13 de novembro de 2025
Politica

Para o eleitor, preço baixo importa mais que juro alto

Na semana passada, escrevi sobre o peso crescente da segurança pública no cenário eleitoral de 2026. Apesar disso, continua sendo arriscado subestimar a influência da economia em qualquer disputa presidencial, inclusive para 2026, onde Lula ainda mantém vantagem. É nesse contexto que vale colocar em perspectiva o trabalho do Banco Central e o efeito dos juros altos.

Na semana passada, o BC manteve a Selic em 15% pela terceira vez consecutiva. O patamar, o mais elevado em quase duas décadas, incomoda o governo. As críticas, que já vinham crescendo, passaram a mirar diretamente o presidente do BC, Gabriel Galípolo, apesar de sua boa relação com Lula e com ministros palacianos.

Ainda assim, esse desconforto tende a ser temporário. Primeiro, porque a expectativa dominante no mercado é de que o ciclo de cortes começará em breve, possivelmente já na reunião de janeiro ou, no máximo, em março. O próprio Copom abriu espaço para essa antecipação. Na ata mais recente, afirmou ter “maior convicção” de que a Selic atual é suficiente para garantir a convergência da inflação à meta. O tom mais brando coincidiu com dois movimentos importantes: o IPCA de outubro ficou em 0,09%, a menor taxa para o mês em 27 anos, e as expectativas inflacionárias de médio prazo começaram a ceder.

Lula deve tentar a reeleição do ano que vem, com temas como segurança e economia afetando o pleito
Lula deve tentar a reeleição do ano que vem, com temas como segurança e economia afetando o pleito

Em segundo lugar, e mais importante, está o fato de que o benefício político de uma inflação baixa supera, com folga, o desgaste provocado pelos juros altos. Diferentemente do desemprego ou da inadimplência, que atingem grupos específicos, aumentos de preços afetam praticamente todos os eleitores ao mesmo tempo. E o impacto na popularidade costuma ser rápido. Foi o que ocorreu na virada de 2024 para 2025, quando a inflação de alimentos derrubou a aprovação de Lula para perto de 40%. A recuperação posterior veio exatamente quando os preços cederam.

Por essa lógica, uma economia mais lenta, mas com inflação baixa e previsível, tende a ser politicamente menos danosa do que um crescimento rápido acompanhado de descontrole inflacionário. E, hoje, o cenário está longe de uma recessão profunda. Segundo o Boletim Focus, o mercado projeta crescimento de 1,8% em 2026, inflação de 4,2% e câmbio relativamente estável. Mesmo uma Selic ainda acima de 10% no fim do ano não altera substancialmente esse quadro.

Outro elemento relevante é que um Banco Central visto como técnico e previsível reduz o risco de estresse cambial, algo especialmente sensível em ano eleitoral. Tensões mais fortes entre governo e autoridade monetária poderiam reavivar temores sobre perda de independência, pressionar o dólar e enfraquecer ainda mais a atividade. Seria um tiro no pé, e há sinais de que o próprio PT reconhece isso. Apesar das críticas, não há disposição, por ora, de abrir uma campanha pública de desestabilização. As próximas indicações ao Copom devem manter o padrão recente: perfis técnicos, alinhados à meta, sem disposição para viradas bruscas.

Como sempre na política econômica de Lula, o risco maior aparece quando a popularidade cai com força. Nesse caso, pode surgir a tentação de recorrer a gastos extraordinários ou de pressionar mais abertamente o BC. Mas esse tipo de reação parece hoje menos dependente da economia e mais de fatores externos: choques internacionais, escândalos ou crises de segurança pública capazes de afetar o humor do eleitorado de maneira imediata. Na economia, o ambiente atual é mais compatível com estabilidade do que com sobressaltos.

Se esse quadro se mantiver, Lula entrará em 2026 com inflação controlada, atividade moderada e um Banco Central que, apesar das tensões, mantém previsibilidade. É um arranjo que reforça a expectativa de popularidade firme e ajuda a explicar por que, hoje, o presidente permanece favorito.

 

 

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