Eduardo Bolsonaro acumula brigas com aliados e insiste em candidatura presidencial; relembre atritos
As críticas do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na última semana, não são um ponto fora da curva. Autoexilado nos Estados Unidos desde o início do ano, o deputado federal tem acumulado ataques e bate-bocas com aliados nos últimos três meses. Ele tem comprado brigas com dirigentes partidários e governadores de direita que criticam sua atuação no exterior por sanções ao Brasil e autoridades brasileiras e o deixam de fora da lista de sucessores viáveis de Jair Bolsonaro (PL).
O próprio Eduardo insiste em suceder o pai e ser candidato a presidente pelo PL ou outro partido mesmo após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pela acusação de tentar interferir no julgamento da trama golpista no STF, que resultou na condenação de Bolsonaro a 27 anos.
“É o meu desejo”, respondeu ele em entrevista ao portal Metrópoles no dia 29 de outubro. “Por qualquer partido. A minha base eleitoral não se preocupa muito com a questão partidária. Mas o próprio presidente Valdemar diz reiteradamente que vai seguir as orientações de Jair Bolsonaro. Se for o desejo do presidente Jair Bolsonaro, nós temos aí essa oportunidade”, acrescentou.

Valdemar entrou em rota de colisão com Eduardo em setembro ao afirmar que o filho ajudaria a matar o ex-presidente se insistir em lançar candidatura. Agora, no entanto, coloca panos quentes e nega que o deputado esteja isolado nos EUA.
“É muito difícil estar longe da família. Sacrifício grande ele está fazendo”, disse o presidente do PL ao Estadão. Valdemar aposta em uma candidatura de Eduardo ao Senado em São Paulo. “Ele é imbatível”, acrescentou.
De acordo com integrantes do PL, a percepção é que Eduardo está se sentindo desprestigiado porque esperava um reconhecimento político maior pelo que é visto como um sacrifício pessoal. Bolsonaro já discutiu com aliados um cenário em que Eduardo fique de fora inclusive da chapa ao Senado por São Paulo, como mostrou o Estadão. A leitura é de que ele dificilmente estará nas urnas por causa do processo no STF.
A lista de desafetos de Eduardo é extensa. Ele teve atritos com ex-ministros de Bolsonaro, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a senadora Tereza Cristina (PP-MS) e o presidente do PP, Ciro Nogueira. Também disparou contra dois expoentes da direita nas redes sociais, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG).
Nos bastidores e em público, a leitura de dirigentes do Centrão que trabalham por uma candidatura de oposição é de que Eduardo ajudou o governo Lula a recuperar a popularidade ao entregar a narrativa de defesa da soberania nacional à gestão petista que vinha patinando na comunicação.
“Eu conversei com o presidente Bolsonaro sobre o Eduardo. Ele tem muito orgulho dele e entende essas brigas apenas como um filho que claramente está lutando pelo seu pai e o defendendo”, disse o deputado estadual de Minas Gerais, Cristiano Caporezzo (PL).
Ele visitou Bolsonaro na semana passada e, após o encontro, disse que recebeu respaldo do ex-presidente para se candidatar ao Senado por Minas. Caporezzo afirma que Eduardo está preparado para ser presidente, mas que o nome do grupo para 2026 permanece sendo Bolsonaro. “Ainda falta muito tempo para as eleições e nós queremos reverter todas as injustiças praticadas contra Bolsonaro”, declarou o deputado mineiro.
Relembre a lista de embates recentes de Eduardo Bolsonaro com aliados:
15 de julho e 4 de novembro – Tarcísio de Freitas
O governador de São Paulo entrou na mira de Eduardo após se reunir com empresários e com o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no Brasil na tentativa de estabelecer uma negociação comercial para reverter o tarifaço. Na visão de Eduardo, o governador pecou ao não defender a anistia a Bolsonaro como condição prévia para estabelecer a negociação.
“Se você estivesse olhando para qualquer parte da nossa indústria ou comércio estaria defendendo o fim do regime de exceção que irá destruir a economia brasileira e nossas liberdades. Mas como, para você, a subserviência servil às elites é sinônimo de defender os interesses nacionais, não espero que entenda”, escreveu no X. No mesmo dia, Bolsonaro disse que conversou com o filho e que ele iria interromper os ataques a Tarcísio, o que não ocorreu.
Na última semana, Eduardo voltou a ir ao ataque contra Tarcísio, a quem chamou, em vídeo nas redes sociais, de “candidato do sistema” e “o cara que o Moares quer”. O parlamentar ainda afirmou que o governador é alguém “pintado de direita” e, em entrevista a um podcast, apontou que uma eventual vitória de Tarcísio em uma disputa presidencial não serviria para a direita. O governador não respondeu às críticas.
22 de julho – Marcos Pontes e Tereza Cristina
Ainda no tema do tarifaço, Eduardo criticou a comitiva de senadores brasileiros que foi aos EUA tentar um canal de negociação por meio do Senado americano. Além de Tereza Cristina, estava no grupo o senador Marcos Pontes (PL-SP), outro ex-ministro de Bolsonaro.
“Essa iniciativa me parece seguir o padrão de sempre: políticos que visam adiar o enfrentamento dos problemas reais, vendendo a falsa ideia de uma ‘vitória diplomática’ enquanto ignoram o cerne da questão institucional brasileira”, disse Eduardo.
23 de julho – Romeu Zema
O governador de Minas Gerais disse em entrevista ao Estadão/Broadcast que Eduardo criou um problema para a direita brasileira ao buscar, e conseguir, sanções dos Estados Unidos ao Brasil. “Enquanto são pessoas simples e comuns às vítimas da tirania, não há problema, mas mexeu na sua turminha da elite financeira, daí temos o apocalipse para resolver”, respondeu o filho “03″ de Bolsonaro a Zema.
25 de julho – Nikolas Ferreira
Em entrevista à revista Oeste, Eduardo se queixou da falta de engajamento de Nikolas no tema do tarifaço. “Causa, de certa maneira, estranheza que ele tem sido pouco ativo em levar essa mensagem adiante. Não acho o Nikolas uma pessoa mal-intencionada, mas confesso que achei que teria mais respaldo. Isso não depende de uma conversa minha com ele, depende de uma ação dele”, afirmou.
Três dias depois, voltou a criticar o deputado mineiro . Dessa vez, por interagir nas redes sociais com uma influenciadora que se autointitula “ex-bolsonarista”. “Ela é uma pessoa abjeta, que defende a minha prisão e de minha família. É triste ver a que ponto o Nikolas chegou”, comentou Eduardo Bolsonaro.
Nesta semana, Eduardo voltou a mirar em Nikolas ao compartilhar mensagem que diz que o deputado federal mineiro atua para ‘se livrar de Bolsonaro’.
17 de agosto – Governadores presidenciáveis
Eduardo compartilhou uma publicação do irmão Carlos Bolsonaro que chamou de “ratos” os governadores de direita que são cotados para disputar o Planalto. Além de Tarcísio e Zema, estão na lista os governadores do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil)
“A verdade é dura: todos vocês se comportam como ratos, sacrificam o povo pelo poder e não são em nada diferentes dos petistas que dizem combater. Limitam-se a gritar ‘fora PT’, mas não entregam liderança, não representam o coração do povo. Querem apenas herdar o espólio de Bolsonaro, se encostando nele de forma vergonhosa e patética”, escreveu Carlos, na postagem republicada por Eduardo.
20 de setembro – Valdemar Costa Neto
Eduardo adotou tom duro após o presidente do PL dizer que ele não tem votos sem o pai e que ajudaria a matar Bolsonaro se insistisse na candidatura a presidente.
“Não abdiquei de tudo para trocar afagos mentirosos com víboras. Não lutei contra tiranos insanos para me sujeitar aos esquemas espúrios dos batedores de carteira da ocasião. Esse é o momento para resgatarmos a direita, não para a enfiarmos nas mãos sujas do aproveitador da ocasião”, respondeu o deputado.
13 de outubro – Ciro Nogueira
O presidente do PP irritou Eduardo ao dizer que os dois nomes viáveis para suceder Bolsonaro são Tarcísio ou Ratinho e que a atuação do deputado federal nos EUA causou “prejuízo gigantesco” para a direita.
“Prezado Ciro Nogueira, o prejuízo foi gigantesco para o seu plano pessoal, não se pode confundir o seu interesse com o do Brasil. Compadeço com o seu sentimento, pois também foi um grande prejuízo para mim, a diferença é que estou disposto a sacrificar os meus interesses pessoais pelo Brasil”, rebateu Eduardo. Nos bastidores, bolsonaristas apontam que Ciro quer ser vice na chapa presidencial de Tarcísio.
15 de outubro – Tereza Cristina
Eduardo adotou a mesma linha contra a senadora sul-mato-grossense. Assim como Ciro, Tereza Cristina citou Tarcísio e Ratinho como nomes viáveis, acrescentando a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) à lista e deixando o parlamentar de fora.
O filho de Bolsonaro disse que as pesquisas mostram que ele é tão competitivo como Ratinho. “Assim, fica parecendo que seu conceito de viabilidade é aquele que se enquadra no seu interesse pessoal”, disse Eduardo, dirigindo-se a senadora.
“Longe de mim acusar você de agir apenas visando seus interesses pessoais, afinal, sabemos bem que você é bem capaz de representar interesses pessoais alheios, desde que sejam os interesses dos grandes capitais do País, mas é o que fica parecendo”, concluiu.
24 de outubro – Cleitinho Azevedo
O senador mineiro disse que a candidatura de Eduardo a presidente seria “imprudente” porque ele está fora do Brasil e perderia para Lula. “Imprudente foi darmos a vaga do senado para você. Mas muitos dos nossos erros iremos corrigir”, respondeu Eduardo por meio das redes sociais, referindo-se ao apoio a Cleitinho na eleição de 2022. Posteriormente, Cleitinho pediu desculpas.
4 de novembro – Ana Campagnolo
Após a deputada estadual catarinense Ana Campagnolo (PL) afirmar que a vaga da deputada federal Caroline de Toni (PL-SC) na disputa ao Senado por aquele Estado foi “dada” a Carlos Bolsonaro (PL-RJ), Eduardo reagiu com um texto em suas redes e um vídeo duro contra a parlamentar.
“As declarações da deputada estadual do PL, Ana Campagnolo, são totalmente inaceitáveis. Na forma, por terem sido feitas em público. No conteúdo, por se insurgirem contra a liderança política que a projetou e, pior, por representarem uma tremenda injustiça, já que ela usa uma régua contra meu irmão que jamais aplicou a si mesma”, reclamou.
