Quem ganha com tanta briga na direita? Lula
Há uns quatro meses, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, era tido como favorito na disputa pelo Palácio do Planalto. O presidente Lula amargava baixa popularidade, além de se encontrar sem feitos palpáveis e sem discurso empolgante. A direita estava organizada na sociedade, com muita força em diversos segmentos. Pairava no horizonte visível que o ex-presidente Jair Bolsonaro seria condenado à cadeia por golpe de Estado. Mas, especulava-se, ganharia um indulto do novo presidente, a partir de 2027, numa negociação política envolvendo o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Em pouquíssimo tempo, uma sequência avassaladora de fatos virou esse cenário de cabeça para o ar. O início, sem dúvida, foram as sanções anunciadas pelo presidente Donald Trump contra as exportações brasileiras para os Estados Unidos. Mas muitas coisas a mais aconteceram.

Entre elas, o filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, do autoexílio, passou a bater forte em Tarcísio, considerando-o ilegítimo para continuar o legado do pai. Eduardo também atacou outros governadores considerados presidenciáveis, como Romeu Zema, de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado, de Goiás. O filho, entretanto, também passa a sofrer ataques como o que recebeu este fim de semana do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, e reage com termos impublicáveis. Enfim, foi iniciada uma guerra de Eduardo, que quer se candidatar à Presidência, contra uma parte expressiva dos governadores de direita no Brasil.
Há o caso de Santa Catarina, em que parcela do PL local questiona a ideia de lançar outro filho de Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, como senador pelo Estado. Muitos defenderam a deputada preterida para a vaga, Carol de Toni. Alguns dos que criticaram abertamente a chegada de um Bolsonaro na política do Estado, como a deputada estadual Ana Maria Campagnolo, foram bombardeados pelos filhos de Bolsonaro. Eles falaram coisas como obedecer à hierarquia sempre.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também tida como presidenciável, por sua vez, se diz fechada com De Toni. Aparentemente, até o núcleo familiar está rachado. Essa confusão, inclusive, se multiplicou nas redes sociais com bate-bocas envolvendo influencers, militantes, pessoas comuns de SC, numa confusão sem fim. Guerra política civil.
Há também divergência entre os partidos de centro-direita. Incluindo a troca de farpas entre o presidente do PP, Ciro Nogueira, e o governador Ronaldo Caiado. Eduardo Bolsonaro, que parece nunca desligar sua metralhadora giratória, aproveitou alguma deixa para atacar o deputado Nikolas Ferreira – espécie de estrela da direita jovem – que também lançou livros com Campagnolo, com críticas à ideologia de gênero, denominados “Ele é ele” e “Ela é ela”.
Soma-se a isto as barbeiragens políticas como a tentativa de aprovação da PEC da Blindagem, que dificultaria processar parlamentares. E as vitórias atribuídas ao campo da esquerda, como a isenção do pagamento de Imposto de Renda, que beneficia uma faixa de renda que estava bastante desconfiada do petismo. Para completar, frases consideradas muito radicais de Tarcísio, pró-bolsonarismo, tiveram o efeito de assustar o centro.
O ponto fora da curva que pode ter ajudado a direita nesses últimos meses acabou sendo a violenta operação policial no Rio que matou mais de uma centena de suspeitos de tráfico. Obteve imenso aval popular – de gente cansada de ver a contínua tomada de ocupação de territórios por criminosos sob a omissão do Estado. Foi uma irônica tábua de salvação: trocaram por um tempo os tiros entre si pelos tiros aos marginais.
Mesmo assim, a turma está desorganizada. O líder da direita, Jair Bolsonaro, fora as visitas ocasionais, segue isolado na prisão domiciliar. Líderes do Centrão, antes “fechados com Tarcísio”, agora avaliam melhor em qual canoa irão pular. No final das contas, o quadro político se tornou de muito adverso para quase perfeito para Lula buscar sua reeleição. A ver se alguém terá habilidade e força política para unir a direita novamente. Risco de levar uma bala de cartucheira de Eduardo, sempre atento aos movimentos nos quais não seja o único beneficiado. Esse pessoal gosta realmente de atirar.
