12 de novembro de 2025
Politica

Empresário ligado a ex-nora de Lula usou doleiros e loja de vinhos para pagar propinas, diz PF

O empresário André Gonçalves Mariano, sócio da Life Tecnologia Educacional, foi o pivô que arrastou uma ex-nora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-sócio de um dos filhos do petista para o centro de uma investigação de corrupção e desvios de recursos da Educação. Mariano foi preso nesta quarta-feira, 12, na Operação Coffee Break.

O Estadão procurou a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto e as defesas dos citados, mas ainda não houve manifestação. O espaço segue aberto.

A Polícia Federal atribui ao empresário o pagamento de propinas milionárias a lobistas e a servidores públicos em troca de acesso privilegiado em Brasília e em prefeituras de São Paulo e do direcionamento de contratos para a compra de material didático.

A Life Tecnologia Educacional lucrou pelo menos R$ 50 milhões com licitações de três prefeituras no interior de São Paulo – Sumaré, Hortolândia e Limeira.

‘Amiga de Paulínia’

Foi a partir da quebra do sigilo de mensagem de Mariano que a Polícia Federal chegou ao entorno do presidente. O contato de Carla Ariane Trindade, ex-nora de Lula, estava salvo na agenda pessoal do empresário como “amiga de Paulínia” e “nora”.

Segundo a Polícia Federal, Carla “parece ter, ou alega ter, influência em decisões do Governo Federal, notadamente no FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação]”.

A ex-nora do presidente teria viajado a Brasília com passagens custeadas pelo empresário em pelo menos duas ocasiões, em janeiro e maio de 2024.

Procurada pelo Estadão, a defesa de Carla informou que pediu acesso aos autos e “somente irá se manifestar após o conhecimento integral da investigação”.

A Polícia Federal afirma que ela “defende os interesses privados de Mariano junto a órgãos públicos, principalmente na busca por recursos e contratos” e que “restam poucas dúvidas” de que tenha recebido dinheiro pelo lobby.

Kalil Bitar, ex-sócio de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, também é citado na investigação como aliado do empresário.

A Polícia Federal afirma que Kalil teve “grande importância e participação no sucesso empresarial” da Life Educacional, “atuando em prol dos interesses de André Mariano na ‘prospecção de negócios’”.

‘Café’

A agenda de contatos de André Mariano teria sido construída por meio do pagamento de propinas, de acordo com a Polícia Federal. A senha para os pagamentos era “café” ou “vinho”, aponta a investigação.

“Registros no calendário de André Mariano, associados a arquivos de áudio, comprovantes de transferências, comprovantes de pagamentos de passagens aéreas e hotéis, dentre outros, demonstram que o mesmo manteve amistoso contato com agentes públicos e indivíduos com influência política, que intercederam a seu favor”, detalha a Polícia Federal no inquérito.

“As facilidades na obtenção de contratos multimilionários estão relacionados a contatos que André Mariano fez, inclusive mediante pagamento de propina, com influentes figuras da política local e nacional”, acrescentam os investigadores.

Os pagamentos seriam operacionalizados por meio de uma rede de doleiros que providenciaria “alta liquidez financeira” ao empresário, ou seja, que abasteceria Mariano com dinheiro em espécie.

“André remetia os recursos públicos recebidos através da Life a operadores financeiros clandestinos e, posteriormente, buscava o valor correspondente em dinheiro vivo, descontadas as taxas cobradas pelos doleiros. A quantia retirada em espécie seria direcionada ao pagamento de propina a lobistas e servidores”, aponta a investigação.

André Gonçalves Mariano e Kalil Bittar
André Gonçalves Mariano e Kalil Bittar

‘Banco clandestino’

Uma loja de vinhos no Jardim Paulista, bairro nobre de São Paulo, teria sido usada como “banco clandestino”, segundo a PF.

O esquema teria ramificações em diferentes municípios no interior de São Paulo. Secretários municipais de Educação seriam alvos preferenciais do lobby e, segundo a PF, tiveram atuação “decisiva” para beneficiar o empresário.

“É possível concluir que, no período de 2021 a 2024, tenha pago vantagens indevidas, em dezenas de ocasiões, a servidores públicos e lobistas vinculados aos mais variados entes públicos”, diz a Polícia Federal.

As investigações desencadearam a Operação Coffee Break, deflagrada nesta quarta-feira, 12, que prendeu seis pessoas e fez buscas em 50 endereços, incluindo as casas da ex-nora de Lula, em Campinas, e de Kalil Bittar, em Brasília.

Um dos presos é o vice-prefeito de Hortolândia Cafu César (PSB). O advogado Ralph Tórtima Filho, que representa o político, informou que pediu acesso às investigações para se manifestar.

COM A PALAVRA, OS CITADOS

A reportagem do Estadão busca contato com todos os citados. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).

 

 

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