PF diz que doleiro libanês agiu como banco clandestino de empresário ligado à ex-nora de Lula
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Preso nesta quarta-feira, 12, na Operação Coffee Break, inquérito sobre corrupção e desvios de verbas da Educação, Abdalla Ahmed Fares é apontado como um dos doleiros que teria lavado dinheiro para o empresário André Gonçalves Mariano.
Pivô da investigação, Mariano é ligado à ex-nora do presidente Lula, Carla Ariane Trindade, que foi casada com o enteado do presidente, Marcos Cláudio Lula da Silva, ambos citados nos autos da operação.
Ao amanhecer de quarta, 12, quando agentes da PF chegaram à residência de Carla para fazer buscas, foram atendidos pelo ex dela.
Os investigadores trabalham com duas hipóteses para o encontro que os surpreendeu – ou o casal permanece junto ou Marcos Cláudio pode ter sido avisado antecipadamente da operação.
A PF confiscou o celular de Carla, além de um computador e um caderno de capa dura.
O Estadão busca contato com a defesa de Fares. A defesa de André Mariano informou que só teve acesso ao inquérito nesta quinta, 13, e que vai se inteirar do seu conteúdo para se manifestar. A defesa de Carla disse que pediu acesso aos autos e “somente irá se manifestar após o conhecimento integral da investigação”.
A Polícia Federal afirma que André Mariano retirou R$ 10,3 milhões em dinheiro vivo com o doleiro entre janeiro de 2022 e junho de 2023. O dinheiro era entregue em sacos pretos lacrados, segundo a investigação.

Comissão de 3%
Abdalla Fares operou como um verdadeiro banco clandestino, aponta o inquérito. O doleiro indicava empresas para receber transferências milionárias e depois devolvia os recursos em espécie, descontada uma comissão de 3%.
Ele consta como sócio das empresas que teriam sido usadas no esquema de lavagem de dinheiro – AFX Comercial Importadora, Abifares Prestação de Serviços e Fares Empreendimento.
Comprovantes de transferências obtidos pela Polícia Federal demonstram que, entre dezembro de 2023 e setembro de 2024, Mariano enviou R$ 19,5 milhões a empresas designadas por Fares.
A quebra do sigilo bancário confirmou as movimentações. A Life Tecnologia Educacional, empresa de André Mariano, enviou R$ 24,9 milhões à Abifares e R$ 2,2 milhões à Fares Empreendimentos.

‘Só tô com o cem pau’
Fares é apontado como um dos principais operadores financeiros do empresário. O dinheiro seria destinado ao pagamento de propinas a agentes públicos e lobistas com influência política, de acordo com a investigação.
Em conversa no WhatsApp, em agosto de 2024, Mariano afirma a Fares: “Cara, eu fui dar uma olhada na minha… nas minhas contas aqui, cara. Só tô com o cem pau (sic)”.
Ao pedir a prisão do doleiro, a Polícia Federal afirma que, sem ele, o “esquema de pagamento de propina não se sustenta”.
“Dado o grande poder político e financeiro que certos investigados detêm, é altamente provável que, se permanecerem em liberdade, atuarão para destruir provas e prejudicar o regular andamento da investigação”, alertou a PF.
O doleiro e o empresário foram presos.
Agradecimento ao presidente
Descendente de libaneses e casado com uma libanesa, Abdalla Fares tem duas filhas que estavam no Líbano quando o conflito com Israel se acirrou. A família foi resgatada em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) enviado pelo governo federal.
Um vídeo do doleiro foi publicado no perfil oficial do governo na rede social Bluesky. “Eu gostaria de agradecer o presidente todo esse esforço para trazer a nossa família que está vindo lá do Líbano. Eu gostaria de falar também que tem muita gente inocente morrendo lá nessa guerra”, afirma Fares na gravação.
RESGATE NO LÍBANO 🇧🇷🇱🇧 Abdalla Fares vai reencontrar a família que foi resgatada pela Força Aérea Brasileira e faz um apelo ao mundo pelos milhares de inocentes que estão sendo vítimas da guerra provocada por Israel.
📲 DIGITAL/PR
— Governo do Brasil (@brasil.gov.br) 6 de outubro de 2024 às 12:04
COM A PALAVRA, ABDALLA FARES
A reportagem busca contato com a defesa de Fares. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).
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