Qualquer nome que enfrente Lula ou a direita é competitivo em um segundo turno
Praticamente qualquer pessoa no Brasil, um anônimo sem militância, por exemplo, se for disputar um eventual segundo turno contra o presidente Lula, terá no mínimo uns 30% dos votos. Talvez 40%, e poderá até mesmo ser competitivo. Porque, no País, o voto “anti”, seja para afastar Lula ou evitar um postulante de direita, é suficientemente forte para atrair milhões. Logo, não é nenhuma surpresa que o cenário eleitoral siga embolado, com uma certa vantagem para Lula, de acordo com a pesquisa Quaest divulgada nesta quinta-feira, 13.
Em um cenário previsto com a economia nem bombando nem em parafuso, sabemos de antemão que uma cidade como Caruaru, em Pernambuco, irá oferecer mais votos para Lula do que para a direita, em 2026. O contrário, em Blumenau, no Estado de Santa Catarina. Os votos no País estão cristalizados em cidades, regiões, Estados, classes sociais. A disputa hoje se dá por uma minoria ao centro, uma parcela que ambos os polos ideológicos parecem fazer questão de desagradar, quase diariamente. Mas o lado que menos torturar mentalmente esse eleitor moderado tem grandes chances de vencer a eleição.

Como houve, em um mês, expressiva redução da vantagem de Lula para todos os demais concorrentes, é possível concluir que a pauta da segurança pública é ruim para a esquerda. Além da operação policial com mais de uma centena de mortes no Rio de Janeiro, houve declarações de Lula que podem ser interpretadas como prejudiciais eleitoralmente. Jogou esse pessoal do centro para a direita.
Por outro lado, as ações nos Estados Unidos de Eduardo Bolsonaro, o filho que tenta segurar para si o espólio da família, podem atrair parte de uma direita mais radical em torno do seu nome. Tanto que chega a pontuar razoavelmente no primeiro turno. Num cenário com o Tarcísio, ambos estão em empate técnico no segundo lugar. Mas, definitivamente, Eduardo é um polo de aversão desse eleitor centrista. No final das contas, ajuda Lula.
Com a iminente ida de Jair Bolsonaro para a prisão, o candidato mais forte para derrotar Lula, de acordo com as sondagens, é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Suas últimas declarações contra o Supremo Tribunal Federal, em eventos públicos, podem ter sido necessárias para atrair o voto bolsonarista. O efeito colateral é afastar esses volúveis centristas. Após o barulho, Tarcísio mergulhou na administração de São Paulo. Parece que, discretamente, já monta uma equipe para disputar o Planalto. Os governadores Ronaldo Caiado, de Goiás, Ratinho Júnior, do Paraná, e Romeu Zema, de Minas, ficam em compasso de espera para se lançarem como plano B. De volta ao PSDB após décadas, Ciro Gomes surge como franco atirador. Não se sabe se terá legenda para disputar.
A eleição, portanto, segue aberta com leve favoritismo para Lula. O presidente controla sua base e pode vir com uma proposta moderada – os mais à esquerda irão votar nele, mesmo com os muxoxos de reprovação em algumas questões aqui ou ali. Para vencê-lo, a direita precisaria vir bastante unida e com uma pauta que também atraia o centro. Uma das tarefas nesse caminho seria neutralizar a tentativa de algum Bolsonaro – seja Eduardo, Michelle ou mesmo Flávio – de se lançar no pleito. E para isso irão precisar de fazer bastante política. Os cerca de 40% que querem votar no anti-Lula qualquer seguem à espera do nome competitivo.
