5 de novembro de 2025
Politica

Da economia à segurança: o novo teste para Lula e para a Direita

Como quase tudo na vida, os equilíbrios alcançados na política, mesmo quando ótimos, também não são estáticos nem perenes. A durabilidade de um equilíbrio político depende da capacidade das instituições e dos próprios líderes de oferecer respostas congruentes com as expectativas da maioria da sociedade diante de choques e imprevistos.

Choques podem ter naturezas variadas. Às vezes são endógenos, nascem do próprio sistema político — como o surgimento de um novo líder carismático. Outras vezes são exógenos, resultado de eventos externos, como uma crise econômica internacional ou uma pandemia.

A operação das polícias no Complexo do Alemão e da Penha expôs, mais uma vez, a tensão entre a necessidade de ação firme do Estado e a sensibilidade ideológica da esquerda diante do tema da segurança
A operação das polícias no Complexo do Alemão e da Penha expôs, mais uma vez, a tensão entre a necessidade de ação firme do Estado e a sensibilidade ideológica da esquerda diante do tema da segurança

Se o tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil foi um presente para Lula — que antes estava nas cordas e voltou à condição de favorito à reeleição em 2026 —, a dificuldade de oferecer uma resposta consistente às expectativas da sociedade diante da crise da segurança pública e da violência do crime organizado tem o potencial de fragilizá-lo.

A segurança pública sempre foi o calcanhar de Aquiles da esquerda — e, em particular, do PT. Essa vulnerabilidade ficou explícita na desastrada declaração de Lula em Jacarta, na Indonésia, ao afirmar que “traficantes de drogas são vítimas de usuários”. A frase soou desconectada do sentimento majoritário da população e reforçou a percepção de que o governo é leniente com o crime.

A operação das polícias no Complexo do Alemão e da Penha expôs, mais uma vez, a tensão entre a necessidade de ação firme do Estado e a sensibilidade ideológica da esquerda diante do tema da segurança. A repercussão foi enorme, tanto na imprensa nacional quanto internacional. Mas o mais revelador foi a reação da opinião pública. Segundo pesquisa do Instituto Quaest, a ampla maioria da população não apenas aprovou a operação, como também defende que as facções criminosas sejam enquadradas como grupos terroristas.

Esse dado tem peso político considerável. Mostra que, diferentemente de outros momentos, a sociedade brasileira parece disposta a aceitar — e até a exigir — medidas mais duras contra o crime organizado, mesmo que impliquem custos em termos de direitos civis ou da atuação policial. Em outras palavras, a janela de opinião pública, que antes se fechava diante de ações repressivas, agora se abriu.

A sociedade brasileira parece disposta a aceitar — e até a exigir — medidas mais duras contra o crime organizado, mesmo que impliquem custos em termos de direitos civis ou da atuação policial
A sociedade brasileira parece disposta a aceitar — e até a exigir — medidas mais duras contra o crime organizado, mesmo que impliquem custos em termos de direitos civis ou da atuação policial

O problema para o governo é que essa abertura não veio acompanhada de uma resposta estratégica. O Planalto hesita entre o discurso garantista, que fala à sua base histórica, e a necessidade de sinalizar firmeza a uma sociedade exausta com a violência e o avanço das facções. O resultado é uma comunicação ambígua, que dá a impressão de distância e indecisão — o pior dos mundos em matéria de percepção pública.

Enquanto o tarifaço de Trump e os erros sucessivos da direita haviam recolocado Lula em posição de força, a crise da segurança tem potencial para inverter esse quadro. No campo econômico, o presidente conseguiu se apresentar como o defensor do interesse nacional contra um adversário externo. No campo da segurança, ao contrário, ele enfrenta um inimigo interno, difuso e persistente — diante do qual a inação custa caro e o discurso custa ainda mais.

Se o governo não encontrar rapidamente um ponto de equilíbrio entre firmeza e respeito aos direitos humanos, corre o risco de ver a agenda da segurança ser capturada pela oposição — que, diferentemente da esquerda, nunca teve pudor em explorar o medo como ativo político.

Em política, equilíbrios são tão frágeis quanto as narrativas que os sustentam. Lula havia conseguido reconstruir a sua — a de um estadista que resistiu ao tarifaço de Trump e estabilizou a economia em meio à turbulência internacional. Mas a segurança pública ameaça desmontá-la. Ao contrário da inflação ou da política externa, a violência não se explica por variáveis macroeconômicas nem se resolve com discursos. Ela invade o cotidiano, redefine prioridades e alimenta ressentimentos.

O Brasil vive hoje uma inflexão silenciosa, mas profunda: o medo voltou a ser o principal vetor de comportamento político. E, diante do medo, o eleitor tende a buscar quem promete ordem, não quem oferece justificativas. Se o governo não ocupar esse espaço com firmeza e coerência, alguém o fará — provavelmente à direita, e com um discurso muito menos moderado.

Em suma, a segurança pública é o novo campo de batalha da política brasileira, tanto para Lula como para a Direita. Depois do tarifaço, que fortaleceu Lula, a escalada da violência pode se tornar o seu novo teste de sobrevivência e, consequentemente, de oportunidades para a Direita.

 

 

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