14 de novembro de 2025
Politica

Entenda os próximos passos caso Eduardo Bolsonaro vire réu

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para aceitar a denúncia contra Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por coação no curso do processo que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe. A votação ocorre no plenário virtual e ainda seguirá aberta por sete dias. Alexandre de Moraes, relator, foi acompanhado por Flávio Dino e Cristiano Zanin. O voto de Cármen Lúcia ainda não foi registrado.

A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) afirma que Eduardo atuou nos Estados Unidos para pressionar o Supremo por meio da articulação de sanções do governo Donald Trump, entre elas, aumento de tarifas, suspensão de vistos e aplicação da Lei Magnitsky. Para Moraes, há “indícios suficientes e razoáveis de autoria” e uma “grave ameaça” dirigida a ministros do STF, amplamente exposta nas redes sociais do deputado. O deputado classificou a ação como uma “gambiarra jurídica”.

Caso Eduardo vire réu, o filho do ex-presidente, que está nos EUA desde fevereiro, irá enfrentar uma série de etapas regimentais, incluindo a possibilidade de um pedido de extradição.

Deputado Eduardo Bolsonaro está nos Estados Unidos desde fevereiro deste ano
Deputado Eduardo Bolsonaro está nos Estados Unidos desde fevereiro deste ano

Quais são os próximos passos após o recebimento da denúncia?

Ao receber a denúncia, o STF transforma Eduardo em réu, reconhecendo que há materialidade dos fatos e indícios mínimos que justificam a continuidade da ação, embora isso não represente qualquer juízo de culpa.

O primeiro passo após o recebimento é a abertura de prazo para que a defesa apresente a chamada resposta à acusação, uma peça preliminar na qual podem ser levantadas alegações como inexistência de crime, prescrição ou questionamentos sobre a própria imputação.

O professor Marcelo Crespo, coordenador de Direito da ESPM, explica que essa fase permite ao tribunal reavaliar o caso antes da instrução. “O Supremo pode até encerrar o processo se entender que a defesa trouxe elementos suficientes. Mas, mantido o recebimento da denúncia, inicia-se o rito completo”, diz.

Com a denúncia mantida, o processo entra na fase de instrução, quando PGR e defesa colhem provas, apresentam documentos, arrolam testemunhas e realizam diligências. O interrogatório do acusado é a última etapa dessa fase.

Segundo o advogado criminalista Rafael Paiva, para comunicar formalmente os atos do processo a Eduardo, o STF pode usar a carta rogatória, mecanismo pelo qual um tribunal brasileiro solicita a cooperação de autoridade estrangeira. “É um instrumento que depende de resposta dos Estados Unidos”, explica. “Eles podem cumprir, demorar ou simplesmente não responder”.

Pela regra processual, quando o réu não é localizado para citação, o processo deveria ser suspenso. No entanto, Moraes entendeu que Eduardo tomou conhecimento da ação ao comentar publicamente a denúncia nas redes sociais.

Em tese, o STF pode pedir a extradição instrutória para garantir a presença do réu durante o processo ou, futuramente, a extradição para execução da pena. Porém, Crespo destaca que isso exigiria uma medida prévia mais robusta. “Sem um pedido de prisão preventiva ou uma condenação, é muito difícil falar em extradição. Ela precisa de base concreta. E hoje não há um fato novo que justifique uma prisão.”

Além disso, a decisão dependeria da disposição do governo Donald Trump, que já sancionou ministros do STF. “Há um componente político evidente”, afirma.

Para o advogado criminalista Rafael Paiva, o processo deve mostrar como está a relação de Eduardo Bolsonaro com a gestão Trump, que tem demonstrado interesse em se aproximar do governo Lula nos últimos meses.

Concluída a instrução, o caso vai para alegações finais – primeiro a PGR, depois a defesa. Eduardo é atualmente representado pela Defensoria Pública da União, já que não constituiu advogado.

Depois disso, a Primeira Turma decide se ele será condenado, absolvido ou se parte da acusação será arquivada. O julgamento pode ocorrer presencialmente ou no plenário virtual.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *