14 de novembro de 2025
Politica

Empresário investigado por fraude na Educação pagou R$ 210 mil em ‘mesadas’ a amigo de Lula, diz PF

O empresário Kalil Bittar, ex-sócio de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem uma relação de longa data com a família do petista. A Polícia Federal acredita que ele tenha vendido o acesso a pelo menos um empresário, André Gonçalves Mariano, interessado em expandir negócios por meio de contratos públicos.

As suspeitas de tráfico de influência são investigadas na Operação Coffee Break, que mira também uma ex-nora do presidente, Carla Ariane Trindade Silva. Ela foi alvo de buscas na quarta, 12, quando a a operação foi deflagrada por ordem da Justiça Federal em Campinas – os agentes levaram celular, computador e um caderno de capa dura.

O advogado Roberto Bertholdo, que representa Kalil, disse que ele está à disposição para colaborar com as investigações, “na certeza de que comprovará a improcedência de quaisquer acusações”.

André Gonçalves Mariano e Kalil Bittar.
André Gonçalves Mariano e Kalil Bittar.

Não é a primeira vez que o nome de Kalil aparece nas páginas de investigações da PF. Em 2016, no auge da Operação Lava Jato, o empresário foi gravado em uma conversa grampeada com o filho de Lula na investigação sobre o sítio de Atibaia.

O sítio estava registrado em nome do irmão de Kalil, Fernando, mas na ocasião o empresário ligou para Lulinha pedindo autorização para fazer um churrasco na propriedade.

Quando a Lava Jato abriu um processo criminal sobre o sítio e atribuiu a Lula sua propriedade, a amizade entre as famílias foi um dos principais argumentos das defesas para justificar a frequência de idas do então ex-presidente a Atibaia.

Com o retorno de Lula ao Planalto, para o terceiro mandato, Kalil Bittar teria recuperado a influência nos círculos de poder em Brasília. É neste momento que a relação com o empresário André Gonçalves Mariano se estreita, segundo a Polícia Federal.

Kalil Bittar em comitiva da Apex Brasil à China.
Kalil Bittar em comitiva da Apex Brasil à China.

Mariano é dono de uma empresa de materiais didáticos, a Life Educacional. Segundo conversas e documentos obtidos pela PF, ele se aproximou de “influentes figuras da política local e nacional” para conseguir decolar os negócios. Kalil seria uma dessas pessoas.

Em uma conversa no WhatsApp com o secretário de Educação de Hortolândia, no interior de São Paulo, Fernando Gomes Moraes, em junho de 2022, o empresário pergunta se “vale a pena fazer um investimento lá no patrocínio do programa de TV do ‘amigo’ [Kalil]”. “Há um interesse mútuo de todo o mundo”, afirma Mariano.

O secretário incentiva: “Acho legal o Kalil porque fica uma porta médio longo prazo se o Lula for presidente. O Kalil tem esse espaço que é dele, nem ninguém tira dele esse espaço.”

Agenda de André Mariano: PF achou anotações sobre reuniões com Kalil Bittar.
Agenda de André Mariano: PF achou anotações sobre reuniões com Kalil Bittar.

O inquérito aponta que, a partir de 28 de novembro de 2022, um mês depois da eleição de Lula, Mariano começou a pagar uma “mesada” a Kalil. As transferências bancárias ocorreram entre as contas pessoais. Os pagamentos seguiram até fevereiro de 2024, somando R$ 210 mil.

O primeiro contato entre os dois acontece em dezembro de 2021, mas é após o segundo turno das eleições de 2022 que, segundo a Polícia Federal, Mariano “passa a apostar abertamente na maior influência de Kalil”.

Empresário mirava contratos com diferentes órgãos públicos.
Empresário mirava contratos com diferentes órgãos públicos.

‘Estados do PT’

Na agenda de Mariano, a Polícia Federal encontrou diversas anotações sobre reuniões e ligações de negócios com o ex-sócio de Lulinha. Em uma delas, em novembro de 2022, quando Lula sequer havia tomado posse, o empresário já pretendia “expor as possibilidades” de materiais que poderia vender ao governo federal e a “estados do PT” – uma referência sobre regiões onde o partido de Lula têm domínio político.

A lista inclui “livros para o novo ministério”, “livros de reforço escolar (promessa de campanha dita como uma das prioridades), podendo ser usado os games”, “livros paradidáticos (MEC maior comprador do Brasil.. editoras faturam 200k/ano)”.

“Demonstrar a minha estrutura e o pq – segurança no cumprimento do acordo, discreção (sic) / fazer a coisa certa… Não há espaço para amadores e nem problemas que possam respingar no governo”, escreve Mariano.

Agenda de André Mariano sobre reuniões com Kalil Bittar
Agenda de André Mariano sobre reuniões com Kalil Bittar

‘Transferência 540 BSB’

Em maio de 2024, o empresário foi a Lisboa para uma reunião com Kalil. Em áudio, Mariano afirma que a “missão principal” é encontrá-lo e “tentar corresponder com aquilo que você precisa”. Na agenda, ele destaca os temas que seriam tratados: “Mauá / Diadema /outros; Games (vendas); China (projeto); Transferência 540; bsb”. “Meu papel: investidor (viabilizador e operador) Seu papel: viabilizar”, diz a anotação.

Em outro áudio a Kalil, Mariano afirma que “teve uma ideia que não tem nada a ver com educação”.

Kalil Bittar foi sócio de Lulinha.
Kalil Bittar foi sócio de Lulinha.

A investigação também aponta que Mariano teria “doado” uma BMW 540I a Kalil. O carro avaliado em R$ 240 mil foi comprado em nome da Life Educacional.

“Há fortes indicativos que o veículo tenha sido utilizado como pagamento para Kalil, já que ele estava em posse do carro pelo menos desde 2023 e não foram identificadas transações que poderiam ser pagamentos pelo veículo na quebra bancária da empresa Life ou na de Mariano”, aponta a PF.

Mariano foi preso preventivamente na Coffee Break, na quarta-feira, 12.

A Polícia Federal também pretendia fazer buscas na casa de Kalil, no Lago Sul, área nobre e exclusiva de Brasília, mas ele não foi encontrado no endereço. Segundo a defesa, Kalil mora há mais de um ano em Portugal.

 

 

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