‘Já comuniquei a Bolsonaro que meu nome não está disponível para vice em 2026’, diz Ciro Nogueira
BRASÍLIA – O senador Ciro Nogueira (PP-PI) tem no gabinete uma foto oficial de Jair Bolsonaro pendurada na parede. No início do mês passado, porém, Ciro virou alvo de intenso ataque bolsonarista e tomou uma decisão. Ao visitar o ex-presidente na prisão domiciliar, avisou que seu nome não está disponível para ser vice em nenhuma chapa da direita ao Palácio do Planalto, mesmo se o candidato for o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“Tudo o que eu falava, estavam desvirtuando porque (diziam) que eu queria ser vice. Para encerrar essa situação, já comuniquei ao presidente Bolsonaro que vou ser candidato ao Senado”, afirmou Ciro, que é presidente do PP e em 2026 disputará o terceiro mandato pelo Piauí.
O nome mais viável para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sua avaliação, é mesmo Tarcísio. Para Ciro, declarações do governador dizendo que não vai concorrer ao Palácio do Planalto podem ser debitadas na conta da “estratégia” política.
“Eu tenho certeza de que, se tiver a escolha de um candidato viável como o Tarcísio, todo o centro e a direita do País vão se unificar”, argumentou o senador. “O instinto de sobrevivência e a importância dessa eleição para o futuro do Brasil não vão nos permitir errar.”
O PP fez uma pesquisa para medir o potencial de possíveis presidenciáveis. A lista incluiu até mesmo o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), que pode ter o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso do poder político e econômico. “Ele se saiu muito bem”, disse Ciro, fazendo mistério sobre os números da sondagem.
Leia os principais trechos da entrevista:
O sr. disse que o deputado Eduardo Bolsonaro causou um “prejuízo gigantesco” ao projeto da direita para 2026 com sua atuação nos EUA, que resultou no tarifaço sobre produtos brasileiros. A campanha presidencial do campo conservador será tocada pelo Centrão ou a família Bolsonaro pode ter um candidato ou mesmo um vice na chapa?
Eu acho que é mais do que legítimo eles terem um candidato. O maior eleitor do campo do centro e da direita é o presidente Bolsonaro. Qualquer candidato desse campo só tem viabilidade com o apoio dele. Agora, essa questão de vice vai ser discutida depois. Em dezembro, nós temos que anunciar qual será o candidato do centro e da direita do País.
Com o ex-presidente Bolsonaro inelegível e condenado a cumprir pena de 27 anos de prisão, o nome mais forte da direita para desafiar Lula, hoje, é o do governador Tarcísio de Freitas. Mas ele tem dito que será candidato à reeleição em São Paulo. É apenas uma estratégia?
Eu acredito que sim, é uma estratégia. Mas acho que ele não decidiu isso, até porque qualquer decisão passa pelo aval do presidente Bolsonaro. Eu recebi uma pesquisa (mostrando) que qualquer candidato com o apoio do presidente Bolsonaro fica, no máximo, com 3% de diferença do presidente Lula. Coloquei cinco nomes diferentes. Então, é uma força eleitoral muito grande. Lula ganhou capital político (ao se posicionar) contra essa situação das tarifas. Ele soube usar muito bem isso aí com a falsa narrativa de que estaria defendendo a soberania do nosso País. Mas tudo o que ganhou com algumas frases inadequadas, ele já perdeu. E, hoje, a eleição está completamente aberta para qualquer candidato da direita ganhar.
E quais são esses nomes que o PP pesquisou?
Dos cinco, eu vou citar apenas quatro. Um não posso revelar. Eu pesquisei o nome do Tarcísio, do Ratinho (Júnior, governador do Paraná), do Cláudio Castro (governador do Rio) e do senador Flávio Bolsonaro.
Cláudio Castro para presidente?
Sim. Pesquisei para saber qual era a força dele por conta dessa questão da violência no Rio. E se saiu muito bem. O mais forte é o governador Tarcísio, com certeza. Está a 0,8% do presidente Lula no segundo turno.
O quinto nome seria Eduardo, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou, ainda, o senador Rogério Marinho?
Não é nenhum desses nomes. Infelizmente, não vou poder dizer porque a pessoa não me autorizou.

O sr. assumiu a Casa Civil no governo Bolsonaro dizendo que atuaria como um “amortecedor”. Vai ter esse papel na campanha de 2026 para enquadrar Eduardo Bolsonaro, por exemplo?
Acho que vou atuar como um conciliador e unir todas essas forças de centro e de direita. É impossível alguém enquadrar o Eduardo, nem nós temos o menor interesse. É o deputado mais votado do País, é filho do presidente. Você pode até não concordar com alguma atitude, alguma declaração dele, mas você tem que respeitar. Eu também não sei o que faria se meu pai estivesse sofrendo tamanha injustiça. Falo de vez em quando com ele e tenho total admiração pela sua luta, pela sua coragem, apesar de não concordar com algumas situações que ele fez.
Mas depois que o sr. e ele entraram em rota de colisão, como ficou? Porque ele disse que o sr. estava agindo com o objetivo de ser vice na chapa…
Eu liguei para ele e a gente já esclareceu. Viramos essa página.
Há uma avaliação corrente no mundo político de que a direita está batendo cabeça na escolha do candidato para enfrentar o presidente Lula, não conseguindo se unificar. Há espaço para uma terceira via na disputa?
Eu acho difícil porque nós temos os dois maiores líderes populares dos últimos 50 anos, que são Lula e Bolsonaro. É muito difícil qualquer candidato prosperar, uma terceira via, sem o apoio dos dois. Não vejo possibilidade de isso acontecer, não.
Mas é possível a direita se unificar em torno de um nome já no primeiro turno?
Eu tenho certeza de que isso vai acontecer. O instinto de sobrevivência e a importância dessa eleição para o futuro do Brasil não vão nos permitir errar e, por conta de disputas menores, não colocar os interesses do Brasil acima de interesses pessoais.
Se o governador Tarcísio concorrer a presidente, não haverá, por exemplo, as candidaturas dos governadores Ratinho Júnior, do Paraná, e Ronaldo Caiado, de Goiás, com o qual, aliás, o sr. teve uma discussão?
Eu tenho certeza de que, se tiver uma escolha de um candidato viável como o Tarcísio, vai se unificar todo o centro e a direita do País. Não vejo possibilidade de surgir outras candidaturas.
E se não for ele?
Aí pode acontecer essa fragmentação.
O sr. gostaria de ser candidato a vice-presidente numa chapa liderada por Tarcísio ou por outro nome da direita?
A visita que eu fiz ao presidente Bolsonaro, da última vez, foi para comunicar que meu nome não está disponível para isso. Eu vou ser candidato ao Senado pelo meu Estado. Acho que tenho que cumprir o meu papel no Piauí. Tudo o que eu falava, estavam desvirtuando porque (diziam) que eu queria ser vice. Para encerrar essa situação, eu já comuniquei ao presidente que vou ser candidato ao Senado. O meu foco é esse.
No passado, o sr. chegou a chamar o ex-presidente Jair Bolsonaro de “fascista e preconceituoso” e foi aliado do presidente Lula e de Dilma Rousseff. A aliança com o PT pode se repetir em algum momento, mesmo que em âmbito regional?
Não tem como. Eu não conhecia o presidente Bolsonaro. Conheci o deputado Bolsonaro e tinha minhas reservas. Mas o presidente é um homem pelo qual me apaixonei por seu trabalho, pelo que ele defende e representa. Com certeza eu não estarei, até o último dia da minha vida, com a esquerda no nosso País porque vejo o mal que ela está fazendo ao mundo. Eu não acredito, não tenho identidade e não tem por que estarmos juntos. Tenho todo o respeito pelo presidente Lula, sei que ele tem respeito por mim, mas temos divergências sobre como conduzir o País. Eu não vou trair o presidente Bolsonaro.
O PP e o União Brasil, que formam uma federação, decidiram romper com o governo Lula e entregar os cargos. Mas, na prática, há filiados dos dois partidos no primeiro escalão. No PP, por exemplo, André Fufuca continua ministro do Esporte. A decisão de deixar o governo foi precipitada?
Não. Acho que até demorou a acontecer. Foi uma decisão correta porque a totalidade das nossas bases e quase 100% da nossa bancada não querem estar com esse governo. Então, não tinha por que nós permanecermos. Agora, é uma decisão pessoal do Fufuca. Por isso, ele perdeu a vice-presidência do partido, perdeu o comando do partido no Maranhão. Todas as sanções possíveis nós tomamos. Ele que siga o caminho dele. Nós seguiremos o nosso.
Há outros filiados e indicados do partido que também estão no governo…
Quem?
Por exemplo, tinha aquele seu aliado na Caixa Econômica, que foi demitido.
Pelo amor de Deus, gente. Esse cara (José Trabulo Júnior) era consultor (da presidência) da Caixa, não foi indicado por mim. Perdeu o cargo por ser uma pessoa que eu conheço, tenho relação. Mas quem perdeu foi a Caixa, que perdeu um grande consultor. Isso não é cargo político.
Mas a própria presidência da Caixa é uma indicação do deputado Arthur Lira, do PP.
Foi indicação do deputado Arthur Lira. Mas ele (Carlos Vieira, presidente da Caixa) não é filiado ao nosso partido. Não tem nada a ver com o partido.
O presidente Lula está prestes a fazer uma indicação para ministro do STF e já admitiu sua preferência pelo advogado-geral da União, Jorge Messias. O sr. vota nele?
Eu não vou agir por hipótese. Eu acho que é um direito do presidente indicar. Se esse nome que você citou, ou qualquer outro, cumprir os requisitos para ser nomeado, não tenho problema nenhum em votar favoravelmente.
É que uma ala do Senado quer Rodrigo Pacheco no STF…
Seria um grande ministro. É uma pessoa muito respeitada, mas o direito de escolha é do presidente da República.
O ex-presidente Bolsonaro tem articulado candidaturas ao Senado, apesar de estar em prisão domiciliar. Ele considera a estratégia prioritária para ter maioria na Casa e aprovar o impeachment de ministros do STF. O sr. é a favor desse impedimento de ministros?
Eu acho que isso não deve ser bandeira política. Eu mesmo não assinei o impeachment do ministro Alexandre (de Moraes). Mas acho que tem de haver uma mudança de postura do próprio Supremo.
Em que sentido?
Há muito protagonismo, muita exposição. Acho que o Supremo tem que dar um passo atrás. Os ministros precisam voltar a falar nos autos apenas, porque senão nós vamos para uma eleição de senador na qual a pauta vai ser se você aprova ou não o impeachment de ministro do Supremo. Eu acho isso aí a menor das atribuições de um senador.
Esse assunto vai dominar a campanha eleitoral?
Se não houver esse passo atrás, não tenho dúvida de que vai ser a pauta da eleição ao Senado, no próximo ano.
O relatório inicial apresentado pelo deputado Guilherme Derrite ao projeto de lei antifacção, enviado pelo governo, retirou atribuições da Polícia Federal e ele teve de voltar atrás várias vezes. O que esses recuos significaram para o campo da direita?
Acho que todo relatório tem que ser aprimorado de acordo com as conversas, até se construir a maioria. Tenho certeza de que o relatório do Derrite vai expressar o desejo da maioria e da população. Está se procurando agora cabelo em ovo nesse relatório. Mas o que importa mesmo é nós sancionarmos todos esses bandidos e comandantes de facções de forma exemplar.
Mas as quatro versões do relatório de Derrite não contemplaram nem o governo nem o PL, partido de Bolsonaro…
Acho que ele tem que contemplar a população que está sofrendo e se sentindo desprotegida. Eu acho que ele não tem que fazer relatório para contemplar nem PL nem governo.
O sr. é favorável a equiparar facções criminosas a organizações terroristas?
Eu sou. Acho que essas facções têm aterrorizado o nosso País. Mas isso é uma coisa só de simbologia. O que eu quero mesmo é que esses chefes de facções fiquem o resto da vida encarcerados e longe da sociedade. Queremos mecanismos para que eles não comandem essas facções de dentro das penitenciárias, como hoje ocorre. Isso é que é o mais importante.
O governo Lula interpretou a tentativa da oposição de mudar a competência da Polícia Federal como uma nova PEC da Blindagem. Parlamentares do PT chegaram a dizer que o sr. tinha interesse nessa blindagem porque um ex-assessor seu foi alvo da Operação Carbono Oculto 86. Como o sr. responde?
Isso é uma piada até porque essa pessoa (Victor Linhares) já foi alvo (de uma operação da Polícia Federal que investiga lavagem de dinheiro envolvendo o PCC e postos de combustíveis no Piauí). Então, o que é que uma lei, que ainda vai ser sancionada… Isso é uma cretinice, uma molecagem que eu não tenho nem palavras para responder.
Pesquisas feitas pela Genial/Quaest indicaram que a avaliação do presidente Lula deixou de melhorar. Mas, embora sua vantagem sobre adversários tenha diminuído, ele ainda é favorito para as eleições de 2026. Os conservadores estão perdidos?
Ele é favorito porque está sozinho. Se eu vou ao Maracanã e só tem um time de futebol em campo, esse é o favorito. Agora, quando entrar o outro…
Mas ele está sozinho porque a direita não consegue se organizar…
Na hora em que entrar um outro time com melhores jogadores, com a torcida mais empolgada, tenho certeza de que esse time vira favorito. Eu digo sempre: o presidente Lula é um avião que está voando sozinho. Mas é um avião que voa baixo, tem teto e pouca autonomia de voo. O candidato à reeleição sempre parte na frente e tem uma competitividade muito grande, principalmente um homem como o presidente Lula. Mas, pelos números, ele tem mais rejeição do que aprovação. Então, é um candidato que tem toda a chance de perder a eleição, se nós nos organizarmos. Se a direita se organizar com o centro, se torna favorita.
Mesmo se Bolsonaro estiver preso na Papuda?
Eu acho que, se essa prisão acontecer, o sentimento de injustiça e o apoio ao centro e à direita vão aumentar ainda mais. Espero que não aconteça.
A maioria da população aprovou a operação policial contra o Comando Vermelho, no Rio, de acordo com levantamentos divulgados. O presidente Lula, por sua vez, disse que houve ali uma matança. Qual é sua avaliação?
O Brasil vai dever muito, eternamente, a esse gesto do governador Cláudio Castro porque, desde quando houve essa operação, o País passou a discutir o maior problema para a população, que é o da segurança. Foi uma virada de página.
A CPI do INSS tem mostrado que há muitos culpados pelos descontos ilegais de aposentados, tanto no governo Lula como no de Bolsonaro. Apesar das prisões efetuadas, há um sentimento generalizado de que essa CPI terminará em pizza, como outras recentes. Há esse risco?
Essa CPI tem desvendado uma série de crimes absurdos. Espero que não termine em pizza porque seria uma desmoralização para o Congresso.
