas sobre a gestão pública”, disse o Palácio dos Bandeirantes sobre o tema.
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