10 de novembro de 2025
Politica

Com Michelle liderando preferência bolsonarista, é hora de saber como ela pensa

Pode parecer absurdo, mas tudo o que se sabe sobre o que passa pela cabeça da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro diz respeito a religião, família e um ou outro tema da agenda central do bolsonarismo, como o antipetismo e a mão de ferro na segurança pública. Mesmo nesses dois últimos pontos, as falas de Michelle sempre foram superficiais. Ela se sente mais confortável falando sobre sua visão do papel das mulheres no lar, na sociedade e na política – como ao dizer que elas devem ter uma “submissão saudável” aos maridos. E, principalmente, em fazer do palanque político uma pregação religiosa, com apelo para uma parcela significativa do público evangélico.

O absurdo de não se saber o que Michelle pensa se deve ao fato de que, em diversas pesquisas divulgadas recentemente, ela aparece como favorita do bolsonarismo para disputar a presidência, dada a inviabilidade da candidatura do próprio Jair Bolsonaro – cujo destino provável, nas próximas semanas, é a prisão em regime fechado na Papuda ou em uma sala da Polícia Federal. No último levantamento, do Instituto Gerp, Michelle se revelou competitiva contra Lula. E é disparada a preferida dos eleitores de Bolsonaro, à frente do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas e dos enteados Eduardo e Flávio Bolsonaro. Ela tem dito que será candidata apenas se “receber um chamado divino”.

É bom lembrar que estamos a menos de um ano do primeiro turno presidencial de 2026. Não é porque os caciques bolsonaristas, a começar pelo ex-presidente, ainda não decidiram quem será o seu sucessor que não se deve buscar entender as opiniões de Michelle para além dos seus temas de conforto. Ela as omitiu até agora porque não as tem ou apenas para não se tornar vidraça antes do tempo? Esse é o melhor momento para descobrir pistas reveladoras sobre o tipo de presidente que Michelle seria – antes da oficialização de uma candidatura e, por consequência, dos treinamentos de mídia para a campanha.

Michelle Bolsonaro durante ato pela anistia do marido, Jair, realizado dia 7 de outubro de 2025, em Brasília: o que pensa a ex-primeira-dama sobre questões centrais para o futuro do país? (Foto: Wilton Júnior/ Estadão)
Michelle Bolsonaro durante ato pela anistia do marido, Jair, realizado dia 7 de outubro de 2025, em Brasília: o que pensa a ex-primeira-dama sobre questões centrais para o futuro do país? (Foto: Wilton Júnior/ Estadão)

O que ela tem a dizer sobre inflação, taxa de juros, geração de empregos, tributação e reforma administrativa? E a respeito da necessidade ou não de uma nova reforma da previdência? E sobre como melhorar a qualidade dos serviços públicos de saúde e educação? Que tal perguntar a ela de que forma o Brasil deve se posicionar diante da disputa entre China e Estados Unidos no tabuleiro internacional? Afirmar que o governo Lula é o culpado pelo tarifaço americano contra produtos brasileiros, como ela fez em entrevista a veículos estrangeiros recentemente, não basta para conhecer o seu posicionamento em política externa.

Se Michelle não for capaz de dar respostas aprofundadas sobre questões como essas, centrais para a nação, os brasileiros terão diante de si um grave problema. Um que nossos vizinhos argentinos conhecem muito bem. O país já teve duas ex-primeiras-damas que se tornaram presidentes e fizeram gestões desastrosas. Na década de 70, Isabelita Perón, esposa de Juan Domingo Perón, assumiu o cargo após a morte do líder populista por um período curto e conturbado. Sem experiência política e administrativa, tornou-se uma marionete de figuras nefastas que orbitavam o poder. A outra, mais recente, foi Cristina Kirchner. Ela foi eleita em 2007 em uma jogada de seu marido e então presidente Néstor Kirchner para criar uma espécie de dinastia presidencial. Articulador central do governo da esposa, Néstor morreu em 2010. Isso teve grande impacto no segundo mandato de Cristina, que ficou mais enfraquecido e mais autoritário.

Quem ocupará a presidência da República não é uma escolha que se entrega aos Céus.

 

 

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