Diesel da Petrobras na COP-30 gera crítica e chacota: ‘é um circo ilusório pintado de verde’
O uso do diesel coprocessado da Petrobras em geradores de energia e frotas de ônibus da COP-30 causou crítica de parlamentares, que classificaram a conferência climática de “circo ilusório pintado de verde”. Uma nota da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel, obtida pela Coluna do Estadão e que será divulgada nesta quinta-feira, 5, manifesta “profunda indignação” com a escolha do combustível para ser vitrine de transição energética no evento que começa na próxima segunda-feira, 10, em Belém (PA).
O diesel S10 que a Petrobras usará na COP é produzido a partir do petróleo e tem 10% de conteúdo renovável inserido por meio de coprocessamento. A FBPio argumenta que a classificação dada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) ao combustível é fóssil. “A própria patente, que é detida pela Petrobras, caracteriza o produto como diesel, pois a presença mínima de conteúdo renovável não é suficiente para descaracterizar o produto como fóssil”, diz a Frente. Procurada, a Petrobras ainda não respondeu.
A FPBio defendia que fosse usado na COP-30 combustível com 25% ou 100% de biodiesel. “Me impressiona o cinismo da Petrobras em promover, na tentativa de conquistar uma fatia de mercado, um combustível fóssil na COP-30, podendo até envolver o Brasil num caso global de Greenwashing″, disse à Coluna o presidente da Frente, deputado Alceu Moreira (MDB-RS).
Ao anunciar o uso do combustível, a Petrobras destacou os 10% de conteúdo renovável. “A iniciativa reforça a importância que a Petrobras dedica aos debates sobre temas de interesse energético e socioambiental, assim como o comprometimento da empresa com o desenvolvimento sustentável, inclusão social e a promoção da transição energética justa, necessária para o desenvolvimento do Brasil”, disse a estatal, em nota.
Combustível do futuro
O setor do biodiesel venceu uma batalha contra a Petrobras no projeto de lei do Combustível do Futuro, aprovado em 2024 no Congresso, justamente sobre o diesel coprocessado. A estatal tentou emplacar na proposta, que cria um marco legal para biocombustíveis, o combustível do qual detém a patente, mas o item acabou retirado do relatório final. “Não satisfeitos, agora nos envergonham na COP-30, instituindo um circo ilusório pintado de verde, mas que esconde um nefasto tom de cinza por trás”, afirma Alceu Moreira.
A lei do Combustível do Futuro, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dispõe sobre a mobilidade sustentável, propõe o aumento da mistura do biodiesel ao óleo diesel e eleva o porcentual mínimo obrigatório de etanol na gasolina. O projeto também cria os programas nacionais de combustível sustentável de aviação (SAF), diesel verde e biometano, além do marco legal de captura e estocagem geológica de dióxido de carbono.

