13 de novembro de 2025
Politica

Empresário ligado a ex-nora de Lula esteve em duas reuniões no FNDE em Brasília

Preso nesta quarta-feira, 12, na Operação Coffee Break, por suspeita de pagar propinas a agentes públicos e lobistas em troca de favorecimentos, o empresário André Gonçalves Mariano, dono de uma empresa de materiais didáticos, esteve pelo menos duas vezes no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em reuniões com Fernanda Macedo Pacobahyba, presidente do órgão.

Procurado pelo Estadão, o Ministério da Educação informou que “não houve qualquer desdobramento administrativo decorrente” das agendas.

A primeira reunião ocorreu em 19 de dezembro de 2023. O tema, segundo a agenda da presidente do FNDE, foram “assuntos da pasta”. Também participaram do encontro os coordenadores de projetos e de relações institucionais do fundo.

Primeira reunião André Gonçalves Mariano no FNDE ocorreu em dezembro de 2023.
Primeira reunião André Gonçalves Mariano no FNDE ocorreu em dezembro de 2023.

O empresário compareceu acompanhado do secretário de Educação de Hortolândia, no interior de São Paulo, Fernando Gomes Moraes, que também foi preso na Operação Coffee Break.

A segunda visita ocorreu em 14 de maio de 2024 para tratar de “livros paradidáticos, material para alunos e bibliotecas”. Fernanda Pacobahyba, sua chefe de gabinete e a coordenadora-geral do FNDE participaram da reunião.

Desta vez, André Mariano foi ao encontro acompanhado do jornalista Magno Romero, também investigado na Coffee Break. O jornalista é descrito na investigação da Polícia Federal como “pessoa com trânsito em Brasília” e possível lobista. Ele foi alvo de buscas.

Romero foi assessor do deputado Paulo Pimenta (PT-SP) e do senador Weverton Rocha (PDT-MA) e funcionário comissionado da EBC.

Representantes de outras duas empresas também compareceram à reunião.

André Mariano é sócio da Life Tecnologia Educacional, empresa que desenvolve livros paradidáticos, jogos e alternativas tecnológicas de ensino.

Para conseguir contratos públicos, o empresário teria montado uma rede de lobistas aliados, recrutados em troca de propinas, segundo a PF.

Encontros estão registrados na agenda da presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Encontros estão registrados na agenda da presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

Contratos multimilionários

A Life Tecnologia Educacional lucrou pelo menos R$ 50 milhões com licitações de três prefeituras no interior de São Paulo – Sumaré, Hortolândia e Limeira.

“As facilidades na obtenção de contratos multimilionários estão relacionados a contatos que André Mariano fez, inclusive mediante pagamento de propina, com influentes figuras da política local e nacional”, aponta a Polícia Federal.

Kalil Bitar, ex-sócio de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e Carla Ariane Trindade, que foi casada com o enteado do presidente, Marcos Cláudio Lula da Silva, são citados na investigação como aliados de Mariano.

Procurada pelo Estadão, a defesa de Carla informou que pediu acesso aos autos e “somente irá se manifestar após o conhecimento integral da investigação”. Kalil não respondeu o contato da reportagem.

As agendas no FNDE não foram as únicas de André Mariano em Brasília. A Polícia Federal também afirma que ele almoçou com Victor Queiroz, gerente do escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) em Pequim, na China.

A PF ainda investiga se o grupo tinha conexões na Apex. Em junho de 2024, Kalil esteve na China com uma comitiva do governo brasileiro.

André Gonçalves Mariano e Kalil Bittar
André Gonçalves Mariano e Kalil Bittar

‘Vamos que vamos’

Mensagens obtidas na investigação mostram que, quando Victor Queiroz foi nomeado para o escritório em Pequim, em outubro de 2024, Mariano e Kalil comemoraram a indicação.

“Gostei da portaria, já tá deletado aqui. Gostei, amigão, amanhã, depois de amanhã já tá assumindo, parabéns pra ele! Parabéns pra você! Vamos que vamos”, escreveu Mariano em resposta a Kalil, que enviou a ele um print da portaria que formalizou a indicação de Queiroz.

A Polícia Federal afirma no inquérito que, embora não tenha vínculo formal com a Apex, Kalil Bittar “demonstra ter ingerência na atuação” de Queiroz.

O Estadão pediu manifestação da Apex e de Victor Queiroz por meio da assessoria de imprensa da agência.

 

 

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